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Aberto o mundo maravilhoso das compras. Vai nessa?

em Manchete Principal
sexta-feira, 23 de junho de 2023

Evite a sedução dos números das franquias. Há muitas ofertas, mas 100% de garantia de êxito não existe.

Da Redação

Com faturamento de R$ 211 bilhões em 2022 e projeção de crescer até 12% neste ano, o setor de franquias anda animado no Brasil. Por isso a organização da ABF EXPO espera público superior a 60 mil pessoas, visitando 400 estandes, entre os dias 28 próximo e 1º de julho, neste que é considerado o maior evento do setor no mundo. Mas atenção você que está chegando agora ou que pretende fazer parte deste time. Não se deixe levar só pela exuberância dos números, pois o setor tem lá os seus “pecadinhos”. Empresas & Negócios ouviu dois dos maiores especialistas em franquias para alertar franqueados e franqueadores e traz orientações e dicas preciosas. Confira.

Realizada pela Associação Brasileira de Franchising, a ABF EXPO 2023 terá sua 30ª edição. O local é o Expo Center Norte, em São Paulo, que tem um espaço equivalente a nove campos de futebol. Portanto, se você não domina o meio de campo como De Bruyne, Modric ou Neymar e tem certeza que manja menos que o Messi, ajuste o foco. “Antes de você chegar ao evento, como potencial comprador, saiba exatamente os segmentos que são prioritários para você. E, também, aqueles que não te servem, por gosto ou falta de vocação mesmo”, ensina a advogada e consultora Melitha Prado, que acompanha o mercado e a ABF desde sua criação.

“Não é porque o estande é bonito que o produto é bom e que a coisa vai dar certo”, diz Fábio Guerra, vendedor há 20 anos e focado em franquias nos últimos 10, como CEO da Guerra Expansão de Negócios. “Franquia é mais pesquisa que compra”, diz ele, também atuando em mentorias. Para o executivo, que fez 25 feiras em 2019, na pré-pandemia (movimentando o total R$ 10 milhões), é importante os dois lados – franqueador e franqueado – estarem atentos. “Recomendo ao franqueado pesquisar muito. Quando encontrar algo que lhe agrade e tiver três marcas disponíveis, por exemplo, visite as três sem pressa”, pontua Guerra, dando uma dica preciosa para o outro lado. “O franqueador precisa estar atento àquela pessoa que passa ´só pra dar uma olhadinha`, porque pode ser alguém que vá te dar muito trabalho e no fim não compra nada”.

Imagem: Funtap_CANVA

CONSCIÊNCIA

A primeira coisa que o (a) interessado (a) deve fazer é saber exatamente o que é uma franquia. “É preciso conhecer um pouco dos mecanismos de negociação, saber que franquia também é gestão de pessoas, refletir se tem habilidade para aquele segmento, além da convicção de que não há curso/treinamento que supere a falta de talento para determinada atividade”, alerta Melitha Prado, autora de três livros sobre franchising – sendo o último lançado em março último, de nome “Franchising Consciente”, em parceria com Márcia Pires –, instrutora de cursos (na ABF) e assessora jurídica de vários franqueadores. Assim como o franqueador, os interessados (franqueados) devem fazer o próprio processo seletivo antes de optar por um segmento e marca – reitera.    

De acordo com Fábio Guerra, existem três perfis básicos do franqueado:

1 – O Empreendedor, que nunca teve um negócio, e normalmente procura uma micro franquia (abaixo de R$ 100 mil). Este precisa desenvolver competências;

2 – O Empresário, profissional já com experiência no mercado, e que pode potencializar o negócio;

3 – O Multifranqueado que também é empresário e conhece o franchising.

Depois de observar que o primeiro perfil é o que mais aparece neste período pós-pandemia, ele orienta os neófitos a participar de eventos como palestras e workshops para ir conhecendo características de uma franquia, bem como do negócio em si. Exemplo: uma franquia de alimentos, formato delivery, faz todo sentido para uma cidade grande, com muito trânsito diariamente, mas pode não servir para um local menor, mais pacato.

Melitha Prado

REALIDADE

Para os participantes deste grande setor da economia há que se orientar para o que Melitha Prado chama de “Contrato Realidade”, uma situação que não está escrita em lugar nenhum mas que no dia a dia pode surpreender. A título de ilustração, considere que um franqueado adere a determinada franquia e, num curto tempo depois, se arrepende e quer o dinheiro de volta. Negativo. Vão pra justiça. “Cerca de 90% dos rompimentos são judicializados hoje em dia”, garante. Outra situação: o franqueado começa o negócio e, por algum motivo, mergulha no mundo das drogas; ou, ainda, o local escolhido sofre assaltos sequenciais… Em ambos os casos é previsível que a franquia não vai dar certo.

Bê-á-bá do franqueado

Compilamos dicas e orientações para o (a) empresário (a) que pretende adquirir uma franquia.

  • Tenha foco: saiba quais os setores que te interessam (priorize três, por exemplo) e aqueles que você descarta logo.
  • Planeje-se antes de ir à feira. Saiba quais marcas estarão em exposição. Defina, a priori, quantos dos 400 estandes você pretende visitar.
  • Feira é lugar de networking também. Converse com franqueados e franqueadores antes de se decidir por uma unidade.
  • Esteja pronto (a) a responder perguntas sobre o que você procura, quanto de dinheiro tem para investir etc.
  • Ofertas de financiamentos devem ser vistas sempre com muita cautela, especialmente neste período em que a taxa de juros anda nas nuvens.
  • Anote, fotografe, não confie tudo à memória, pois você pode refletir mais tempo sobre o que viu. Não se sinta obrigado (a) a comprar nada. Esta não é a única oportunidade.
  • Há franquias que não te exigem tempo integral e você não precisa largar seu trabalho atual, mas… saiba que a gestão do negócio será sua.  
  • Procure conversar com franqueados da mesma marca, especialmente em situação de repasse.

Quanto custa?

Entendidas as premissas de uma franquia é hora de olhar para o bolso e saber quanto você tem para investir. Não sem antes calcular a taxa de retorno do investimento. “A média varia entre 24 e 36 meses, mas em alguns casos – como ótica, pet shop e fast food gourmet – pode girar entre 15 e 18 meses”, avalia Fábio Guerra.

A depender do segmento, do modelo (que implicará em tamanho de loja e equipe) e da marca haverá variações quanto ao investimento, mas saiba que é possível entrar nesse negócio com menos de R$ 10 mil de taxa, ou acima de R$ 750 mil de investimento. Em meio às 400 que estarão disponíveis na ABF EXPO 2023 surgirão alternativas para todos os bolsos mas a título de exemplo vamos listar algumas:

  • Mercadão dos Óculos – Investimento de R$ 190 mil e taxa de franquia de R$ 55 mil. Indicada para cidades acima de 30 mil habitantes.
  • Emporium da Beleza (clínica de estética e de emagrecimento) – Investimentro a partir de R$ 311 mil e taxa de franquia a partir de R$ 59 mil. Oferece três formatos (tamanho).
  • Maislaser (depilação a laser e rejuvenescimento) – Investimento de R$ 450 mil e taxa de R$ 90 mil.
  • Love Gifts (presentes e decorações) – Investimento de R$ 119 mil e taxa de 5% (royalties) sobre faturamento bruto.
  • Maria Gasolina (minimercado em condomínios) – Investimentos de R$ 35 mil, mais taxa de R$ 12 mil, no modelo Quiosque, ou modelo Express no valor de R$ 48 mil de investimento e R$ 24 mil de taxa de franquia.

Entre os expositores, cerca de 25% das marcas estão expondo pela primeira vez, como as Unhas Cariocas, Espaço Make e Escova Express.

Desempenho do Setor

O setor de franquias (ou franchising, como também se usa) no Brasil tem boa performance no período pós-pandemia. Veja alguns números:

  • Faturamento de R$ 185 bilhões em 2021
  • Faturamento de R$ 211,4 bilhões em 2022
  • Projeção de crescimento (em faturamento) de 9,5% a 12% para este ano, sobre 2022
  • 1T23 (primeiro Trimestre de 2023) teve mais 10,6 mil franquias abertas sobre igual período do ano passado
  • Encerramento do 1T23 com 184 mil operações
  • Faturamento 1T23 de R$ 50,8 BI, representando +17,2 % sobre 1T22
  • Segmentos com melhor desempenho do 1T23: casa e construção; limpeza e conservação; alimentação
  • Lojas de rua representam 52% das operações no país atualmente
  • Durante 2022 houve crescimento de 5% de novas operações contra 2,6% de encerramentos. Repasses de lojas foi de 1% sobre o total