A crise de saúde que estamos enfrentando mudou tudo ao nosso redor, causando um impacto social e econômico que terá consequências difíceis de prever. Sem dúvida, esse é o momento de enfrentarmos essas mudanças e nos prepararmos para o trabalho que vem pela frente. Essa crise não apenas confirma que a forma como usamos a tecnologia mudará para sempre, mas, também, que a transformação digital da economia se dará a um ritmo acelerado, gerando uma sociedade hiperconectada.
Fernando Garcia (*)
Como essa aceleração se manifesta? – Analiso a transformação digital a partir dos 5 Ds, os cinco vetores de transformação: a descentralização da população, a distribuição do entretenimento, o deslocamento do trabalho, da educação e da saúde, a deslocalização da cadeia de suprimentos e a descarbonização da economia. A crise atual está fazendo com que cada um deles se desenvolva em frente aos nossos olhos, em tempo real.
Descentralização da população – Em razão da crise, os governos tiveram que assumir e acelerar a implementação de serviços digitais, como o e-government e os serviços públicos digitais. A necessidade de maior capacidade em seus portais faz com que diversos governos estejam trabalhando na aprovação da ampliação do espectro radioelétrico, o que, por sua vez, favorece a aceleração da implementação das redes 5G.
Vale lembrar que parte do conceito de cidade inteligente é manter os cidadãos em segurança. Podemos aproveitar algumas tecnologias inteligentes para ajudar com o distanciamento social. Temos as câmeras de vigilância urbana com as CCTVs e as de reconhecimento facial; medidas de geolocalização para rastrear veículos e telefones; entregas em domicílio utilizando robôs e drones, e o desenvolvimento de inúmeros serviços sem pilotos, ou autônomos.
Distribuição de entretenimento – A forma de entretenimento mudou para sempre; consumimos grandes quantidades de streaming de vídeo, participamos em jogos com múltiplos jogadores e assistimos a concertos virtuais. Todas essas plataformas submetem as redes de comunicações a uma grande quantidade de stress, como mostra o fato de tanto a Netflix quanto o YouTube terem rebaixado a definição dos seus streamings pois as redes estavam saturadas na Europa.
Assistimos também a uma mudança fundamental no entretenimento com o foco cada vez maior de sistemas de realidade aumentada e virtual – através dos quais poderemos viajar, visitar museus ou participar de eventos a partir da nossa casa, com sistemas de RV/RA imersivos.
Deslocamento do trabalho, educação e saúde – Tivemos que configurar escritórios em nossas casas e negociar a velocidade de nossas redes wireless porque todos nós, assim como nossos filhos, precisamos de largura de banda para poder participar de reuniões virtuais e aulas virtuais. Esse deslocamento, forçado pelo confinamento, mudará para sempre a forma como nos relacionaremos a partir de agora.
A saúde é um aspecto fundamental em nossas vidas. Apesar da telemedicina já ser conhecida, neste momento ela está tendo um protagonismo. Consultas on-line, autosserviços de saúde e diagnósticos são o nosso presente.
Deslocalização da cadeia de suprimentos – Começamos a ver como as fábricas digitalmente avançadas (as chamadas Smart Factories, ou Fábricas Inteligentes) estão adotando a automação de processos para reduzir o número de pessoas que trabalham na fábrica. Da mesma forma, as empresas estão aproveitando os benefícios de contar com diversas alternativas de fornecedores de peças e serviços ao invés de depender de uma só fonte de suprimento.
Isso impulsionou, por exemplo, a impressão em 3D para realizar uma diferenciação ou customização tardia do produto, ou fabricar praticamente qualquer coisa. Outra das consequências dessa crise foi a aceleração das diferentes plataformas de entrega em domicílio, com a disseminação de veículos autônomos ou drones.
Descarbonização da economia – Por fim, é patente a necessidade de descobrir como estas tecnologias ajudam a descarbonização da economia, desenvolvendo estratégias de sustentabilidade ambiental buscando reduzir a pegada de carbono. Essa tendência tem sido chamada de New Green Deal.
As redes de telecomunicações e os grandes data centers consomem enormes quantidades de eletricidade, a ponto de terem uma pegada de carbono maior do que a indústria de transporte aéreo. Vamos ver como as operadoras de telecomunicações e os grandes players de Internet buscam cada vez mais o uso de energias renováveis, a eficiência energética e a otimização dos recursos naturais.
O futuro é o nosso presente – Essa aceleração da transformação digital representa um desafio fundamental para as infraestruturas de missão crítica como os data centers e o edge computing. O próximo ano será voltado para a velocidade, a escalabilidade e a complexidade, tanto no core (data centers maiores), quanto no edge (infraestrutura periférica).
Será imprescindível implantar novos sites em tempo recorde, implementar e utilizar ferramentas para o gerenciamento e o monitoramento remotos e on-line dos processos, bem como administrar e despachar os técnicos de forma remota. Tudo isso aumentará a complexidade da gestão da infraestrutura. Nesse contexto, segundo o modelo 5R da empresa de consultoria McKinsey & Company, teremos que:
Resolver: Medidas de curto prazo. Lidar em tempo real com os desafios trazidos por esse vírus e encontrar formas de proteger os colaboradores, clientes e processos produtivos dos quais dependemos.
Reforçar: O fluxo de caixa do negócio. Reforçar as medidas que permitem a uma empresa sobreviver a tudo isto. Temos que fortalecer a saúde financeira, precisamos construir resiliência durante essas paradas forçadas.
Recuperar: Temos que criar um plano detalhado que nos permita rapidamente escalar e recuperar o negócio conforme as condições, o contexto e a conjuntura econômica melhorem.
Reinventar: Repensarmos como viveremos este ‘novo normal’. Não vamos voltar ao que tínhamos. Teremos que nos reinventar, visualizando quais serão as mudanças que estamos vivendo hoje e que se tornarão permanentes.
Reformar: O contexto legal, regulatório, mudará muito em nossa indústria. Teremos que nos preparar e nos adaptar a eles no médio e longo prazo.
Se a última década se caracterizou pelo uso de recursos compartilhados, pela migração para o cloud público ou privado e pelo que alguns chamam de a “uberização” da economia, a próxima década será testemunha de um movimento na direção oposta, para o edge da rede.
Para fazer frente à atual situação econômica, será imprescindível que a economia acelere sua transformação rumo a um mundo digital e hiperconectado. Isso é uma realidade. Confie em parceiros fortes, que entendam esses desafios e tenham os recursos para ajudar sua empresa a dar os passos necessários para ser competitiva na nova economia.
(*) – É vice-presidente e gerente geral da Vertiv América Latina (www.vertiv.com).