Vitor Torres (*)
O que você quer ser quando crescer? Uma pergunta difícil de responder em qualquer fase da vida e que nos rodeia desde cedo, na infância.
Assim como muitas crianças brasileiras, no passado eu também fui questionado por meus pais sobre o futuro. Lembro bem que a minha resposta foi, no mínimo, curiosa para a época: aventureiro. Naquele momento, eu não tinha dimensão nenhuma do que me aguardava e nem certeza do que tinha afirmado. Não era explícito ou consciente, nem sabia direito o que significava essa palavra, mas já era um indício do que eu esperava no horizonte.
De certa forma, graças a uma intuição prematura, estava trilhando o início da minha jornada empreendedora. Somente após muito tempo entendi o que simbolizava embarcar em uma aventura: estar aberto ao novo, aproveitar as oportunidades, antever os desafios e lidar com os imprevistos que uma hora ou outra apareceriam no meio do percurso. No fim, tudo isso eram atributos imprescindíveis ao empreendedorismo, uma atividade que a cada dia cresce mais no país.
Por exemplo, segundo levantamento do Sebrae, o país saiu da 13ª colocação no ranking de empreendedorismo mundial e assumiu a 7ª posição, com 43 milhões de empreendedores. Em 2021, 14 milhões de pessoas de 18 a 64 anos, ou 9,9% da população adulta, lideravam empresas com mais de 3,5 anos. O percentual representa uma alta de 1,2 ponto percentual em relação a 2020. Ou seja, apesar da crise sanitária mundial, do cenário macro e microeconômico, as pessoas estão colocando suas ideias em prática e abrindo seus negócios.
No entanto, temos como cenário adverso o encerramento de outras companhias. Mais de 1,4 milhão de empresas fecharam em 2021, um aumento de 34,6% se comparado ao ano de 2020. Frente a este panorama, o que fazer para diminuir a taxa de fechamento de empresas? Não existe uma fórmula mágica, mas o primeiro passo essencial é recalibrar o olhar para o mercado e entendê-lo não apenas antes, mas durante e após a abertura do CNPJ. Os empreendedores precisam saber como funciona seu nicho de atuação e de que forma seu produto ou serviço resolvem as dores nesse contexto.
Escolher um produto ou serviço inovador também pode aumentar o sucesso do candidato a empreendedor, porém não é garantia. Afinal, quem deseja empreender, tem que planejar e ajustar a rota quantas vezes forem necessárias. Conhecer a demanda e alinhar a solução oferecida ao consumidor proporcionará sobrevida ao negócio em momentos de crise. Aliás, essa solução inovadora não está atrelada somente à tecnologia ou criação de algo novo, mas em propósito, gestão e melhoria contínua.
Hoje em dia é fundamental pensar nos valores e na missão que regem o negócio. A novidade é importante, contudo os pilares são essenciais para o crescimento sustentável e perene. Então, vale ter em mente algumas competências que são inerentes ao empreendedorismo e importantes para desenvolver um perfil empreendedor:
• Gostar de desafios e atingir o potencial máximo;
• Tornar-se resiliente e ajustar-se frente aos obstáculos;
• Não ter medo de assumir riscos inesperados ou calculados;
• Ser criativo, visionário e gerar soluções diferenciadas;
• Manter alto o senso de oportunidade e o radar para ameaças;
• Posicionar-se com responsabilidade em todas as situações.
O empreendedorismo brasileiro tem avançado e abrir uma empresa hoje está mais simples do que há uma década. Focando no prisma positivo: existem muitas oportunidades e não há mais obrigação de enfrentar uma burocracia sem fim, uma vez que já estão disponíveis inúmeras alternativas para simplificar essa trajetória. Este movimento é transformacional.
Agora, mais maduro e experiente após desbravar diversos caminhos desconhecidos, repito a pergunta a quem pretende abrir o próprio negócio: o que você quer ser quando crescer? Independentemente da resposta, antecipe-se e prepare-se para o inesperado que virá pela frente, assim você terá a segurança de estar pronto quando chegar a hora.
(*) – É CEO e fundador da Contabilizei, maior escritório de contabilidade do país.