“O governo brasileiro deveria primeiro entender qual o impacto real que isso vai ter na inflação, no consumo e, naturalmente, nas exportações brasileiras, para então ser mais assertivo e mais inteligente na negociação com os Estados Unidos”
As Tarifas de Trump ao Brasil irão piorar o cenário econômico interno?
“O governo brasileiro deveria primeiro entender qual o impacto real que isso vai ter na inflação, no consumo e, naturalmente, nas exportações brasileiras, para então ser mais assertivo e mais inteligente na negociação com os Estados Unidos”
O recente anúncio de Donald Trump sobre a imposição de tarifas de 10% sobre produtos brasileiros gerou reações mistas no mercado em relação ao Brasil. Embora a medida tenha sido recebida como uma má notícia, ela não é considerada catastrófica para o Brasil, como muitos esperavam, já que o país conseguiu se manter no piso das tarifas, em grande parte devido à balança comercial positiva que o país mantém com os EUA. Por um lado, a aplicação dessa tarifa aumentará o custo dos produtos brasileiros no mercado americano, tornando-os 10% mais caros, o que pode resultar em uma diminuição do consumo de produtos brasileiros pelos americanos, o que afetaria diretamente a entrada de dólares no país. Segundo Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital, “De todo modo, deve haver sim algum nível de queda de consumo dos americanos por produtos brasileiros, dado que eles ficam menos competitivos”.
O impacto dessa mudança será especialmente sentido em setores-chave da economia brasileira, como o setor de hidrogênio e alumínio, que já haviam sido atingidos por tarifas anteriores. Segundo Vasconcellos, “essa tarifa nova vai se sobrepor às que já haviam sido anunciadas antes”, o que pode agravar a situação. Além disso, o Brasil também enfrentará dificuldades no mercado de produtos manufaturados, já que os Estados Unidos são os maiores compradores desses produtos. “Apesar dos Estados Unidos serem nosso segundo maior parceiro comercial, ele é o primeiro na importação de produtos manufaturados”, observa, indicando que a dificuldade em direcionar esses produtos para outros mercados pode gerar um problema maior para a economia nacional.
Apesar de o Brasil ser um dos países menos afetados pelas tarifas de 10% anunciadas por Donald Trump, ainda há riscos para a economia brasileira, principalmente em relação à inflação. Com a alta do dólar provocada pela imposição dessas tarifas, o preço dos produtos importados tende a aumentar, o que impacta diretamente a cadeia de suprimentos global e, consequentemente, o bolso do consumidor brasileiro. Produtos e insumos que o Brasil importa de outros países se tornam mais caros, o que pode elevar os preços de itens essenciais, como alimentos e combustíveis. Esse aumento no custo de vida pode resultar em uma inflação mais alta, o que afeta principalmente as classes mais baixas e a classe média, que são mais sensíveis às mudanças de preço.
No entanto, nem tudo está perdido. Já que o Brasil conseguiu evitar tarifas mais altas, o que abre uma possibilidade para a reconfiguração da produção em outros países. Vasconcellos menciona que, “dado que no relativo o Brasil ficou com tarifas menores do que outros países, é possível que alguns dos produtos brasileiros, em particular as commodities, possam ser melhor acomodados, o que pode atenuar o impacto.” Além disso, há uma chance de que alguns países, como a China, possam mudar sua produção para o Brasil, similar ao que aconteceu com o México em relação às tarifas americanas. Ainda assim, o cenário exige cautela. “O governo brasileiro deveria primeiro entender qual o impacto real que isso vai ter na inflação, no consumo e, naturalmente, nas exportações brasileiras, para então ser mais assertivo, mais inteligente na negociação com os Estados Unidos”, sugere o especialista. Qualquer resposta precipitada pode resultar em mais prejuízos do que benefícios, e o Brasil precisa se preparar para os possíveis desdobramentos dessa medida.
