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Velho Chico: rio percorre a cultura, a história e a economia do país

em Especial
sexta-feira, 04 de junho de 2021

Com 168 afluentes, o Rio São Francisco é o maior rio inteiramente brasileiro. Ele percorre 2.863 km passando por seis estados: Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal. Dezoito milhões de brasileiros dependem de suas águas. Para chamar atenção para os problemas enfrentados pelo rio e sua bacia, a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” chega ao 7º ano.

As carrancas, que são esculturas com figuras assombrosas, eram usadas nas embarcações para espantar as “feras” do rio e os perigos da travessia. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, formado por representantes da sociedade civil e do governo, instituiu o dia 3 de junho como Dia Nacional de mobilização em Defesa do Rio São Francisco.

O escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Aurélio de Lacerda, destaca que o Velho Chico não é só o rio da integração nacional, mas enxerga poesia e vê o recurso como uma personagem brasileira. “É uma personagem, e, como personagem tratada na literatura, na literatura de cordel, nos causos, nos contos, nos enredos, nas cantigas, nas cantorias, essa personagem conta seus dramas, conta também as suas festas, o seu progresso”.

Imaginem as histórias e lendas contadas pelos 70 mil índios, de 32 povos, que habitam a Bacia do Velho Chico? E pelos quilombolas, ribeirinhos, barranqueiros e pescadores. Além de toda essa diversidade cultural, o Rio São Francisco é um grande impulsionador da economia dos municípios situados ao longo de seu percurso, segundo a pesquisadora da Embrapa, Maria Auxiliadora Lima.

O transporte de cargas, a produção de energia elétrica, a piscicultura e o turismo estão entre os potenciais do rio. Mas, para a especialista, a atividade agrícola é o carro-chefe do Velho Chico, com destaque para a agricultura irrigada: são mais de 150 mil hectares irrigados pelo rio. “Essa agricultura irrigada representa um elemento fundamental para a economia, o principal gerador de renda e desenvolvimento para as comunidades, para a região, para os municípios no entorno dessas áreas irrigadas e tem trazido benefícios sociais importantes”.

O desenvolvimento implementado na região precisa vir acompanhado de práticas sustentáveis, destaca o coordenador da Articulação no Semiárido Brasileiro (Asa Brasil), Cícero Félix. Para ele, a destruição dos biomas do cerrado e caatinga para implantação da mineração e grandes áreas de cultivo para exportação, bem como a poluição, são as grandes responsáveis pela degradação da bacia do São Francisco.

O especialista explica que a conservação das nascentes e a destinação de orçamento para saneamento ambiental são necessárias para a preservação do rio.

“Conservação dos bens naturais que ainda existem, cobertura vegetal de solos, de proteção da flora e da fauna, das nascentes dos pequenos rios, dos pequenos riachos, e orçamento para saneamento ambiental da bacia do São Francisco” (ABr).