Treino combinado atenua obesidade
A combinação de treinamento com pesos e treinamento aeróbio, conhecido como treinamento combinado ou treinamento concorrente (TC), pode ser uma boa alternativa para adolescentes com excesso de peso
Na infância e na adolescência, a obesidade já é considerada fator de risco para várias doenças. |
Isabel Gardenal/Jornal da Unicamp
Foi o que apontou estudo de doutorado de Wendell Arthur Lopes defendido na Faculdade de Educação Física (FEF). Doze semanas de treinamento, sem intervenção nutricional, ajudaram a reduzir a gordura corporal, aumentar a massa livre de gordura e melhorar a resistência à insulina e o estado inflamatório crônico de baixo grau. O trabalho, orientado pela docente da FEF, Cláudia Regina Cavaglieri, foi feito com um público feminino: 48 adolescentes que estudavam no Colégio da Polícia Militar (CPM), uma escola pública de Curitiba. A iniciativa envolveu parceria entre a FEF da Unicamp e o Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo o pesquisador, a inclusão do treinamento de força no treinamento aeróbio tradicional é uma estratégia interessante para adolescentes obesas, pois nota-se que elas têm aumentado as adesões a esse tipo de programa. Wendell enfatiza que na pesquisa os ganhos pareceram superiores ao treinamento isolado. “Observamos que acabou motivando mais a população obesa, visto que reduz a monotonia do treinamento aeróbio separadamente, e permite a valorização da força muscular, componente da aptidão física que se mostra preservado nessa população.”
As adolescentes avaliadas foram divididas em três grupos de acordo com o estado nutricional e com participação na intervenção.
O TC consistiu em treinamento de força (com três séries de seis a dez repetições máximas) seguido de treinamento aeróbio (30 minutos de caminhada e corrida), totalizando 60 minutos por dia, três vezes por semana. A ingestão alimentar foi avaliada por meio de recordatório nutricional de 24 horas, e todas essas adolescentes foram orientadas a manter a dieta habitual.
As avaliações efetuadas foram clínica e exame físico; coleta de sangue, avaliação antropométrica e ultrassonografia abdominal; avaliação ergoespirométrica; avaliação da composição corporal; e avaliação da força muscular e nutricional.
Doenças
Wendell Lopes relata que, na infância e na adolescência, a obesidade já é considerada fator de risco para várias doenças e já pode predizer um quadro mais grave em idades mais avançadas”, lamenta o autor. Ele comenta que particularmente o excesso de gordura pode levar a um estado inflamatório caracterizado pelo aumento dos níveis séricos de substâncias pró-inflamatórias. São os casos da interleucina-6, fator de necrose tumoral-alfa, proteína C reativa e redução de substâncias anti-inflamatórias, como adiponectina, que estão associadas ao desenvolvimento de diabetes do tipo II, doenças cardiovasculares e aterosclerose.
Logo, os exercícios aeróbios, explica ele, são valiosos. E devem ser prescritos para diferentes populações e objetivos – também a inclusão do treinamento com pesos para indivíduos com excesso de peso (ou com vistas ao emagrecimento). Ele contribui para o ganho de outros componentes que favorecem a saúde, como a massa livre de gordura; potencializa a redução de gordura corporal; e melhora outros parâmetros, como a resistência à insulina.
Já o uso de dietas restritivas e a cirurgia bariátrica, em geral indicadas para os adultos, são pouco recomendadas para o tratamento da obesidade infanto-juvenil. Desta maneira, revela, o exercício físico certamente vem se impondo como um importante aliado no tratamento da obesidade e da inflamação crônica associada.
Exercícios
Os indivíduos obesos, por serem mais pesados que seus pares não obesos, demonstram menor capacidade de realizar exercícios físicos que requeiram sustentação do peso corporal, como a caminhada e a corrida. Estas atividades têm a sua intensidade aumentada por causa da sobrecarga corporal, em consequência da diminuição do tempo total de exercício.
Tem mais: os obesos apresentam menor aptidão física aeróbia, quando comparados aos não obesos, com menores valores de consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo – quando os processos de absorção, transporte e utilização de oxigênio estão no seu limite fisiológico de trabalho), em termos de massa corporal.
Normalmente, os exercícios físicos que não exigem a sustentação do peso corporal – como o ciclismo e a natação – são bem-tolerados pelos obesos que conseguem manter uma intensidade menor por um maior período de tempo e aumentar o gasto energético total.
De outra via, o treinamento com pesos também tem sido incentivado para indivíduos obesos na infância e na adolescência. Ele não obriga carregar ou movimentar o peso corporal. Além disso, como os adolescentes obesos são mais fortes que seus pares não obesos (em termos absolutos), têm uma maior tolerância a esses exercícios físicos.
Apesar do treinamento com pesos não ser caracterizado por um elevado dispêndio calórico, tem resultado efetivo como componente de programas de intervenção para jovens obesos. Foi por isso também que Wendell Lopes abordou em seu doutorado o valor da inclusão do treinamento com pesos associado ao treinamento aeróbio. “Pesquisas que investigam a efetividade de diferentes intervenções para a redução de peso ou da gordura corporal são valiosas para essa população e para que avance o conhecimento sobre o assunto”, acentua o pesquisador.