‘Sou literalmente apaixonado pelo Brasil’,diz Andrea Bocelli
Um dos nomes mais conhecidos da música italiana, o tenor, compositor e produtor musical Andrea Bocelli vem ao Brasil no mês que vem para uma série de shows do seu álbum “Cinema”, que reúne canções clássicas da sétima arte
Toquinho, Ivete Sangalo e Andrea Bocelli |
Desde maio, os ingressos para a apresentação em São Paulo, no Allianz Parque, dia 12 de outubro, estão esgotados, mesmo sendo vendidos a R$ 500 ou R$ 690 (inteira). A alta procura do público fez a organização do evento abrir datas extras: haverá outro show dia 13, no Allianz, e dia 17, na Sala São Paulo, este último fechado para convidados. Bocelli também passará pelo Santuário Nacional de Aparecida, dia 15 de outubro, em apresentação gratuita, e subirá ao palco no Estádio Atlético Paranaense, em Curitiba, dia 19.
Em entrevista exclusiva à ANSA, o tenor confessou sua admiração pelo Brasil e pela música nacional.
– Os ingressos para os seus shows em outubro já estão praticamente esgotados.
Isso sempre ocorre?
– Bocelli: Tudo é especial no Brasil, há muitos anos sou literalmente apaixonado por sua terra e especialmente por aqueles que vivem aí. É um amor correspondido de uma grande nação onde eu recebo o mesmo calor que poderia encontrar em casa. Não posso esquecer as boas-vindas que os brasileiros sempre me concedem. Recentemente, por exemplo, em Belo Horizonte, milhares acamparam em tendas por muitas horas antes do meu concerto… Diante de tanto afeto, só posso agradecer e tentar dar o melhor de mim no palco.
– O Brasil tem uma grande comunidade italiana. Como você se sente sobre voltar a se apresentar aqui?
– Bocelli: Para mim, estar no Brasil não significa estar no exterior. Eu amo este caldeirão de etnias que constitui uma população tão emocionalmente e culturalmente rica, alegre e apaixonada. Quanto à comunidade italiana no Brasil, em número significativo, ela soube preservar esses valores em razão dos quais tenho orgulho de ser italiano.
– Qual é a principal característica e público-alvo do álbum “Cinema”? .
– Bocelli: É uma área que sempre me intriga: as partituras concebidas para os filmes são muito livres e potencialmente muito criativas… Um vasto campo onde o compositor pode criar como lhe convém, de acordo com a sua inspiração, experimentando coisas novas e não necessariamente sujeitas aos esquemas da música clássica (construída na sequência tradicional de duas estrofes, um coro, uma estrofe, um coro), ou com uma mensagem específica, do tipo religiosa ou romântica.
O que, aparentemente, poderia ser um limite – a fisionomia de uma música que sonoriza a imagem – , é transformado em um desafio formidável, que estimula o gênio compositor gerando um vasto conjunto de melodias maravilhosas, de potente originalidade. Para comprovar isso, temos quase um século de obras-primas concebidas para a sétima arte: música aplicada, mas capaz de se libertar, obter as suas asas e brilhar por conta própria.
Eu não acho que há público-alvo definido para este álbum: são músicas que têm atravessado gerações, são clássicos imortais que pudemos resgatar e homenagear graças às mais avançadas técnicas de gravação (que tornam o áudio incomparavelmente mais penetrante e envolvente) e novas orquestrações.
– Como surgiu a ideia de trabalhar apenas com trilhas sonoras de filmes clássicos?
– Bocelli: Com o álbum “Cinema”, eu realizei um desejo que me acompanhou durante décadas: nunca foi segredo este meu sonho de criar um projeto de trilha sonora. Eu acho que é um terreno fértil e primordial para os artistas. Por isso, estou muito feliz em gravar um álbum que aborda os maiores sucessos do mundo, escrito por músicos que moldaram a história do século XX: músicas que representam a memória de três quartos de século e que colocam uma paleta de brilhantes e ricos sentimentos.
– Além das músicas que integram “Cinema” você irá apresentar seus grandes clássicos? Qual música não pode faltar em seus concertos? .
– Bocelli: Como sempre apresentei um repertório pop, há uma série de obras-primas operísticas que eu prefiro e que sempre tento disseminar e compartilhar com o público. De qualquer forma, vou propor canções e romances que o público associe aos agudos da minha voz. Eu não quero que ninguém se desaponte.
– Qual a sua opinião sobre a cultura e a música brasileira?
– Bocelli: A cultura brasileira em geral me fascina muito. Eu posso destacar, por exemplo, pela leitura dos seus grandes escritores (muito populares na Europa), que eu sinto uma criatividade explosiva, uma sensibilidade profunda. Quanto à música brasileira, conheci há vinte anos, tocando piano na Toscana… Um músico não pode ignorar a contribuição do Brasil: sua música é um modo de ser, é “vida” na sua forma mais pura.
– Qual seu cantor ou compositor brasileiro favorito?
– Bocelli: Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, João Gilberto, Tom Jobin, Elis Regina … São os primeiros nomes que me vêm à mente, mas não se esgota a lista – que seria muito mais extensa – dos grandes filhos do Brasil que, ao longo dos anos, eu conheci e amei.
Eu trabalhei com Ivete Sangalo… E, naturalmente, Toquinho, outro grande artista que eu sempre amei e com quem tive o prazer de trabalhar em várias ocasiões. Espero poder continuar a esforçar-me para manter este elo entre a minha voz aos grandes artistas brasileiros, porque – como disse antes – eles têm a música nos seus sentidos e o ritmo em suas veias (ANSA).