Pelo terceiro ano seguido, desemprego é a principal causa da inadimplência, mostra levantamento do SPC Brasil e CNDL
Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais revela que pelo terceiro ano consecutivo, o desemprego figura como a principal causa da inadimplência no Brasil
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Dentre os consumidores que possuem contas em atraso, mais de um quarto (26%) culpa a perda do emprego, percentual que sobe para 27% quando considerado somente os indivíduos das classes C, D e E. Em anos anteriores, o desemprego respondia por 33% (2015) e 28% (2016) como principal causa da inadimplência, percentuais que representam estabilidade em relação ao dado deste ano.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados refletem as dificuldades do atual cenário macroeconômico, com perda de dinamismo do mercado de trabalho e renda mais curta. “Mesmo com a economia começando a esboçar um processo de recuperação, o brasileiro ainda não sente no bolso os efeitos práticos desse processo de melhora gradual. Apesar de inflação e juros mais baixos, a atividade econômica ainda não ganhou tração. O desemprego continua elevado e a renda do brasileiro segue deprimida”, explica a economista.
Outros motivos que levaram os brasileiros à situação de inadimplência são a diminuição da renda (14%), falta de controle financeiro (11%) e o empréstimo de nome a terceiros (5%). Um dado que chama a atenção no estudo é que na comparação com 2016 (9%) e 2015 (7%), houve uma queda no percentual de pessoas que apontam o empréstimo de nome a terceiros como causa da inadimplência.
O raio-x da inadimplência no Brasil traçado pelo levantamento mostra que as mulheres são maioria entre os devedores entrevistados: 56% contra 44% dos homens. Quanto a faixa etária, a concentração é mais elevada entre os adultos de 25 a 49 anos, que juntos detém 65% da amostra. E não são apenas as pessoas de mais baixa renda que fazem parte do grupo de brasileiros que possuem contas em atraso: nove em cada dez (93%) inadimplentes entrevistados são das classes C, D e E, mas 7% pertencem às classes A e B. A pesquisa revela que 75% dos inadimplentes possuem, no máximo, o segundo grau completo.
Apenas 20% acreditam que vão pagar toda a dívida nos próximos três meses; renegociação e bico são principais estratégias
O estudo ainda revela que em cada dez consumidores com contas em atraso, cinco (48%) não acreditam que vão conseguir pagar nem ao menos uma parte de suas pendências nos próximos três meses, percentual que é ainda mais elevado entre as mulheres (53%) e indivíduos das classes C, D e E (49%). O cenário é bastante similar ao do segundo semestre do ano passado, quando a falta de condições para pagamento das dívidas era de 46% dos devedores. De acordo com o estudo, o valor médio do total das dívidas do brasileiro é de quase R$ 2.980, mas 43% nem sabem ao certo o quanto devem.
Dentre os 20% que disseram ter a intenção de pagar toda a dívida nos próximos 90 dias e os 26% que pagarão ao menos parte do que devem, o acordo com o credor continua como a primeira opção, com 42% de citações. Outras estratégias devem ser a geração de renda extra por meio de bicos (23%), cortes no orçamento (22%), recebimento de dívidas de terceiros (14%), utilização de recursos dos saques das contas do FGTS (13%) ou uso do décimo terceiro salário (13%).
Cortes no orçamento para pagar dívida atingem vestuário, lazer e alimentação; 16% resistem em economizar em compras supérfluas
Entre os inadimplentes que vão fazer cortes no orçamento e economizar para pagar as dívidas (22%), a maior parte deixará de comprar roupas e calçados (44%), diminuir atividades de lazer (39%) ou cortar gastos com alimentação fora de casa (29%), produtos em supermercados (25%) e salão de beleza (25%). Para 51%, a maior dificuldade para quitar a dívida em atraso é o fato de o valor total da pendência superar em muitas vezes a renda que possui. Há ainda 26% de entrevistados que enfrentam dificuldades para economizar em despesas básicas e 16% que resistem em economizar com itens supérfluos, abandonando velhos hábitos de consumo.
Inadimplente atrasa pagamento de roupas e até compras de supermercado; plano de saúde e condomínio são as mais pagas em dia
Uma constatação do estudo é que a aquisição de produtos em supermercados se posiciona em 2017 como o segundo item que mais originou a inadimplência, responsável por 31% das compras não pagas (cartão de crédito, cartão de lojas, cheque ou crediário). Em primeiro lugar está a compra de roupas, calçados e acessórios com 60% de menções. Completam a lista os eletrônicos (18%), celulares (16%) e eletrodomésticos (14%). Comparando com a população em geral, as mulheres tendem a ficar mais inadimplentes nas compras de peças de vestuário e calçados (64%), enquanto a classe C extrapola os limites do orçamento quando adquirem celulares (16%) e móveis para casa (12%).
De uma forma geral, os compromissos financeiros do inadimplente que mais estão em atraso, mesmo sem ter gerado o nome sujo, são os ligados ao crédito de instituições financeiras ou no comércio, cuja incidência de juros é maior, como cartão de loja (84% entre os que têm essa conta), empréstimo em banco ou financeira (74%), cartão de crédito (74%), cheque especial (72%) e crediário (67%). Em sentido contrário, os compromissos que os inadimplentes mais pagam em dia, são aqueles considerados básicos, como plano de saúde (93% dos que têm esse compromisso), condomínio (89%), aluguel (84%), internet e TV por assinatura (83%) e conta de água e luz (80%).
Querer aproveitar uma promoção leva consumidores à inadimplência; 47% desequilibraram as finanças enquanto viviam problemas emocionais
Por trás de todas essas sérias consequências financeiras que a inadimplência gera, existe um conjunto de comportamentos, sentimentos e impulsos que podem levar o consumidor a atrasar as contas. Dados da pesquisa apontam que quase a metade (47%) dos inadimplentes estava com algum problema emocional que contribuiu para a geração da dívida, sendo a dificuldade para lidar com problemas financeiros (14%), ansiedade (12%), insatisfação no trabalho (9%) e problemas no relacionamento familiar (7%) as causas mais citadas.
Levando em consideração os devedores que admitem o descontrole financeiro ou acesso ao crédito fácil como causa da inadimplência, quase um terço (32%) afirmou que quis aproveitar uma promoção e acabou realizando uma compra sem avaliar o próprio orçamento – percentual que cresce para 46% entre jovens de 18 a 34 anos.
47% dos que não têm controle do orçamento não mudaram atitudes e apenas 18% buscaram ajuda
Entre os entrevistados que alegaram descontrole nas compras e falta de planejamento financeiro, 53% tentaram mudar algo em sua atitude para resolver esses problemas, como anotar as despesas e gastos (27%), diminuir as saídas com amigos gastadores (18%) e até mesmo evitar de sair com o cartão de crédito na carteira (16%). Na contramão desse comportamento, 47% admitiram não ter mudado qualquer conduta, principalmente, por acreditarem que a dívida não é um grande problema para o seu dia a dia (20%) ou que a situação não as incomoda (11%).
Após contrair a dívida, a maioria (82%) desses inadimplentes reconhece não ter procurado ajuda para frear os próprios impulsos, principalmente por acreditarem que conseguem resolver sozinhos essa situação (48%). Apenas 18% procuraram algum tipo de auxílio para colocar as contas em ordem, seja de um amigo (6%) ou um profissional especializado (6%).
Fonte: SPC Brasil/CNDL.