Pecuária brasileira expande-se em direção ao sul
Há dez anos, o crescimento do rebanho bovino nacional tem se deslocado em direção oposta à da região amazônica. Foi o que mostrou estudo da Embrapa Gestão Territorial por meio de dados obtidos pelo IBGE. A pesquisa registra que, a partir de 1974, a atividade pecuária se deslocava pelo País em direção ao noroeste. Esse movimento se manteve até 2006 quando tanto a pecuária de corte como a leiteira iniciou movimento contrário em direção ao sul
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Agência Embrapa de Notícias
A tendência de a pecuária crescer mais em direção ao sul se verificou até nas últimas análises feitas com dados coletados pelo IBGE em 2014. “O estudo mostra que o crescimento do setor aponta para o sul e não mais para noroeste, demonstrando que a pecuária não se desloca mais em função da fronteira agrícola do norte do País”, interpreta o engenheiro-agrônomo Rafael Mingoti, que coordenou o trabalho na Embrapa Gestão Territorial. Para ele, a produção de bovinos tem se direcionado ao mercado consumidor concentrado nas regiões Sul e Sudeste.
Os pesquisadores levantam algumas hipóteses sobre a razão do ponto de inflexão observado em 2006. Um dos motivos para a atividade deixar de crescer em direção ao norte poderia ser a intensificação das ações de fiscalização na fronteira agrícola naquela região desestimulando a abertura de novas áreas por lá para a bovinocultura. Os cientistas querem saber o motivo da relativa diminuição do rebanho bovino na região Norte do País e o de seu aumento na região Sul. Essas análises farão parte da segunda etapa desse trabalho.
“Ainda não temos como afirmar quais são as causas da inflexão ocorrida em 2006, pois ainda não a analisamos. Isso está em nossa previsão de trabalhos próximos. Para isso, iremos organizar um grupo de colaboradores com conhecimentos específicos sobre pecuária em todo o Brasil para obter respostas”, diz Mingoti.
Além de mostrar que há dez anos o crescimento da pecuária não tem avançado mais em direção ao norte do Brasil, o estudo ainda poderá servir de base para muitas outras pesquisas. “A maior contribuição desse trabalho é permitir um serviço de prospecção em que socioeconomistas e especialistas em pecuária leiteira e de corte poderão analisar e prever a direção da atividade econômica”, acredita Mingoti.
Soja em direção ao nordeste
Os especialistas da Embrapa aplicaram a mesma tecnologia para a produção nacional de soja de 1990 a 2012. No caso dessa leguminosa, o estudo registrou um leve deslocamento da cultura em direção ao nordeste a partir do início da década de 2000, tendência que seguiu até a última coleta de dados, em 2012. A razão para esse comportamento da produção de soja é outro tema a ser estudado posteriormente, de acordo com Mingoti.
“Também para essa questão não temos a resposta, a qual deverá ser obtida em estudos futuros com especialistas de soja de diversas regiões do Brasil. De maneira preliminar, suspeitamos que uma das causas esteja relacionada ao aumento crescente da produção agrícola na região do Matopiba,” supõe o especialista. O gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial, Claudio Spadotto, explica que os resultados dessas análises podem ser valiosos para diversas áreas. “Gestores públicos, empresários do agronegócio, fornecedores de insumos e pesquisadores poderão subsidiar suas decisões e estudos com os dados obtidos”, acredita.
Para empresas do agronegócio, o levantamento de tendências pode antecipar demandas e oportunidades de negócios. Do mesmo modo, pode apoiar a programação de pesquisa para desenvolvimento de cultivares para essas novas regiões. Gestores públicos podem usar as informações, por exemplo, para subsidiar planejamento de infraestrutura de transportes para a chegada de insumos e escoamento de produção agropecuária, além de prover estruturas urbanas de moradia, educação, saúde e outras para municípios que tenham previsão de crescimento econômico em razão da agropecuária.
De acordo com os produtores rurais envolvidos, as informações são igualmente úteis. Ao lado de outros dados, os resultados da pesquisa podem aumentar a capacidade de antecipação de necessidades. “Eles poderão prever, por exemplo, a necessidade do desenvolvimento e da adoção de tecnologias nas áreas que serão ocupadas pelas culturas”, ilustra Mingoti.
Metodologia da demografia
A fim de chegar aos resultados, os pesquisadores adaptaram às condições da agropecuária uma metodologia própria da demografia a qual calcula, a cada intervalo de tempo, o centro de massa da população de um país. Para rebanho bovino é encontrado um ponto central médio hipoteticamente equidistante, considerando a distribuição do número de animais em cada município por todo o País. Para soja é feito de maneira similar, levando-se em conta as quantidades produzidas nos municípios.
“De maneira bem simplificada, imagine o território brasileiro como uma plataforma sobre a qual só existam os bovinos, o centro de massa seria o ponto em que o peso de todos eles estaria equilibrado”, explica Mingoti. Ao calcular o ponto de massa em intervalos periódicos, obtém-se um gráfico de deslocamento da produção nacional que indica a direção para a qual a atividade em questão está majoritariamente se deslocando.
A posição geográfica do centro de massa, porém, não diz respeito ao município ou região no qual ele se localiza, alerta Mingoti. “Não é por estar sobre Goiás, por exemplo, que se possa afirmar que esse estado concentra a produção analisada. Esse é um equívoco comum ao olhar para a ilustração. Ele apenas mostra vetorialmente para onde a atividade se desloca ao longo do tempo”, detalha. Como exemplo, cita a mesma metodologia aplicada à economia em que o centro de massa da atividade econômica mundial desde o início deste século 21 tem se deslocado sobre a Rússia. “Isso ocorre porque aquele país está entre fortes economias: China a leste, Estados Unidos e Europa a oeste”, exemplifica.