Obesidade pode interferir na aprendizagem das crianças
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, a taxa de obesidade infantil deve chegar a 75 milhões em todo o mundo, um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI. Resultado, segundo especialistas, de alimentação inadequada, privilegiada pelo consumo de biscoitos recheados, chocolates, salgadinhos, lanches e bebidas industrializadas.
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Gabriela Vilas Boas/Agência USP de Notícias
A partir desse dado, a fonoaudióloga Patrícia Zuanetti, decidiu estudar a relação entre a obesidade na infância e o aprendizado. E os resultados são ainda mais preocupantes. A pesquisa, após avaliar dois grupos, um com crianças consideradas obesas e outro com crianças não obesas, revelou que o excesso de peso causou prejuízos na atenção e na capacidade de alternar respostas e ações, de acordo com as exigências de estímulos. “Esse é um processo importante para o processo de alfabetização, leitura e aprendizagem”, enfatiza a pesquisadora.
No total foram avaliadas 41 crianças com idade média de 9,6 anos e de perfis iguais, ou seja, com o mesmo nível socioeconômico, histórico de doenças e outras intercorrências que pudessem interferir no desenvolvimento da linguagem. Elas foram submetidas à avaliação de leitura, escrita e testes, como identificação de símbolos, separação de sílabas, rimas de palavras, nomeação de cores, números, desenhos e letras, a ligação de letras e números, memorização auditiva e visual de diversos estímulos.
Nos testes de leitura, a fonoaudióloga notou dificuldades no grupo das crianças obesas em utilizar as rotas fonológicas. “Cada pessoa pode ler por duas formas. A primeira é a rota fonológica. Essa é a leitura que toda criança faz no início da alfabetização ou que os adultos usam para ler palavras novas ou difíceis. Já a rota lexical é a mais rápida, onde ‘batemos o olho’ e já acessamos o significado, e permite a leitura fluente.”
Patrícia identificou dificuldades na flexibilidade cognitiva das crianças obesas, por meio dos testes de ligar letras e números de forma alternada e sequencial. “Compreende a aprendizagem a partir de erros, geração de novas estratégias e processamento de várias informações ao mesmo tempo”, explica. Se a flexibilidade está prejudicada, consequentemente, a alternância e a melhor escolha entre as rotas de leitura, de acordo com cada palavra, também estará, pois a criança não conseguirá mudar a ‘forma de ler’ rapidamente, de acordo com o novo estímulo.
Já as crianças do grupo não obesas conseguiram ler de forma mais adequada as palavras apresentadas, independentemente se eram frequentes, inventadas ou não. “Mostraram uma maior capacidade de escolher a melhor ‘forma de ler’”, afirma.
Controvérsias
O estudo concluiu que o grupo das crianças obesas possui um melhor desempenho em memória fonológica, se comparado ao outro grupo. Ela é de curto prazo e está envolvida na manipulação das informações, de modo a permitir a execução de tarefas cognitivas complexas, como raciocínio e compreensão. “Quando precisamos ligar para alguém, repetimos os números mentalmente até executar a atividade e depois esquecemos. Ou, para compreender um texto, você necessita armazenar partes importantes do início, para pensar a respeito da ideia geral do conteúdo”, exemplifica.
Ainda não existem explicações para isso, entretanto, na literatura, alguns estudiosos afirmam que esta memória fonológica nas crianças obesas pode ficar prejudicada; outros, que ela fica melhor. “Vale ressaltar que as crianças com boa nutrição também possuem um desempenho em memória adequado se comparadas às crianças obesas. Somente apresentaram uma capacidade de armazenar um pouco menor”, afirma a especialista.
Intervenções
Para Patrícia, compreender que a obesidade também pode afetar o desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento do cérebro, intensifica o olhar da sociedade e de agentes de saúde para esta condição nutricional. Ela ressalta a necessidade de incentivo às intervenções públicas para a diminuição da obesidade, como o aumento de atividades físicas e de uma alimentação mais saudável nas escolas de ensino infantil e fundamental, para assim, diminuir prejuízos no futuro.
Já para os pais ou responsáveis de crianças obesas, Patrícia aconselha modificar a alimentação de toda família, fazer exercícios físicos juntos, ajudá-los na organização de atividades, realizar leitura compartilhada, promover momentos de diálogo a respeito de diversos assuntos e auxiliar nas tarefas escolares.
Patrícia diz que, mesmo sendo um tema importante, existem poucos artigos internacionais sobre o assunto publicados nos últimos dez anos. Alguns obtiveram os mesmos resultados com relação a atenção e a flexibilidade cognitiva, entretanto, quanto à memória de trabalho fonológica e ao desempenho escolar os resultados foram controversos. “A aprendizagem depende de diversos fatores ligados a própria criança, como a parte emocional, e também a fatores externos, como a estimulação ambiental”, lembra. Na área da fonoaudiologia no Brasil, o assunto obesidade e linguagem escrita é um campo novo e ainda não há estudos.
Técnica de fisioterapia pulmonar é eficaz em UTIs
Crislaine Messias/Ag. USP de Notícias
O trabalho do fisioterapeuta em unidades de terapia intensiva (UTIs) contribui para a recuperação dos pacientes, podendo diminuir o tempo de internação. Apesar da função desses profissionais já ser conhecida nas UTIs, a utilização de algumas técnicas ainda necessita de comprovação científica. Uma técnica manual utilizada para melhorar a remoção de secreções respiratórias foi alvo de pesquisa de especialistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Eles avaliaram os procedimentos em 30 pacientes internados no Centro de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da FMRP (HCRP).
Os resultados mostraram que as compressões manuais torácicas não apenas eliminam o excesso de secreção nas vias respiratórias dos doentes que ficam longos períodos acamados e sedados, mas contribuem para a melhora do que chamam de complacência estática, quando a entrada de ar nos pulmões fica mais fácil. O estudo foi conduzido pela professora Ada Gastaldi e sua aluna, a fisioterapeuta Elaine Cristina Gonçalves, da Fisioterapia, e pelo professor Anibal Basile Filho, da Terapia Intensiva, todos da FMRP.
Explica Basile Filho que pacientes com intubação traqueal e ventilação mecânica muitas vezes são sedados e ficam sem o reflexo de tosse. “Na ausência de mecanismos naturais de remoção das secreções, estas se acumulam”, o que pode desencadear infecção pulmonar, agravando o quadro clínico. Por isso, o professor afirma ser de “crucial importância que a secreção pulmonar seja removida em intervalos curtos de tempo”.
Como os fisioterapeutas já fazem parte do dia-a-dia desse ambiente hospitalar, Basile Filho acredita que agora esses profissionais devam assumir um papel cada vez mais relevante pois as manobras torácicas são menos invasivas e, comprovadamente, eficazes.