O Caminho do Pódio
O Rio de Janeiro é logo ali! A menos de duas semanas dos primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, entramos no clima e trazemos histórias de alguns dos maiores medalhistas do esporte brasileiro
O maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima ganhou a medalha de bronze nos Jogos de Atenas, em 2004. |
Vanderlei Cordeiro, bronze exigiu mais esforço que o ouro
Mais do que medalhista, Vanderlei Cordeiro de Lima entrou para a história dos Jogos Olímpicos graças a um infortúnio durante a maratona de Atenas, em 2004. Vanderlei liderava a prova quando foi agarrado pelo irlandês Cornelius Horan, que invadiu a pista a apenas 7 km da linha de chegada.
O episódio lhe custou a vitória. E o bronze exigiu mais esforço do o ouro. Enquanto os competidores à sua frente cruzavam a linha de chegada no Estádio Panathinaiko extenuados, Vanderlei corria seus últimos metros de braços e sorriso abertos, fazendo um “aviãozinho” em comemoração.
O ouro não veio, mas o bronze brilha no peito de Vanderlei junto com uma medalha ainda mais valiosa, a medalha Pierre de Coubertin, a maior honraria olímpica concedida a um atleta. A homenagem é prestada a atletas que representam o verdadeiro espírito olímpico.
A carreira do ex-maratonista de 46 anos é repleta de conquistas. Antes de Atenas, Vanderlei já tinha vencido maratonas em Tóquio e em São Paulo e já tinha conquistado o ouro nos jogos Pan-americanos de Winnipeg, em 1999, e Santo Domingo, em 2003.
“Às vezes eu falo, acho que precisou um fato tão relevante como aquele para ter esse reconhecimento dentro do meu país”, diz o atleta. Para ele, o Brasil precisa ver o esporte de uma outra maneira e os Jogos Rio 2016 podem ajudar. “Esse evento está aí para fazer com que possamos ter uma visão diferente do que é esporte, que vai além do futebol. […] O brasileiro só vê o esporte no resultado, muitas vezes não conhece a vivência no esporte”, disse Vanderlei.
Giovane Gávio, uma história de cinco olimpíadas
O dia 9 de agosto de 1992 foi um marco para o voleibol brasileiro. Naquele dia, o saque de Marcelo Negrão explodiu nos braços do adversário holandês, se perdeu no fundo da quadra e colocou a medalha de ouro no peito dos 11 jogadores da seleção brasileira. Um deles foi o do atacante Giovane Gávio, um dos pilares da seleção que trouxe o primeiro ouro olímpico do vôlei.
Desde então, o atleta viveu uma escalada de vitórias, e um dos episódios apontados por ele próprio como ponto alto dessa carreira foi ter recebido a tocha olímpica das mãos do ginasta grego Eleftherios Petrounias, no último dia 21 de abril, em Olímpia (Grécia). Ele fala da emoção que foi ter sido o primeiro brasileiro a participar do revezamento da tocha, conta sua experiência de ter participado da trajetória de crescimento do vôlei masculino no Brasil e do orgulho que foi subir pela segunda vez ao pódio (Atenas, 2004).
Depois de já ter trabalhado como treinador e dirigente, Giovane hoje é manager do voleibol no Comitê Rio 2016 e tem no currículo, além de Barcelona e Atenas, a participação nos Jogos de Atlanta (1996), Sidney (2000) e Pequim (2008).
Magic Paula: símbolo que marcou o basquete
Uma das maiores referências do esporte nacional, Maria Paula Gonçalves da Silva formou, junto com Hortência e Janeth, um time que elevou o basquete feminino do Brasil a outro patamar, com a disputa de olimpíadas e conquista de títulos importantes.
A entrada no rol das grandes equipes ocorreu na final dos Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991, quando as brasileiras venceram as donas da casa e receberam a medalha do presidente Fidel Castro. “Ele perguntou ‘vocês já jogaram assim tão bem outras vezes?’. E a gente, na maior humildade, respondeu ‘já’”, lembrou Paula em entrevista à Agência Brasil.
Apelidada de Magic Paula por um jornalista nos anos 1980, em alusão à estrela do basquete dos Estados Unidos, Magic Johnson, a ex-atleta adotou a homenagem como nome, que usa até hoje, 16 anos depois de deixar as quadras. Magic Paula conquistou o Mundial de Seleções em 1994 e a medalha de prata na Olimpíada de Atlanta, em 1996.
Atualmente, Paula é comentarista olímpica dos canais ESPN e tem opiniões firmes sobre a situação das meninas do basquete do Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016. “Numa competição como essa, muitas vezes você não tem o mesmo nível de um outro país, mas chegando lá tudo conspira a favor. Se você tiver uma visão fria da coisa, o Brasil não tem chance de subir ao pódio. Acho que o basquete feminino não está se preparando adequadamente para disputar uma olimpíada”.
Paula Pequeno, da superação ao estrelato no vôlei
No calendário de atletas e amantes dos esportes, as Olimpíadas ocorrem a cada quatro anos. Menos para Paula Pequeno. A atacante da seleção brasileira de vôlei já se via em Atenas para a disputa dos Jogos de 2004 quando uma lesão no joelho, a poucos meses dos Jogos, atrapalhou seus planos: “A Olimpíada de 2008 foi muito especial, porque eu tive que esperar oito anos, em vez de quatro. Foi uma espera muito longa”.
Recuperar-se da contusão, voltar à seleção e garantir sua participação nos Jogos de 2008 (Pequim) foi só uma parte da grande conquista da atleta. Paula deixou a China com a medalha de ouro no peito e o prêmio de melhor jogadora do torneio, a MVP [sigla em inglês para “Jogadora Mais Valiosa”] do vôlei olímpico feminino.
Aos 34 anos, Paula atua no Brasília Vôlei, time de sua cidade natal, desde 2013, e diz não se acomodar com as conquistas ao longo da carreira. “Cada jogo tem seu sabor, seu nervosismo, nossa maneira de preparação. O objetivo continua jogo após jogo, temporada após temporada, enquanto a gente gosta do que faz”, diz a dona de uma medalha de ouro nos Jogos Pan Americanos de Guadalajara (2011) e de mais dois ouros nos Grand Prix de 2005 e de 2008.
Paula contou como o time dos Jogos de 2012, em Londres, superou a pressão para chegar ao bicampeonato olímpico: “[…] fizemos um acordo de que ninguém iria ler nenhuma reportagem, nenhuma notícia e que nos focaríamos no que tínhamos que fazer, porque só a gente sabia o que estava passando ali”.
Gustavo Borges, a busca dos centésimos na natação olímpica
O sucesso da natação brasileira tem o nome de Gustavo Borges, 43 anos, escrito em várias de suas páginas. A medalha de prata nos jogos de Barcelona, em 1992, colocou o atleta na elite da natação mundial, um ano depois de ele ser o grande destaque da delegação brasileira e conquistar cinco medalhas nos jogos Pan Americanos de Havana. Em Cuba, foram dois ouros, duas pratas e um bronze.
Um episódio inusitado marcou a conquista de Gustavo em Barcelona. Após a prova dos 100m livre, o brasileiro saiu da piscina vendo seu nome em quinto lugar no placar. Entre aquele momento e a divulgação do resultado final, que confirmou a medalha de prata, foram 40 minutos de espera. “Aqueles 40 minutos em Barcelona foram de total sufoco”, disse o atleta.
Os Jogos de 1992 marcaram o melhor desempenho de um nadador brasileiro em Olimpíadas até então. De lá para cá, o Brasil continuou melhorando seu desempenho nas piscinas e novos nomes surgiram. César Cielo e Thiago Pereira estão entre os nomes mais conhecidos. Bruno Fratus e Ítalo Manzine, atletas mais novos, são as apostas do Brasil para os Jogos Rio 2016. “Quanto mais gente a gente coloca nas piscinas e no esporte, de uma forma mais abrangente, maior é a chance de descobrir os talentos”.
Além das medalhas de 1992, Gustavo Borges ganhou mais três medalhas olímpicas – prata e bronze em Atlanta (1996) e bronze em Sydney (2000).
Gustavo Borges se despediu das piscinas em Atenas, em 2004, depois de nadar o revezamento 4x100m livre (ABr).