José Paulo de Andrade será sempre um exemplo de como se faz bom jornalismo no rádio.
Foi ele o grande incentivador da maioria dos jornalistas que tiveram passagem por nossas emissoras ou que de algum modo estiveram em contato com ele no Grupo Bandeirantes.
Prova está na grande quantidade de postagens feitas pelos colegas, após seu passamento nesta sexta-feira, 17 de julho, contando acontecimentos interessantes da profissão, onde o mestre é citado, de modo carinhoso.
Não pensem, entretanto, que conviver com José Paulo de Andrade era fácil.
Intempestivo, sempre cobrou com veemência dos profissionais que atuaram com ele, qualidade nas coberturas e postura ética nas atitudes.
Não deixava barato e nunca o vi pedir desculpas a alguém. Depois sim, que a poeira baixava, vinha com um afago.
Conheci José Paulo de Andrade em 18 de maio de 1984, dia em que ele completava 42 anos, em uma roda de amigos |
Convidado para cobrir as férias de Ivan Quadros como repórter das estradas da Rádio Bandeirantes, em 1984, José Paulo se tornou para mim, com o passar do tempo, mais que um mestre. Foi quase um irmão.
Durante a internação do presidente eleito Tancredo Neves no Instituto do Coração, em 1985, o país acompanhava atento aqueles acontecimentos.
José Paulo não teve dúvidas ao me colocar posicionado em frente ao Incor, revezando com outros repórteres na busca de notícias.
Ele não levou em conta o fato de um paraplégico estar segurando o microfone de uma emissora tão importante como a Rádio Bandeirantes.
Neste momento em que se discute tanto a questão do preconceito, José Paulo de Andrade dava exemplo, 35 anos atrás.
Ele permitiu que eu entrasse naquela batalha em busca da notícia debaixo do sol, do frio e da chuva, durante 25 dias, como qualquer outro porque acreditou no meu trabalho.
Aquela cobertura talvez tenha sido a mais importante da minha carreira, pois me valorizou como pessoa e como profissional.
Senti que a partir dali, obtive mais respeito dos colegas dentro e fora da emissora, atuando com eles de igual para igual.
Chefias elogiaram na época meu poder de síntese. Fiquei feliz, claro.
Um dia precisei deixar a Rádio Bandeirantes para ganhar asas e voar.
Me transferi para a Rádio Eldorado, convidado que fui para ser o repórter aéreo, quando tal função se mostrava uma novidade.
José Paulo deu o contra na época, alegando que eu estava fazendo um caminho inverso.
“A Bandeirantes tem um prefixo mais forte que o da Eldorado e você pode depois se arrepender”, me explicou.
Aleguei que estava saindo para crescer, meu sonho era ser o José Paulo de Andrade da Rádio Eldorado.
Nessa emissora apresentei entre 1994 e 2008 um programa chamado De Olho na Cidade.
A finalidade desse programa, com início às 5 horas da manhã, era antecipar as notícias e a prestação de serviços antes que o Pulo do Gato e assegurar audiência para o Jornal Eldorado.
Antes da estreia telefonei para o José Paulo e contei que iria fazer um programa nos moldes daquele que o consagrou.
“Você ficará com raiva de mim?” Perguntei
Do outro lado da linha, o mestre sorriu e disse: “Absolutamente”!
Me desejou boa sorte e brincou: “Vou chamar teu programa de Pulinho.”
Vez por outra ele me telefonava perguntando: “Como vai o Pulinho”?
Nosso último contato pessoalmente aconteceu em 2018, no lançamento do livro de Claudio Junqueira: “Esse Gato Ninguém Segura – 45 anos de sucesso do programa de rádio”, obra onde sou citado.
Vi pela primeira vez naquela noite, um José Paulo emocionado com tantos admiradores em sua volta para saudá-lo.
Sentado ao lado do autor e do grande companheiro de tantos anos, Salomão Ésper, também me emocionei ao rever o mestre.
Nessa mesma foto, acima, está de pé ao meu lado, Thiago Uberreich, apresentador do Jornal da Manhã, da Jovem Pan.
De fato, profissionais de todas as emissoras se congraçaram naquela noite para homenagear o líder de audiência de todas as manhãs.
Passei a seguir José Paulo de Andrade no Twitter e depois prosseguimos trocando ideias pelo Whatsapp.
Discordâncias entre nós sobre os assuntos de política voltaram a acontecer.
Rebatido com veemência pelo Zé, novamente senti nele a garra de quando era meu chefe e adorei aquilo.
José Paulo de Andrade me foi apresentado por Alexandre Kadunc que ele chamava de “mestre de todos nós”.
De lá para cá nossa amizade cresceu e se manteve. Sua ausência significa uma lacuna que jamais será substituída!
A frase é bem batida entre os radialistas, mas exprime uma grande verdade.
A falta dele na programação da Rádio Bandeirantes será sempre sentida, assim como se deu na perda de Vicente Leporace.
Depois de O Trabuco, veio o Jornal da Bandeirantes Gente, mas de agora em diante, os laços dessas tradições estarão para sempre rompidos.
Nossa querida emissora do Morumbi precisará buscar nova linguagem, um novo formato, nada mais será como antes.
No Rádio, ninguém sobrevive apenas da audiência, é preciso oferecer conteúdo à informação.
Exemplo recente é o da Rádio Globo/SP que se esvaiu mesmo tendo sido líder de audiência anos a fio, em São Paulo.
José Paulo de Andrade deve agora estar sendo recepcionado no céu pelos ouvintes que partiram antes dele.
Tieko Suma, é uma delas. Assídua ouvinte tem história especial.
Paraplégica como eu, certa vez me telefonou na Sala de Imprensa da Polícia Militar, onde dava plantão, pedindo para que eu a apresentasse ao José Paulo.
Fã do programa Pulo do Gato, queria conhecê-lo pessoalmente.
Liguei para o chefe que me autorizou levá-la a um evento onde ele estaria presente.
Fiz isso e me sinto honrado por ter cumprido para a Rádio Bandeirantes também essa tarefa. Tieko partiria logo depois.
Espero que agora haja um feliz reencontro deles lá nas alturas, onde os helicópteros não chegam, ao lado de tantos outros ouvintes.
Saudades para sempre de Tieko Suma e José Paulo de Andrade, agora irmãos no céu.