Especialistas veem com cautela limite de mensagens no WhatsApp
O WhatsApp anunciou a limitação do encaminhamento de mensagens para até cinco grupos de conversa (chats)
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Jonas Valente/Agência Brasil
Segundo a empresa, tal medida teve como objetivo reforçar o caráter da plataforma como espaço de trocas de mensagens privadas. A decisão foi uma reação para lidar com o que a companhia chamou de “questão do conteúdo viral”, ou seja, a difusão massiva de informações por pessoas e grupos.
“O WhatsApp avaliou com cuidado essa teste [de limite de encaminhamento] e ouviu o feedback dos usuários durante o período de seis meses. O limite de encaminhamento reduziu significantemente o encaminhamento de mensagens no mundo todo. Agora, todos os usuários da última versão do WhatsApp podem encaminhar apenas cinco mensagens por vez, o que vai ajudar a manter o WhatsApp focado em mensagens privadas com contatos próximos”, informou a empresa por meio de nota.
O WhatsApp entrou na mira de questionamentos em vários locais do mundo como espaço de disseminação de desinformação, conteúdos também chamados popularmente de “fake news” (no termo utilizado na língua inglesa). Na Índia, mensagens falsas reproduzidas em massa foram identificadas como fatores de estímulo a linchamentos de pessoas no ano passado. Em razão desse caso, o WhatsApp instituiu no país no ano passado este limite de cinco destinatários como um teste.
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Eficácia
Para especialistas, a medida pode ajudar a conter a circulação de conteúdos enganosos, mas ainda é preciso avaliar se terá eficácia na prática para impactar a quantidade de desinformação enviada. Na opinião do coordenador de Tecnologia e Democracia do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Marco Konopacki, não há clareza se o novo limite vai conter de fato as chamadas “fake news”.
“Existem diferentes grupos com distintos interesses utilizando o WhatsApp para fins escusos, não simplesmente para distribuição de notícias falsas, mas aplicando poder computacional intensivo, com recursos de automatização e semi-automatização. Essas fontes automatizadas não se sujeitam a isso [os limites de encaminhamentos], pois têm base de números e enviam por meio delas”, explicou.
A diretora da agência de checagem de fatos Lupa, Cristina Tardáguila, também vê com cautela os impactos da decisão. “A gente precisa acompanhar. Vamos ver como vai ser a implementação. Observar se será mesmo todo o Brasil ao mesmo tempo, todos os telefones ao mesmo tempo ou alguma coisa escalonada para ver se não teremos algum tipo de desequilíbrio”, disse.
Mensagens privadas x difusão
Tardáguila foi uma das especialistas que defendeu medida nesse sentido durante as eleições, juntamente com outros professores. Para a diretora da Lupa, o debate de fundo é o uso do WhatsApp, uma plataforma inicialmente de mensagens privadas, para a difusão de conteúdos em massa. Outra mudança para reduzir essa condição de circulação em larga escala, acrescenta a diretora, seria a diminuição também das listas de transmissão, recurso que permite ao usuário enviar uma mensagem para 256 contatos de uma vez.
“Você tem a possibilidade de encaminhar uma mensagem para 256 pessoas, que podem também enviar para 256 e assim sucessivamente, tendo um sistema piramidal enorme. Isso precisa ser reavaliado. Quem é que precisa disparar mensagens para 256 destinatários?”, questiona. Ela acrescenta que o número de pessoas em grupos, hoje 256, também deveria ser limitado.
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Fiscalização x criptografia
Segundo Cristina Tardáguila, o uso do WhatsApp para promoção de desinformação levanta questionamentos sobre como a proteção das mensagens pela criptografia, um dos recursos da plataforma, contribuiria para o fenômeno. “Não tenho opinião formada sobre isso. Mas criptografia é algo para poucas pessoas guardarem. No momento que você faz um broadcasting você está contando para muitas pessoas. Talvez ele possa não ser criptografado”, cogita.
O diretor do instituto de pesquisa Internet Lab, Francisco Brito Cruz, também avalia que a medida do WhatsApp tem como pano de fundo a tentativa da plataforma se afirmar como espaço de mensagens privadas frente ao uso para difusão massiva, especialmente de informações falsas. Ele acredita que a redução dos destinatários pode “estrangular um pouco o fluxo”, mas que é preciso ver como será a eficácia na prática. O pesquisador considera, no entanto, que, a despeito da circulação de conteúdos enganosos, o recurso da criptografia não deveria ser flexibilizado.
“Quebrar criptografia pode trazer vulnerabilidade para as pessoas e deixar a plataforma mais insegura para todo mundo, o que cria risco de ser aproveitado para práticas de vigilância. Ela [a criptografia] não tem que ser vista como empecilho, mas como escolha que é importante e que a gente não pode jogar fora o ‘bebê com a água do banho’. Talvez uma das coisas mais importantes do WhatsApp seja a criptografia sob a perspectiva de segurança, de privacidade”, defende.
Cinco inovações que devem definir a tecnologia financeira em 2019
Victor Dubugras (*)
Foto: Veja – Abril.com Os pagamentos contactless, apoiados por soluções fornecidas pelas grandes empresas de dispositivos móveis, como Apple e Samsung, além de pagamentos realizados por QRCode, devem ter novos adeptos. |
Em 2018, vimos um conjunto de fatos que fortaleceram a atuação das empresas de tecnologia financeira no mercado
Presenciamos a primeira fintech a abrir capital na bolsa brasileira, que foi o banco digital Inter. Além disso, duas grandes ofertas foram realizadas no mercado acionário norte-americano, com PagSeguro e Stone captando respectivamente US$ 2,6 bilhões e US$ 1,6 bilhão. Somado a isso, o número de fintechs que atuam no Brasil cresceu de 332 para 404 em nove meses, de acordo com pesquisa do Radar Fintechlab divulgada em agosto.
Tudo isso foi muito positivo para o ecossistema de inovação financeira no País. O ganho é observado por todos – tanto consumidores, como outras empresas que são beneficiadas por soluções inovadoras e, que muitas, possuem um custo acessível para a operação. Se em 2018 vimos tudo isso, acredito que no próximo ano não será diferente. Novidades devem surgir. Listo abaixo o que acontecerá de mais importante no segmento, em 2019.
Customização de maquininhas de cartão
Com a entrada forte do PagSeguro e da Stone em nichos de micro, pequenos e médios empresários, acredito que a guerra das maquininhas continuará cada vez mais forte, com as tradicionais empresas buscando aumentar sua participação nesse meio. Com isso, mais empresas estão de olho em customização dos chamados POS. Para isso se concretizar, deverão existir parcerias entre grandes companhias do mercado de pagamentos, fornecendo uma camada de tecnologia para isso ser de fato efetuado.
Crescimento das Digital Wallets
Apesar de já ser uma tendência há alguns anos, as carteiras digitais devem ganhar força relevante em 2019. Os pagamentos contactless, apoiados por soluções fornecidas pelas grandes empresas de dispositivos móveis, como Apple e Samsung, além de pagamentos realizados por QRCode, devem ter novos adeptos. Somado a isso, muitas empresas do varejo, que se capitalizaram, estão dando crédito (o chamado cashback) para ser usado nessas modalidades. É um movimento importante para a adoção de novos hábitos de consumo que permitem novas possibilidades para o mercado.
Mudanças no mercado de crédito
O mercado de crédito está mudando bastante. Graças às fintechs, empresas e consumidores estão encontrando novas formas de captar recursos sem contar diretamente com as instituições bancárias tradicionais. Especialmente na categoria peer-to-peer (P2P). No Brasil, um passo importante dado este ano foi a regulamentação das startups de crédito pelo Banco Central, por meio da resolução n. 4.656 de abril de 2018. Isso deverá facilitar a tomada de crédito e desburocratizar o mercado para novos investidores com melhores condições de retornos para esses.
Inovações em PDVs
Ainda muito incipiente no Brasil, as soluções nos Pontos de Venda devem começar a ganhar contornos mais significativos em 2019. Aumentarão as possibilidades de facilitar a vida do empresário a partir de inovações mais completas. Com implementação de serviços que vão desde transformar um simples smartphone ou tablet em POS, como incluir mecanismos que possam combinar diferentes formas de pagamento dentro de um mesmo sistema, e gerar. Integração online com offline em sistemas de gestão. Tudo isso deve fazer parte dessas inovações.
Inclusão financeira da população
O brasileiro ainda é, em grande parte, desbancarizado e com pouco acesso a serviços financeiros – como crédito e linhas de financiamento. Com o esforço do Banco Central para melhorar isso a partir da regulamentação de arranjos de pagamento, novos serviços devem surgir para deixar essa parcela da população melhor atendida, gerando, pouco a pouco, a sua inclusão no sistema financeiro. Tais movimentações somadas ao uso de cartões pré-pagos são importantes para que esse público possa usufruir de novos serviços, como poder pedir um Uber, assinar serviços como Netflix e pagar um boleto pelo celular.
(*) É Head de Marketing da Hash, fintech especializada em infraestrutura de pagamentos – www.hash.com.br.