Conheça a rotina dos profissionais da segurança presidencial
Estar disposto a cumprir jornadas de 24 horas, com alto nível de concentração; participar constantemente de treinamentos que envolvem lutas, natação, corrida, condicionamento físico, manuseio de armas, explosivos e agentes químicos; e até mesmo aulas de conduta, para saber como lidar com público e autoridades. E por fim, exercer também atividades administrativas. A folga só vem após três dias de trabalho
Os candidatos passam por cinco meses de treinamento até serem colocado para atuar na proteção do presidente. Foto: Marcelo Camargo/ABr
Pedro Peduzzi/ABr
Essa é a rotina dos profissionais diretamente ligados à segurança do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Diante de atividades tão diversas e complexas, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, resume o perfil desse profissional como sendo “uma mistura de Batman, Superman e Mandrake”. Ou, nas palavras do secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, general Luiz Fernando Baganha, “um profissional com capacidade física, concentração, discernimento, arrojo na medida exata, autocontrole, determinação, conhecimento técnico profissional”. O general é um dos responsáveis pela seleção das equipes.
“Nosso trabalho vai além de ternos com trabucos. Temos de acompanhar os avanços tecnológicos, que acontecem quase diariamente. Para tanto, precisamos de infraestrutura compatível para buscar o aperfeiçoamento de nosso aparato de segurança”, explicou o general Heleno, momentos antes de a visita ser iniciada, com a apresentação de plataformas bem realistas de simulação individual e coletiva de direção, para os profissionais que atuam no comboio presidencial.
Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Foto: Marcelo Camargo/ABr
“Não abrimos mão da qualidade de nosso pessoal, que é escolhido a dedo. Eles têm de ter cara de jogador de pôquer [no sentido de não deixar sua estratégia ser percebida]. Aqui é lugar de pessoas com bom senso. Selecionamos as pessoas certas para os lugares certos”, acrescentou o ministro. A seleção é bastante rigorosa, até pela natureza da atividade. As indicações dos candidatos normalmente são feitas pelas chefias das forças auxiliares, entre elas polícias Federal, Rodoviária Federal e Civil, Corpo de Bombeiros, Abin, além de agentes penitenciários e das próprias Forças Armadas.
De acordo com o coordenador de Segurança Presidencial do GSI, major Loureiro, os candidatos indicados passam por cinco meses de treinamento até serem colocado para atuar na proteção do presidente, seu vice e seus familiares. “Depois de passar por esse período de qualificação, ele passa a fazer cursos de manutenção de padrões. Caso não mantenha os padrões desejados, ele volta à etapa de qualificação para fazer readaptação”, explica o coordenador.
Agentes simulam esquema de segurança em caso de ataque ao presidente da República. Foto: Marcelo Camargo/ABr
Para o general Baganha, a atividade mais complicada ocorre quando o profissional está a serviço da autoridade, quando cumpre expediente de 24 horas seguidas, das 7h às 7h. “É uma jornada bastante cansativa e de execução complicada em função do alto grau de concentração ao longo de todas as 24 horas”, explicou o general. Nos demais dias, o expediente vai das 9h às 17h.
“Quando o presidente tem, por exemplo, quatro viagens, há um esgotamento muito grande do nosso pessoal, porque precisamos de escalão avançado em cada lugar, mais o pessoal que o acompanha. Os trabalhos são extremamente exaustivos porque o sujeito passa a noite em um corredor, descansa apenas 3 ou 4 horas, e assume outra missão no dia seguinte”, disse o general Heleno.
Ele explica que, devido às quebras de protocolos comuns ao atual e a ex-presidentes, é necessário dar flexibilidade a tudo que é planejado com relação aos procedimentos. “Os presidentes são alvos e clientes de sua segurança”, disse. Heleno já trabalhou na segurança dos ex-presidentes Fernando Collor e Itamar Franco, além do atual presidente. “É preciso entender que cada autoridade tem uma personalidade diferente e que tem de ser respeitada. É com ela que temos de lidar”, acrescentou.
Seleção dos agentes de segurança é bastante rigorosa. Foto: Marcelo Camargo/ABr
O ministro disse ter ficado preocupado com a quebra de protocolo de Jair Bolsonaro durante as comemorações do 7 de setembro, em especial com o risco de algum objeto ser jogado do alto de uma plataforma que estava acima do presidente. “Não estava previsto que ele estivesse ali”, disse ao destacar que o comportamento imponderável das autoridades é sempre algo que aumenta os riscos. As ações de segurança presidencial são distribuídas em três áreas. A de segurança imediata é a que atua mais próxima ao presidente. Em seguida tem a área de segurança aproximada e, mais distante, a área de segurança afastada.
A capacidade de flexibilizar o que foi previamente planejado é fundamental para lidar também com outros fatores imponderáveis que podem ocorrer nessas três áreas. “Outro dia estávamos nos deslocando de Guaratinguetá, indo em direção à Academia Militar [das Agulhas Negras]. O presidente preferiu usar comboio motorizado. Ocorre que um dos batedores foi acidentado e tivemos de ficar um tempo parado na estrada. Essa é uma situação onde a ameaça, que não existia inicialmente, passou a existir devido à demora dele naquele local à noite”.
Diante da experiência que tem no planejamento das ações de segurança presidencial, Heleno diz que nunca há situações 100% seguras. “Isso não existe. O que a gente faz é tomar todas as precauções. Até porque se o autor [de um eventual atentado] estiver disposto a morrer, ele provavelmente cometerá o atentado”.