Em 1974 estudávamos na escola pública e do mesmo modo como os adolescentes de hoje, nossos sonhos eram outros.
Ainda não imaginávamos a possibilidade de ser jornalista e trabalhar nas reportagens aéreas, sobrevoando a cidade e essas coisas.
Pensamento jovem acalenta coisas maiores como ser, por exemplo, um cantor de rock e se tornar rico, famoso, andar de limousine e só viver de música.
O rock nacional revelava grandes nomes até hoje cultuados, como Raul Seixas e Rita Lee. A cantora havia deixado Os Mutantes e levava adiante sua carreira solo.
Raul dizia: “Eu sou um astrólogo, vocês precisam acreditar em mim”. Depois lançou sua previsão avisando que um dia a terra iria parar, rss.
Para nossa surpresa, no entanto, as férias de julho daquele ano foram prolongadas por um fato inusitado, a meningite meningocócica estava matando pessoas de um modo estranho e de difícil compreensão.
Os jovenzinhos do bairro do Moinho Velho, no Ipiranga, em São Paulo, sem se dar conta do perigo, vibraram com a notícia de suspensão das aulas. Felizmente entre os colegas da nossa turma, ninguém ficou doente.
Em vez dos livros e das lições de casa, continuamos em férias até quase o final de agosto, tendo sobrado mais tempo para mais brincadeiras e para se ouvir música.
O Deep Purple era a banda estrangeira que mais fazia a cabeça da juventude do nosso bairro.
Era uma delícia ouvir e ver os discos girando em 33 rpm nas eletrolas estereofônicas da Grunding ou da Gradiente, debaixo de agulhas cristalizadas que diziam ser de diamante.
Só quem viveu saberá descrever a emoção de se ver um disco novo girando na vitrola.
A meningite, no entanto, seguia matando uma pessoa por dia em média, na Grande São Paulo.
Explicar essa doença é um pouco difícil, trata-se de uma infecção das membranas que recobrem o cérebro (as meninges), dificultando assim o transporte de oxigênio às células do corpo.
A transmissão do meningococo, bactéria causadora da meningite, se dá por meio de secreções respiratórias e da saliva, durante contato próximo com uma pessoa infectada.
Evitar aglomerações ou se sentar próximos uns dos outros, como acontece nas salas de aula, passou a ser motivo de preocupação para as autoridades de saúde, assim como agora em tempos de coronavírus.
Na televisão, em 1974, o noticiário dava conta da existência de um surto de meningite,a palavra epidemia, nos tempos da censura, não podia ser empregada, a determinação era que se escrevesse surto, para não alarmar a população.
Surto, é quando acontece um aumento repentino do número de casos de uma doença em número acima do que o esperado pelas autoridades.
Epidemia, é quando o surto se prolifera e passa a ocupar diversas regiões em nível municipal, estadual ou federal.
Em 1974 as aulas nas escolas públicas foram suspensas na Grande São Paulo, Grande Rio e alguns outros municípios.
Pandemia, é o que vem acontecendo em relação ao coronavírus porque está atingindo países de todos os continentes.
Em 2009, a gripe A (ou gripe suína) passou de epidemia para pandemia quando a Organização Mundial de Saúde – OMS, começou a registrar casos em todas as regiões da Terra.
A Aids, apesar de estar diminuindo, também foi considerada uma pandemia quando surgiu pelo início dos anos 1980.
No ano de 1974, quando aconteceu a epidemia de meningite, surgiram dificuldades no combate porque havia restrição nas importações.
Em razão disso o governo demorou para adquirir vacinas no exterior.
Essas dificuldades, por outro lado, serviram de alerta às autoridades sobre a importância do investimento tecnológico em saúde e em pesquisas levadas à frente pelas universidades.
Em 1976 foi criado dentro da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, no Rio de Janeiro, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Bio-Manguinhos – e implantado um centro de produção de vacinas contra a meningite meningocócica A e C.
A partir de então, a vacina contra meningite meningocócica passou a ser desenvolvida no Brasil, por sinal a primeira a ser criada em terras brasileiras.
Em 1980, no âmbito da cooperação técnica com o Brasil, o Japão nos transferiu a tecnologia para a produção de vacinas contra o sarampo.
O primeiro lote desta vacina inteiramente produzido no país saiu em 1982, estimulando a produção de vacinas no País.
O Instituto Butantã, ligado à Universidade de São Paulo, está em via de anunciar a comprovação de sua vacina contra a dengue, desenvolvida já há alguns anos.
Quem sabe, em nível mundial, se demore menos para a descoberta de uma vacina que elimine de vez o coronavírus.
Enquanto prosseguem as campanhas de prevenção contra o também chamado Covid-19, lembremos o visionário Raul Seixas.
Em uma de suas canções ele chegou a falar sobre “O Dia em que a Terra Parou”.
Fontes: Cremesp, Fiocruz, Revista Veja e Portal UOL