Renan Cola (*)
Falar inglês é fundamental, right? De acordo com um recente estudo desenvolvido pela Statista, empresa alemã especialista em coleta e visualização de dados, 1.35 bilhões de pessoas em todo o mundo falam o idioma. São indivíduos que, juntos, correspondem a 17% da população global, equivalendo-se ao total de habitantes dos países: Brasil, China, Estados Unidos, Índia e Rússia.
Entretanto, mesmo diante de tamanha importância, tem muita gente que já começou a torcer o nariz para o seu uso indevido no mercado de trabalho. E por que motivo? Conhecida pelo nome de estrangeirismo, a prática de inserir termos advindos de outra nação está deixando de ser uma necessidade da língua para se tornar uma muleta para as inseguranças profissionais.
Assim, em vez de se concentrar na execução da tarefa delegada, buscando os meios necessários para garantir uma entrega de alta performance, muitos, com medo de deixar transparecer as suas ineficiências em um ou outro aspecto, preferem agarrar-se aos chavões linguísticos de suas determinadas áreas, compensando externamente aquilo que lhes falta no universo interno.
A área de marketing é um bom exemplo. Tem gestor que nunca criou uma marca na vida, muito menos desdobrou esta criação para um produto ou serviço altamente consumível, difícil de ser rejeitado pelo consumidor. Todavia, na hora da reunião com a equipe, para substituir a ausência de experiência mercadológica, prefere dizer que está faltando punch nos conceitos propostos.
E o que dizer do “RH”? Existe psicólogo que nunca fez terapia, nunca viu, ou ouviu, ao vivo e em cores, as questões profundas que os pacientes trazem, muito menos foi supervisionado por um profissional de saúde mental experiente para garantir a perfeita análise dos seus casos. Mas na hora de encontrar o próximo funcionário da firma? Manja pra caramba sobre fit cultural.
O budget também é famoso e não pode ficar de fora. Alocar o recurso correto, no tempo certo, para atender uma determinada necessidade organizacional é uma premissa da administração. Dito de uma outra maneira, sem verba a roda não gira. Sem cascalho o motor não arranca. Sem bufunfa o avião não decola. Para parecer a solução, falar que entende de budget, por que não?
Já quem precisa bater de porta em porta para vender o peixe corporativo ao futuro cliente tomou junto com o boss do comercial um quartinho a mais de alucinógeno. De vendedores, agora eles são Sales Development Representative (SDR), Inside Sales (IS) ou, até mesmo, Account Manager (AM). Seria influência das start-ups ou vergonha de dizer o que realmente fazem?
Achou que o título de Chief Executive Officer não apareceria por aqui? Here it is. E nem é preciso muito esforço para entender a razão pela qual os proprietários de muitas companhias fazem uso deste artifício. Com medo de serem vistos pelos outros como os patinhos feios do CNPJ, muito trabalhador autônomo ou pequeno empresário disfarça a sua miudeza com três letras: CEO.
Conseguiu captar as semelhanças que existem entre os exemplos mencionados? Atuando como um adereço que se usa para substituir algo que não se tem, os termos americanizados passaram, neste sentido, a ornar a comunicação travada dentro do mundo dos negócios com as patologias psíquicas que os emissores das mensagens deixam pular do inconsciente por meio das palavras.
Sendo assim, diante desta onda de expressões que qualquer pessoa entende, mas que quase ninguém suporta mais ouvir, o que fazer? Em primeiro lugar, a autorreflexão sobre como anda a sua oratória dentro do ambiente de trabalho se faz necessária. Para isso, chame um amigo de confiança para conversar. Pergunte a ele se ele se incomoda com as expressões que você usa.
Em segunda colocação, perceber aspectos da cultura em que você atua profissionalmente é um parâmetro para equalizar a quantidade de vocábulos de outro idioma que poderá fazer uso. Se o seu gestor começa o dia enviando um e-mail com uma demanda que precisa ser escoada com urgência, seguida por um As Soon As Possible (ASAP), então, mete logo o inglês e não chora não.
Trazendo a medalha de bronze, outra importante dica é permitir-se sentir como está o seu nível de confiança em relação às suas atividades. Caso perceba que algum sentimento negativo está tomando conta do seu dia a dia, não remedie as suas dores com os analgésicos da língua. Em vez disso, keep calm e procure o suporte terapêutico adequado à resolução da sua dificuldade.
Por fim, se nenhuma das orientações funcionarem, talvez o seu caso seja mais hard. Se não conseguir conter o impulso de falar inglês em um período de 3 dias, marque uma consulta em um curso de idiomas de sua confiança, peça prescrição para boas aulas de conversação e tome suas doses diárias de bate-papo conforme a necessidade. O ouvido dos colegas diz: “thank you”.
(*) Psicanalista.