Dificuldade para estabelecer senso de equipe e perda na agilidade da comunicação são apontados como principais fatores
Desde que o isolamento social imposto pela pandemia começou a ser abrandado, iniciou-se uma discussão no mercado de trabalho: o modelo home office será mantido ou todos deverão retornar para os escritórios? Será possível – ou até mesmo desejável – viver novamente como se vivia antes das restrições sociais? Uma pesquisa da startup Revelo indica que 79% das pessoas que trabalham em home office preferem perder o emprego a ter que voltar ao trabalho presencial. Notícias recentes confirmam essa realidade. Empresas de tecnologia têm perdido colaboradores ao exigirem o retorno aos escritórios.
Nesse cenário, é necessário entender por que, afinal, as empresas insistem em deixar o home office. Quais desafios não conseguiram contornar com o trabalho à distância? Segundo o escritor Uranio Bonoldi, especialista em carreira, negócios e tomada de decisão, muitas empresas acreditam que o trabalho presencial garante maior desempenho e produtividade dos funcionários. “Isso tem certa lógica, uma vez que o trabalho presencial evita ou quase elimina certas distrações. Quem no home office nunca foi interrompido pelo cônjuge, pelo pet, por uma campainha inesperada, etc? Ainda mais quando a pessoa não tem um espaço em casa que seja propício para trabalhar”, diz.
Já num plano mais profundo, com o trabalho presencial, a comunicação da empresa entre níveis hierárquicos fica mais fácil, fluida, sem barreiras. Isso ajuda a preservar a cultura da empresa, seu propósito, seus valores e o engajamento. “Muitas empresas tiveram dificuldade em garantir a colaboração e a interação entre os funcionários. O desafio em estimular discussões, compartilhar ideias, resolver problemas complexos, promover a criatividade e a inovação à distância às vezes pode ser intransponível. Esse fato, no médio/longo prazo, pode colocar a empresa em risco de perder competitividade e mercado”, opina.
Autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, Uranio Bonoldi destaca ainda que o distanciamento do local de trabalho pode não propiciar conexões interpessoais mais fortes, prejudicando o entrosamento e enrijecendo as relações de trabalho. “Isso dificulta a construção de equipes, colaborações mais eficazes e também oportunidades de networking. Estar próximo também permite uma comunicação não verbal mais efetiva gerando empatia. Por mais que o home office traga vantagens, como comodidade e redução de tempo de trajeto ao trabalho, alguns aspectos que são muito intrínsecos ao convívio humano não podem ser substituídos pelos meios digitais”, pontua.
Para que as empresas possam lidar com a expectativa pelo trabalho remoto dos colaboradores, é preciso criar condições de trabalho melhores se comparadas às do home office. “Acredito que se o colaborador for para seu trabalho sabendo que encontrará um ambiente sadio, não tóxico, ele terá mais disposição. As companhias terão que buscar por espaços onde o colaborador se sinta em casa, entenda suas funções e pratique suas atividades percebendo ativamente o quanto elas contribuem para seu desenvolvimento pessoal e profissional”, afirma.
Segundo Uranio Bonoldi, isso pode ser feito não apenas por meio de benefícios, mas de outras maneiras criativas, que vão desde a decoração dos espaços até a realização de eventos e atividades extra. “Como dias em que o colaborador poderá fazer um curso, ministrar uma palestra, passar um dia ao lado de determinado líder de departamento diferente, vivenciar momentos de boas conversas, e até se envolver em programas em que cada colaborador apresenta seus hobbies para os demais colegas, conte a suas histórias, etc. Isso, sempre que possível, reconhecendo a necessidade de flexibilidade, para que o colaborador saiba que, quando necessário, poderá também se ausentar do espaço de trabalho sem sofrer qualquer tipo de punição”, pontua.