Eduardo Tardelli (*)
Os últimos dois anos foram os mais desafiadores da nossa geração.
Não apenas porque tivemos que lidar com muitas perdas, mas porque tivemos que adaptar nosso comportamento diante de uma pandemia. A distância foi um dos desafios enfrentados por toda a população mundial, seja nas relações pessoais ou de trabalho.
A maioria das atividades que eram feitas de maneira presencial tiveram que ser moldadas a uma realidade remota, e é possível que essa realidade estacione por um bom tempo — arrisco dizer que trabalho 100% presencial vai se tornar obsoleto.
É possível traçar essa perspectiva do trabalho remoto “para sempre” só pelo comportamento dos colaboradores.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Bare International, empresa especializada em experiência do cliente, 70% dos profissionais entrevistados não querem voltar a trabalhar presencialmente. Um dos principais motivos é a possibilidade de ter mais tempo para realizar outras atividades e conseguir equilibrar melhor a vida profissional e pessoal.
Segundo a pesquisa ‘Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana’, de 2019, o paulistano gastava, em média, 1h47 no trânsito. Portanto, não é surpresa esse índice alto de profissionais de grandes centros que não querem voltar para o escritório. E eles não estão errados: essas quase duas horas a mais possibilitam mais tempo para convívio familiar, lazer, atividade física e resolução de questões pessoais.
Colaborar para que o funcionário tenha mais flexibilidade com seus horários e possibilitar uma melhora em sua qualidade de vida vai influenciar diretamente em sua performance. Portanto, se 2020 foi o ano da adaptação do sistema de trabalho remoto, 2022 será o ano da adaptação do trabalho híbrido. Essa foi uma forma do mundo corporativo equilibrar as vontades do patrão e funcionário.
O profissional consegue manter alguns dias fora do trânsito, se dedicar a outras questões e, ao mesmo tempo, há uma interação presencial com a equipe, que pode também ser positiva para as relações interpessoais no ambiente corporativo, um dos pilares fundamentais para um bom clima organizacional.
As equipes gestoras terão um desafio extra para organizar a rotina híbrida, e cada área precisa mapear os possíveis riscos desse novo formato, acompanhar a equipe de perto, equilibrar as tarefas que precisam ser feitas presencialmente e as que podem ser feitas em casa para que o fluxo de trabalho seja o mais simples possível.
O compliance trabalhista entra como um importante agente nesse processo de transição, já que precisa proteger os colaboradores, otimizar os processos e conduzir todo o trabalho de governança necessário para o desenvolvimento de qualquer corporação.
A única certeza é que, se toda a equipe se engessar em normas de conduta e não ouvir o colaborador, o “novo normal” será um estorvo.
(*) – É CEO da upLexis, que desenvolve soluções de busca e estruturação de informações (https://uplexis.com.br/).