Luciana Nicola (*)
Uma boa notícia. O Brasil tem hoje cerca de 10,3 milhões de empreendedoras, segundo o Sebrae, um recorde histórico. A má notícia é que a maior parte desse contingente é composto por mulheres que empreendem não porque querem, não porque estão realizando o sonho do negócio próprio, e sim por necessidade, ou seja, porque ficaram sem fonte de renda e foram buscar no empreendedorismo uma maneira de garantir seu sustento e o de suas famílias. E esse é apenas um dos motivos pelos quais é tão importante fortalecê-las para que consigam garantir a sustentabilidade financeira de suas iniciativas.
Como se não bastasse muitas mulheres se tornarem empreendedoras por necessidade, também têm menos tempo para seus negócios. Segundo dados compilados pelo Sebrae, elas dedicam 17% menos horas a seus empreendimentos do que os homens, e isso por um motivo ainda infelizmente muito enraizado em nosso país: mulheres chegam a trabalhar 10,5 horas a mais semanalmente do que eles com afazeres domésticos e filhos.
Talvez não seja por acaso que elas declarem em maior proporção do que homens terem dificuldades para manter seus negócios. Segundo a Pesquisa Pulso, 46% das entrevistadas relataram problemas com seus empreendimentos, enquanto 42% dos entrevistados disseram o mesmo. Além disso, elas também sofrem mais com a inadimplência e comprometem proporção maior de seu rendimento mensal com dívidas.
Tudo isso é apenas parte de um cenário maior que aponta para uma necessidade urgente: dar às empreendedoras os conhecimentos e as ferramentas para que elas consigam gerir seus negócios com mais eficiência. E ao fazê-lo, não é apenas as mulheres donas de negócios que são beneficiadas, e sim suas famílias e as comunidades do seu entorno.
Isso porque mais de 50% das donas de negócio são também chefes do domicílio, ou seja, são as principais responsáveis pela renda de seus lares. Além disso, segundo o IBGE, houve um aumento de 30% no número de mulheres empregadoras no terceiro trimestre de 2022, enquanto, entre homens, o avanço foi de 8%. Ou seja, apoiar empreendedoras é também fortalecer a criação de empregos.
Mudar o mundo
Giselle Fouyer é professora de inglês e português nativo. Ela tinha um sonho: abrir um negócio próprio, uma escola de idiomas. Hoje, ela é uma daquelas 10,3 milhões de empreendedoras brasileiras. Mas sua jornada até conseguir abrir sua empresa não foi nada suave.
A primeira tentativa foi em 2006, mas, além das barreiras normais -como a dificuldade em construir uma carteira de clientes e conseguir crédito-, ela trombou com uma parede difícil de transpor, mesmo num país em que quase 50% das empreendedoras são pretas e pardas: o racismo. Ao tentar um empréstimo para seu negócio, foi questionada sobre a sua aparência e sua competência para liderar a própria empresa. Sem condições financeiras para se dedicar exclusivamente a ele, o sonho acabou ficando em segundo plano.
Mas apenas momentaneamente, pois ela decidiu dar prioridade novamente à ideia no final de 2017. E, dessa vez, buscou aliados para sua jornada. A professora se tornou uma das 800 mil mulheres impactadas na última década pelo Itaú Mulher Empreendedora, iniciativa nascida de uma parceria entre o Itaú Unibanco e a International Finance Corporation (IFC), do Banco Muncial.
O projeto, uma das várias iniciativas que o Itaú tem voltadas especialmente para empreendedoras, foi criado com o objetivo capacitar mulheres utilizando diversas ferramentas -seminários, mentorias, cursos, palestras, dentre outras- para que elas fortaleçam ou adquiram habilidades de gestão que possibilitem uma gestão mais sustentável de seus empreendimentos. E, tão importante quanto a capacitação, as mulheres impactadas também formaram uma rede de apoio fundamental para se fortalecerem mutuamente em sua jornada empreendedora. Giselle, por exemplo, participou de treinamentos presenciais e, também, foi selecionada para receber mentoria online sobre como revitalizar e expandir seus negócios. No final, aquela mulher que quase desistiu de seus sonhos por causa do racismo acabou sendo até mesmo reconhecida como empreendedora de destaque pela Assembleia Legislativa de São Paulo em 2022.
A história de Giselle é uma entre muitas de mulheres que, com a devida capacitação e acompanhamento, conseguem fortalecer seus negócios, fazê-los crescer, torná-los sustentáveis. E o Itaú Mulher Empreendedora é uma entre várias iniciativas que as ajudam em sua jornada, e o fato de existirem esses projetos mostra que a sociedade civil entende cada vez mais a importância desse apoio.
Em suas pesquisas, o Sebrae captou algo muito singelo, quase inocente, mas bonito: 69% das mulheres disseram empreender para fazer diferença no mundo. Estar ao lado delas não deixa de ser, portanto, uma maneira também de ajudar a construir um mundo melhor.
(*) Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.