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As palavras têm poder, no formato que for. Cautela!

em Espaço empresarial
quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Viviane Gago (*)

Don Miguel Ruiz em seu livro ‘Os quatro compromissos’, “diz que a palavra tem imenso poder e não deve ser usada de modo leviano. Ela não é apenas um som ou um símbolo escrito. A palavra é força, é a mais poderosa ferramenta que possuímos como seres humanos“. Apesar de todos os atributos que nos foram dados, nossa espécie é falha e se desenvolve muito lentamente.

Portanto a palavra, uma potência e um dos grandes atributos que possuímos pode ser magnífica e pode ser destruição. As palavras podem criar prosa, contos, romances, poemas, músicas, discursos e de várias maneiras e em inúmeros formatos, garantindo resultados belíssimos. Entretanto, o mau uso da palavra pode ser devastador. Haja vista que por muitos meios, a opinião das pessoas é manipulada.

Alguns devem ter ouvido e/ou conhecer a janela de Overton, ou janela do Discurso, nome dado por seu criador Joseph P. Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, Michigan (EUA). Segundo ele, diversos atores sociais podem escolher não apenas o que as pessoas pensam, mas também como elas pensam. Esse estudo demonstra ainda o que a sociedade considera aceitável ou não em dado momento.

E claro que esse cenário não é estático. É possível mudar a aceitação das pessoas. É possível manipular a opinião pública. Para isto acontecer as pessoas precisam ser convencidas de novas ideias, ou pelo menos persuadidas a pensarem contra o que normalmente era aceito. As mudanças na opinião das pessoas podem ser alteradas de inaceitável para verossímil (talvez pense nisso), neutralidade e progredir para aceitável. Ou vice-versa, levando as pessoas a aprovação ou desaprovação de algo.

Um bom exemplo para ilustrar é o da não aceitação da escravidão, que demorou muitos anos até a promulgação da Lei Áurea. A mudança aconteceu gradual e lentamente. Vale refletir sobre a importância dos protagonistas sociais que influenciam com suas palavras muitos na sociedade e que devem ter responsabilidade com isso.

Os principais deles são: políticos, jornalistas, assessores de imprensa, institutos de pesquisas, relações públicas, agências de lobby, influenciadores, professores, youtubers, instagramers etc. E são as gerações mais jovens que estão muito abertas aos meios digitais, que contém uma infinidade de informações nem sempre boas e confiáveis, as mais vulneráveis e os alvos fáceis.

Por isso, a importância das famílias bem estruturadas e informadas para minimizar o efeito “manada”. Lembrando que o efeito manado/rebanho é a tendência de seguir outras pessoas em qualquer tipo de decisão, das pequenas do dia a dia até questões de maior relevância. Isso faz com que as pessoas se comportem de forma semelhante a todos os outros ao seu redor, deixando de lado a decisão individual, a introspecção, o pensar individual mais crítico.

Ideias negativas deixam de ser. Começa-se a ver como respeitável o que antes não era. A ideia se torna sensata. O nazismo é um exemplo extremo desta triste realidade. Há também o grande perigo da manipulação invisível. As ideias são apresentadas como se já tivessem a aceitação da sociedade, quando isto é apenas uma roupagem para que, criando a sensação de popularidade, as pessoas não se coloquem contrárias.

Acredito que muitos tenham assistido o documentário de Jeff Orlowski ,“Dilema das Redes” ( Netflix), cujo o foco foi nos dar material para refletirmos como o uso dos dados de usuários nas rede sociais pode ser perigoso. Isso pode afetar significativamente o comportamento das pessoas, além da privacidade e da vida das pessoas que são expostas.

Aqui levanta-se claramente o aspecto da capacidade ilimitada das empresas do mundo digital manipularem o cérebro dos usuários. Neste contexto, o que dizer das famosas “notícias falsas, notícias fabricadas” ou em inglês das “fake news”? Criadas deliberadamente com o objetivo de enganar e confundir. Por terem grande apelo emocional, elas são aceitas, consumidas e replicadas por muitas pessoas.

Em outras palavras, são mentiras apresentadas de forma a parecer notícias verdadeiras e quanto mais apelativas e chocantes melhor. Uma tristeza em meio a quantidade de mecanismos distorcivos e usadas intencionalmente para manipular pessoas. Por fim, comento também sobre as “meias-verdades”, “é a hipocrisia do argumento, um atalho para obtenção de resultados convenientes, um passaporte seguro para bons antecedentes, uma carta de recomendação para manipulação dos fatos.

O articulador da meia verdade é mais covarde que o mentiroso: ele não mente, ele fala a verdade quanto ao que não importa muito para esconder a mentira sobre aquilo que é fundamental. Com isso cria-se uma cortina de fumaça sobre tudo quanto efetivamente merece atenção e se resguarda da obrigatoriedade de explicar sua indignidade”. Essa explicação foi extraída do livro “Olhares para os sistemas”.

Finalizo esse texto com tristeza e mencionando firmemente a palavra CAUTELA! Nem os aparentemente instruídos estão imunes de caírem nessas armadilhas.

(*) – Advogada e consteladora pelo IPQ/USP com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. (https://www.vivianegago.com/).