Henning Dornbusch (*)
O que colher de uma boa entrevista sempre foi fruto de uma longa discussão.
Por isso, ter a visão de vários interlocutores, cada um com seu ponto de vista e com uma visão diferente da psique humana e das virtudes de cada candidato sempre enriqueceu o debate do perfil ideal. Não esquecendo que cada entrevista pode ser também fruto de uma autoanálise do entrevistador.
O filtro pode ser o currículo. Mecanismos de busca ajudam, claro. Tecnologia está aí para isso. Mas é naquele velho e bom olhar que o tabuleiro de xadrez começa a movimentar as peças. A coerência da narrativa faz mais sentido do que um currículo bem redigido. O ditado de que se preparar para uma entrevista é fundamental para o sucesso nunca foi tão verdadeiro e ainda conta com poucos adeptos. Isso serve para as duas pontas da mesa, ou da tela.
Entrevistar significa também vender uma paixão e uma oportunidade concreta de despertar no candidato o interesse em se juntar a uma fórmula vencedora. Esse link tem que existir. A conexão tem que ser estável. É nas entrelinhas que sabemos o sabor da feijoada. Conversar sobre atividades e interesses praticados fora do ambiente de trabalho podem determinar a diferença entre gostar e efetivamente se dedicar a uma causa. Qual o nível de detalhe que a paixão em nós desperta?
A dicotomia entre o tempo de Chronos e o tempo de Kayros… Mas voltando à feijoada .. Pessoalmente, gosto de conversar sobre a paixão que move cada um e ver o brilho de alguém descrevendo como gosta de cozinhar, de música, de literatura ou de qualquer atividade que desperte um profundo interesse.
Já me imaginei uma vez saboreando uma feijoada, onde o candidato descreveu cada passo e cada detalhe e ponto dos ingredientes. Mesmo se eu fosse vegano acho que gostaria de ter experimentado. Se a empresa fosse essa feijoada … quais os ingredientes que o candidato à vaga gostaria de ter?
O entrevistador passou a ser o candidato e o candidato o entrevistador? Extremos de uma tendência de equilíbrio de forças por um propósito que visa ao modelo participativo e que culmina com uma gestão saudável e colaborativa de todos.
Já fiz uma provocação em uma entrevista em que, após 15 minutos de conversa, resolvi mudar as funções e mudar os papeis (Quid Pro Quo Clarice, Quid Pro Quo – para quem viu o filme o Silêncio dos Inocentes). A reação do candidato foi de perplexidade inicial, mas iniciou um outro diálogo sobre preparação. Portanto, cada uma das pontas, preparem-se para serem entrevistados e entrevistadores. Sempre um ótimo exercício.
A feijoada tem que ser boa para quem a prepara e para quem a degusta.
(*) – É mentor de executivos, com formação em coach e sócio proprietário na JHD Consult.