A pandemia do novo coronavírus teve impactos sem precedentes no Brasil. Além da Covid-19, o País teve que lidar com outra realidade que foi ainda mais evidenciada nesse período: o aumento no consumo de alimentos não saudáveis, especialmente nas camadas mais vulneráveis. Para entender sobre os impactos da Covid-19 na vida de crianças, adolescentes e suas famílias, o Unicef elaborou uma pesquisa com 1,5 mil famílias brasileiras para conhecer a situação do antes e o depois da pandemia
A pesquisa abordou itens como renda familiar, segurança alimentar, educação e saúde mental. Entre os dados que mais chamaram atenção, estão os que envolvem crianças e adolescentes. Num comparativo entre julho e novembro, o consumo de alimentos industrializados aumentou nas casas dos brasileiros, especialmente nas que residem com crianças e adolescentes, como explica a oficial de Saúde do Unicef no Brasil, Stephanie Amaral.
“Não temos dúvidas de que os alimentos industrializados estão cada vez mais baratos e mais acessíveis. Nos últimos anos, quando se fala sobre os gastos da população brasileira com alimentação, vemos que tem aumentado muito o gasto com os industrializados também porque eles têm diminuído o valor ao longo do tempo. E isso ocorre em detrimento do consumo de alimentos mais saudáveis”.
De acordo com a pesquisa, 54% dos participantes relataram mudanças nos hábitos alimentares em casa em novembro. Entre os entrevistados, 21% declararam ter aumentado o consumo de alimentos preparados em restaurantes fast food, e 29% aumentaram o consumo de alimentos industrializados. Nas famílias com crianças e adolescentes, o consumo destes alimentos foi ainda maior, chegando a 36%.
Essa é uma realidade na casa da manicure Nercília de Melo, 37 anos. Moradora do bairro Jardim Violeta, na capital cearense, ela divide a casa com mais um adulto e quatro crianças, com idades entre cinco e quinze anos. Segundo ela, eles comem o que ela pode dar e confessa que é mais fácil consumir alimentos industrializados.
“Eu não como tanto, mas eles gostam muito de mortadela. É mais em conta, né? Mortadela, salsicha. Compro esses produtos porque são mais baratos, não vou mentir. A mortadela dá para comprar e fatiar, então dá para todos. É mais barato para mim que sou mãe” (Fonte: Brasil 61).