795 views 8 mins

Charlie Chaplin: Como o Vagabundo virou a chave para o sucesso

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 31 de março de 2022

Charlie Chaplin é um dos nomes mais conhecidos e aclamados da História. Acredito que muitos não conheçam de que forma Chaplin se tornou um dos grandes revolucionadores do cinema moderno, ocupando diversas posições nas produções, como ator, diretor, produtor, roteirista, editor e até compositor.

Chaplin era artista em sua mais pura forma mas também um homem de negócios, empreendedor e visionário. Sua vida foi marcada por polêmicas e empecilhos, mas como ele lidou com os obstáculos em sua vida é o que o levou ao topo.

Charlie Spencer Chaplin nasceu em Londres, Inglaterra, em 1889. Ambos os pais de Chaplin eram artistas, o que o influenciou a seguir na mesma área futuramente. Quando Charlie Chaplin tinha sete anos, viu a saúde de sua mãe se deteriorar junto com as finanças da família. A situação ficou tão ruim que Chaplin e seu meio-irmão tiveram que ir para um orfanato, onde permaneceu por dezoito meses enquanto aprendia a ler e escrever corretamente.

Chaplin começou sua carreira como ator aos oito anos. Em 1910, já aos dezoito, Chaplin se juntou à trupe de Vaudeville de Fred Karno que estava em turnê pelos Estados Unidos. Em 1913, em sua passagem pela Califórnia, Chaplin assinou contrato com a Keystone Studios, após o popular diretor de comédia Mack Sennett assistir à umas das performances de Chaplin em Nova York.

Na Keystone, Chaplin atuou e dirigiu um total de 35 filmes e, em quase todos eles, estrelou como seu icônico personagem Vagabundo, que usava chapéu derby, bengala, bigode, calças largas e sapatos grandes. O personagem fez de Charlie Chaplin o ator mais famoso de Hollywood na época.

A chave mais importante para o sucesso de Charlie Chaplin foi sua criatividade. Chaplin construiu sua carreira durante a era do cinema mudo e foi o primeiro comediante a usar o gênero comédia para criticar algumas camadas da sociedade, usando um personagem excêntrico e adorável para fazer o público questionar o que estava acontecendo na sociedade daquela época.

O tão famoso personagem foi criado de repente quando, em 1914, o chefe dos estúdios Keystone, Mack Sennett, reclamou da falta de piadas realmente boas no filme que estavam filmando naquele dia, então pediu a Chaplin que usasse sua criatividade para tentar melhorar as coisas. Como tudo nos estúdios Keystone foi feito às pressas naquele dia, Chaplin teve que criar seu personagem em apenas alguns minutos. Minutos aqueles que deram vida à um dos personagens mais icônicos do cinema.

Chaplin tinha algo muito instintivo dentro de si quando trabalhava com as câmeras. Ele conseguiu ver o processo de filmagem de uma perspectiva diferente, quebrando a quarta parede, conversando com o público e construindo um universo para além da narrativa dos filmes. Em O Grande Ditador, de 1940, filme que criticava diretamente os governos fascistas, Chaplin usou pela primeira vez a técnica de quebra da quarta parede, direcionando-se para a camera, como forma de fazer um apelo contra o regime.

Charlie Chaplin era uma maestro, e uma das chaves para isso foi soltar e abrir sua mente para estratégias criativas, alterando sua perspectiva sobre como fazer cinema e reconhecendo o poder do gênero comédia usando para impactar e chamar atenção para assuntos polêmicos e de extrema importância.

No entanto, por causa das críticas em seus filmes, Chaplin teve que enfrentar um ponto de virada em sua carreira quando foi banido dos Estados Unidos em 1952, acusado de ser a favor do comunismo. Alguns dos filmes de Chaplin foram considerados pelos Estados Unidos como “propaganda comunista” na época. Chaplin não foi autorizado a retornar aos Estados Unidos, onde viveu por 30 anos. Mesmo assim, depois de banir com sucesso Chaplin do país, os contra-subversivos nunca conseguiram provar que ele era de fato uma ameaça à nação. Chaplin só pôde retornar ao país em 1972, depois de 20 anos, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas lhe premiou com um Oscar honorário.

Charlie Chaplin foi um dos artistas mais incríveis do século 20, mas ser criativo envolve muitos paradoxos. O ator era uma pessoa difícil de lidar, muito perfeccionista e, na maioria das vezes, inflexível, o que se tornou uma armadilha emocional para o ator.

Chaplin filmou nada menos que 342 tomadas para apenas uma cena do filme “Luzes da Cidade”, em 1931. Uma das inflexibilidades mais “famosas” de Charlie Chaplin foi sua recusa em fazer “talkies”, ou seja, filmes falados, quando estes já estavam encantando o público.

Chaplin ficou inseguro durante essa nova era cinematográfica; para ele, a melhor maneira de expressar sua mensagem era usando seu corpo, mas não sua voz.

Depois de alguns anos, Charlie Chaplin finalmente deixou de lado seus paradoxos e fez seu primeiro “talkie”, O Grande Ditador, em 1940. Em 1997, o filme foi selecionado pela Biblioteca do Congresso para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos como sendo culturalmente significativo.

Charlie Chaplin morreu em 1977, aos 88 anos, na Suiça, deixando um legado que vai muito além de seus filmes. Chaplin revolucionou o cinema de dentro para fora, desenvolveu técnicas, arriscou em todos os setores da indústria cinematográfica, reconheceu o potencial da comédia como forma de comunicar e se posicionar, e enfrentou consequências que mudaram completamente o rumo de sua vida, mas nunca deixando de lutar pelo que acreditava, usando a sétima arte como sua mais importante aliada.

  • Marina Vecchi

Marina Vecchi é Produtora Audiovisual e Mestre em Produção de Cinema pela Full Sail University, nos Estados Unidos. Marina atuou no setor de Home Entertainment da Sony Pictures Brasil como Assessora de Imprensa. Já nos Estados Unidos, trabalhou como assistente de produção em séries como “Westworld”, “Kidding”, produzida e protagonizada por Jim Carrey, o clássico da tv americana “The Goldbergs” e a série original do Youtube vencedora do prêmio Emmy 2020, ‘Could You Survive the Movies?’. Agora baseada em Seattle, Marina atua no departamento de cinema do estado de Washington na aprovação e suporte de produções cinematográficas e séries de tv produzidas na região com o incentivo do estado