Cássio Krupinsk (*)
A ascensão dos tokens de ativos reais (RWA, na sigla em inglês), que aqui no Brasil é conhecida como tokenização, trouxe consigo uma nova era para o sistema financeiro, redefinindo os papéis dos agentes envolvidos.
Dados da plataforma RWA.xyz sobre os tokens RWA lastreados em títulos do Tesouro americano revelam que esse tipo de ativo já alcançou a marca de US$ 698 milhões somente em 2023. Além disso, um recente relatório do Citibank aponta que o mercado de tokens RWA deve atingir o valor de R$ 20 trilhões até o final de 2030.
Portanto, a tokenização representa uma mudança tecnológica muito importante – a reconfiguração completa da infraestrutura financeira. Não se trata apenas de um novo setor trilionário de investimentos, acessível apenas aos magnatas de Wall Street ou aos engravatados da Faria Lima, mas também de um mercado que empodera indivíduos com oportunidades que antes eram limitadas e controladas por poucas instituições.
Os tokens RWA vão ainda impulsionar o crescimento de novas plataformas que têm o poder de democratizar o acesso, possibilitando novas perspectivas para diversos agentes e setores que até então não colhiam os frutos dessas negociações, mesmo que muitas vezes eles fossem os originadores dos ativos. Estes, agora, poderão acessar com mais eficiência o mercado de empréstimos, seja como tomadores ou concedentes de crédito.
Na verdade, essa revolução tecnológica está redefinindo quem tem voz e influência no mercado. Para ilustrar todo esse impacto, imagine um incorporador com vasta experiência no ramo. Antes dos tokens RWA ele, mesmo sendo o dono do ativo (terra) e da capacidade produtiva (construção), tinha que “passar o chapéu” de banco em banco, de financeira em financeira, em busca de funding para viabilizar o negócio.
Em cada uma dessas etapas perdia um pouco mais do capital do ativo, seja em taxas, seja na cessão de direitos para levantar fundos. Com os tokens RWA essa lógica muda e o ativo real, quando tokenizado, já ganha valor de mercado, pois passa a ter uma negociação mais fácil, simples e ampla, habilitada pela transparência, imutabilidade e descentralização da blockchain. Dessa maneira, esse profissional pode atuar como a própria arbitragem em suas operações (caso seus ativos sejam de alta qualidade ou liquidez).
Antes à margem das grandes decisões, os originadores de ativos estão ganhando poder e assumindo o controle das negociações, eliminando os intermediários que encareciam o processo e, muitas vezes, eram os que mais lucravam com os ativos sem ao menos serem donos deles.
Isso também abre as portas para acessar novas formas de financiamento e se integrar ao universo da Web3, um ecossistema digital descentralizado e baseado em blockchain. Com a iminente chegada das Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs), no caso do Brasil, com o Drex, a perspectiva de acesso a esse novo universo financeiro se torna ainda mais tangível.
É justamente essa premissa que tem norteado o BC a criar uma plataforma para democratizar o mercado, gerar novas oportunidades e reconfigurar o sistema financeiro nacional com foco no usuário e não mais nos intermediários.
Essa transformação já está em andamento com o Pix e o Open Finance e irá avançar ainda mais com a tokenização. O cenário em desenvolvimento está evoluindo rapidamente e segue oferecendo oportunidades inexploradas para aqueles que buscam inovar e participar ativamente dessa mudança de paradigma.
(*) – É CEO da BLOCKBR (www.blockbr.com.br).