Rodolfo Bacci (*)
O alto investimento em Tecnologia da Informação (TI) já é realidade no Brasil. De acordo com informações da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), o país está entre os 10 maiores mercados globais de TI, com um crescimento constante na adoção de tecnologias avançadas, tendo como reflexo a alta demanda de profissionais qualificados por parte das organizações aqui existentes.
Dados recentes da consultoria Deloitte revelam que empresas que priorizam tecnologia e inovação alcançam receitas e lucratividade duas vezes maiores do que aquelas que não investem nesses setores. A Gartner, por sua vez, também destacou a crescente importância da TI. Segundo as projeções, até o final de 2024, os gastos globais com TI devem atingir US$5,26 trilhões, representando um aumento de 7,5% em relação a 2023.
De modo geral, a expansão acelerada das tecnologias impacta fortemente o mercado. Um estudo do Boston Consulting Group (BCG), que entrevistou 1.400 executivos C-Level em 50 mercados e 14 setores, mostrou que 86% consideram a tecnologia uma oportunidade significativa e 75% planejam aumentar seus investimentos nesse setor neste ano. Isso destaca a necessidade de estar atento às tendências do mercado e de integrar inovações nas estratégias empresariais.
Afinal, a adoção de novas tecnologias oferece inúmeros impactos positivos, como a redução de custos, a melhoria da eficiência operacional e o aumento da competitividade.
. Principais tendências para os próximos meses – Com um primeiro semestre agitado, repleto de debates, inovações e novas demandas no setor tech, as tendências previstas entre 2023 e 2024 foram refinadas e adaptadas às novas necessidades. A partir dessas análises, é possível destacar:
- Adaptação e maior utilização de IA – Um dos segmentos que continuará atraindo investimentos substanciais é a Inteligência Artificial (IA). Além de facilitar tarefas rotineiras com rapidez e precisão, a IA reduz a complexidade de processos e atividades burocráticas nas empresas. Em 2024, a IA Generativa (IA gen), que vai além da simples análise e automação, também tem ganhado destaque, criando conteúdos e soluções inovadoras.
Grandes modelos de linguagem (LLMs) e técnicas avançadas de machine learning permitem que a produção de insights originais, automatização de processos criativos e personalização de experiências de maneira mais intuitiva e eficiente.
Entretanto, a crescente utilização da IA demanda que os trabalhadores desenvolvam novas habilidades. Georgios Petropoulos, pesquisador do MIT, destaca que trabalhadores com qualificações médias estão em risco de substituição por tecnologia ou por profissionais que saibam operá-la. Nesse sentido, é provável que cursos de qualificação em IA tenham alta demanda nos próximos meses, movimento também impulsionado pelo aumento do uso da IA por setores fora do tech.
Outro ponto relevante e que deve contribuir para incrementar a utilização dessa tecnologia é que, no Brasil, foi aprovado recentemente o Novo Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. A iniciativa prevê o aporte de R$1,76 bi para melhoria de serviços públicos.
Porém, sabemos que a IA não caminha sozinha: a importância da contratação e qualificação de profissionais que não apenas entendem as tecnologias atuais, mas também estão preparados para se adaptar e aprender inovações emergentes é destacada por vários estudos do setor.
Segundo o relatório da McKinsey, empresas que investem em treinamento e desenvolvimento de habilidades tecnológicas tendem a ter um desempenho 45% melhor no mercado do que aquelas que não investem. O LinkedIn’s Workplace Learning Report revela que 94% dos respondentes afirmaram que ficariam mais tempo em uma empresa se ela investisse em seu aprendizado e desenvolvimento.
A necessidade de aprimoramento contínuo de habilidades é sublinhada pela rápida evolução das tecnologias, que transformam os modelos de negócios e operações.
- Maiores investimentos em cibersegurança – Com os ataques hackers, golpes virtuais, disseminação de imagens e notícias falsas, apagões cibernéticos, entre outros desafios, o investimento em cibersegurança se tornou uma demanda prioritária para as organizações. Segundo um estudo recente divulgado pela Ernst & Young (EY), a cibersegurança é atualmente a segunda prioridade de investimentos em IA para os CEOs, perdendo apenas para a produtividade.
- Manuseio e proteção de dados – Definido como “matéria-prima da informação”, os dados são o conhecimento bruto, ainda não devidamente tratado, que pessoas e instituições produzem, compartilham e disponibilizam, sendo muitas vezes utilizados como provedores de insights e principal fonte orientação de ações por parte de empresas. Não por acaso, o manuseio, tratamento e segurança dessas informações se torna uma prática cada vez mais necessária.
Debates sobre o assunto, como o visto recentemente no episódio no qual o Governo proibiu a empresa Meta de usar dados de brasileiros em IAs, como também, o fim dos cookies terciários, serão vistos com mais frequência nos próximos meses, demandando novos adendos à legislação sobre a sua utilização nos próximos anos.
- Aumento da utilização de cloud computing (computação em nuvem) – A tecnologia em nuvem (cloud computing) se refere à infraestrutura que oferece serviços de computação através da internet, dispensando a necessidade de data centers físicos. Com uma demanda em constante evolução, a computação em nuvem está projetada para um crescimento contínuo, especialmente entre empresas que adotam estratégias multi-nuvem e híbridas.
Essas empresas combinam infraestruturas locais com diversas plataformas de nuvem para alcançar maior flexibilidade e segurança. Segundo um levantamento da IDC, até o final de 2024, o mercado de soluções de dados na nuvem no Brasil deverá alcançar US$1,5 bi e essa tendência de crescimento acelerado deve continuar nos próximos anos.
Portanto, assim como no primeiro semestre, o segundo trará a continuidade dos avanços e investimentos em tecnologia e na indústria 4.0, mas de maneira mais ampla e concreta. Nestes próximos meses, devemos observar a aplicação de capital na área por empresas de diversos setores, independentemente de terem a tecnologia como core business, abrangendo tanto entidades privadas quanto públicas.
É fundamental reconhecer o papel da Tecnologia da Informação como uma parte integral da estratégia de negócios e se aliar a ela. Devemos nos empenhar em estudar e acompanhar suas inovações, constantemente aprimorando nossas habilidades. Assim, é possível impulsionar de forma prática os resultados das empresas, além de contribuir para o progresso da sociedade como um todo.
(*) – É Diretor Comercial na Runtalent, especializada em alocação de profissionais de TI, suporte de projetos e operações, squads ágeis e fábrica de software (https://runtalent.it/).