Diálogo e estímulo ao trabalho conjunto é caminho para impedir que membros de uma mesma equipe tentem atrapalhar um ao outro
O convívio no ambiente de trabalho nem sempre é tão amigável quanto se deseja. Em não raras ocasiões, colaboradores entram numa verdadeira competição entre si, um tentando se sobressair ao outro para se mostrar mais digno de reconhecimento. Para gestores, esse comportamento pode até soar proveitoso, afinal os trabalhadores estão se esforçando para ter um melhor desempenho na empresa. Porém, segundo o escritor Uranio Bonoldi, especialista em carreira, negócios e tomada de decisão, a competitividade deve ser observada de perto, uma vez que as motivações reais podem estar muito mais atreladas a motivações pessoais que os verdadeiros objetivos e valores da companhia.
Bonoldi, que é autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, pontua que a competitividade exacerbada pode criar um ambiente de trabalho tóxico, no qual as pessoas perdem a confiança umas nas outras. “Isso pode ocorrer de forma velada, com situações pontuais que evidenciem a inimizade e a rivalidade entre as pessoas, até mesmo a problemas mais graves, como fofocas, sabotagens, mentiras… Como é possível trabalhar num ambiente em que as pessoas estão tentando te derrubar e passar por cima de você? As pessoas que atuam numa mesma equipe precisam, acima de tudo, partilhar do sentimento de que estão no mesmo barco, e o que é bom para empresa é bom para todos. A competitividade, assim, é muito mais uma preocupação egocêntrica que um estímulo ao desenvolvimento dos negócios”, aponta.
O escritor afirma ser necessário um olhar cuidadoso para situações em que a competitividade seja estimulada pela própria empresa. “Em trabalhos onde cada colaborador precisa, por exemplo, bater metas de vendas ou de atendimentos, a competição pode parecer um recurso válido para estimular o alcance dos objetivos. Porém, quando essa questão se eleva e a rivalidade deixa o campo da busca saudável por evolução profissional, a situação torna-se um risco. A falta de união entre os colaboradores pode levar ao colapso da equipe, que passa a ter dificuldades para trabalhar coletivamente”.
O risco se dá justamente pela condição humana de ter o seu ego ferido ao ver um companheiro ter um melhor desempenho e, consequentemente, melhores ganhos e prestígio. “Não se pode ignorar essa questão quando se pensa em gestão de pessoas. A competitividade leva os colaboradores a se sentirem fragilizados e subestimados quando veem outros recebendo o que eles gostariam de ter. Para pessoas que trabalham em conjunto, isso não é um bom sinal, ainda que cada uma receba salários e comissões pelo desempenho individual. Sempre que possível, é importante lembrar os colaboradores que, ao final do dia, estão todos na mesma companhia e eles precisam atuar coletivamente, mantendo-se alinhados aos reais interesses da empresa”, frisa o escritor.
Segundo o autor, é necessário se comunicar com os colaboradores ressaltando, sempre que possível, a necessidade de confiança mútua e trabalho em equipe. “Se possível, crie projetos que justamente estimulem a atuação coletiva, para que eles saibam a importância de estarem na mesma sintonia, deixando de lado qualquer resquício de rivalidade. E caso seja necessário, converse diretamente com colaboradores que estejam se excedendo na competitividade, para encontrar as possíveis causas e esclarecer os riscos que tal comportamento oferece”, afirma.
Para Uranio Bonoldi, o importante é que o ambiente de trabalho seja o mais agradável quanto for possível, com pessoas motivadas a ter um bom desempenho sem que isso coloque em risco princípios éticos. “Sabemos que o mercado de trabalho pode mesmo ser hostil, mas não podemos nos deixar levar. Mesmo que seja dentro de nossas limitações, devemos nos esforçar para garantir que nossos negócios sejam movidos pelo bem coletivo, sem que um colaborador precise anular o outro para vencer. Essas medidas é que realmente vão fazer a diferença, com a garantia de um cultura organizacional sadia e eficiente”, finaliza.