Ricardo Haag (*)
O que é melhor: executivos com anos de experiência em uma mesma empresa ou aqueles que possuem um repertório diverso em várias companhias diferentes? As mudanças na lei da oferta e demanda do mercado impactaram diretamente a resposta desta pergunta e, por mais que esse tempo seja relativo conforme o cargo em questão, existem alguns fatores que devem ser levados em consideração para que essa troca de empregos não prejudique a reputação deste talento em suas futuras oportunidades de carreira.
Em uma breve retrospectiva, podemos notar a clara diferença nas perspectivas empregatícias dos profissionais. O sonho em fazer carreira em uma mesma empresa fortemente permeada na sociedade nas décadas de 70 e 80, hoje, não se mostra mais igualmente desejado. A estabilidade e segurança foram gradativamente perdendo espaço para um mercado mais dinâmico, impulsionando uma movimentação mais frequente em vista, principalmente, da maior conscientização dos profissionais sobre seu poder de escolha.
Se antes o poder de barganha estava predominantemente nas mãos das contratantes, atualmente, elas percebem que não dispõem do mesmo poder unilateral. Muitos profissionais, inclusive, realizam uma avaliação muito mais precisa de seu possível novo empregador, analisando seus valores e perspectivas para escolherem se querem ou não integrar esse time. Uma decisão que, nitidamente, não se baseia mais apenas em questões financeiras.
E, por mais que essas movimentações tenham se tornado uma realidade muito presente no mercado global, é fato que, nem sempre, ainda são bem-vistas por muitos negócios – principalmente, em posições de maior responsabilidade, como os C-Levels.
Quando olhamos para essa agenda de top management, notamos um ciclo mínimo esperado de três anos destes profissionais em uma mesma empresa – em que, no primeiro, o executivo se dedicará a conhecer todas as pessoas que ali trabalham e adquirir sua confiança; no segundo ano, irá executar suas tarefas e garantir a evolução do empreendimento; e no terceiro, irá gerar seu legado e sucessão, de forma estruturada.
Aqueles que cumprem esse ciclo e ainda fortalecem sua carreira no local por mais anos, costumam ser muito bem-vistos pelo mercado e altamente desejados pelos recrutadores. Enquanto, aqueles que não finalizam esse tempo mínimo, normalmente, precisam explicar muito bem os motivos pelos quais trocaram de emprego precocemente. Afinal, é muito comum observar um certo receio em contratar estes profissionais, considerando a probabilidade de também deixarem o novo cargo rapidamente.
Prova disso está em dados divulgados no relatório Challenger, Gray & Christmas. Em uma pesquisa feita no mercado norte-americano, foi constatado que os principais executivos na região têm abandonado os seus cargos a um ritmo alarmante, além de terem reduzido seu tempo médio de permanência na empresa de 12 anos para cerca de cinco a sete anos. Apenas em 2023, mais de 1.000 CEOs deixaram as suas empresas, quantia 33% maior do que a do ano passado, o que vem gerando uma inevitável preocupação, especialmente aos conselhos e acionistas.
Se pensarmos em nossas carreiras como um livro, devemos ter cuidado com a forma com que ele está sendo escrito. Em meio a um mercado altamente instável e, após fenômenos preocupantes recentes, como os layoffs, é fundamental que os profissionais – especialmente, os C-Levels – tenham muita consciência de que cada escolha é um capítulo dw sua biografia.
A dica de ouro é: pense muito bem antes de avaliar uma mudança, avalie cuidadosamente a proposta recebida e, assuma a responsabilidade sobre o que for decidido. Lembre-se que o dinheiro, nem sempre é tudo, e sua reputação na área, bem como oportunidades de prosperidade, também precisam sempre ser levadas em consideração nesse momento.
(*) É sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.