Carolina Rezemini (*)
Mal entramos em 2022 e uma série de eventos climáticos tanto no Brasil quanto mundo afora reforça nossa atenção para as questões ambientais. Existem, sim, grandes iniciativas em busca de mudanças importantes, como as tentativas de redução de gases de efeito estufa e a implementação de gestões eficientes de resíduos.
Mas é preciso ampliar ainda mais o entendimento de que atitudes em favor do ambiente devem permear nosso cotidiano como um todo e não somente serem alocadas em uma “gaveta comportamental” específica, ou completamente delegadas a autoridades ou corporações. Por sinal, muitos consumidores dão mostras de que têm adotado posturas mais ativas em favor de práticas sustentáveis, e aqui estendendo o conceito para o âmbito da responsabilidade social.
Uma pesquisa global divulgada em 2021 pela KPMG apontou que, ao se decidir por uma compra, um quarto dos 75 mil entrevistados leva em conta se a empresa vendedora possui ao menos um fator ESG — sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa — em suas políticas. Além disso, 16% afirmaram considerar relevante o aspecto de consciência social das marcas.
O Brasil se destacou no estudo no sentido do aumento da presença entre os que mais se preocupam com as práticas socioambientais das empresas. Entre 2019 e 2020, o número de brasileiros atentos a esse tópico cresceu 9%, maior percentual de variação positiva entre os países pesquisados. É um indicativo de que o nível de consciência da nossa população em relação aos problemas dessa natureza está aumentando e se traduzindo em ações do dia a dia.
Por sua vez, as organizações se veem impelidas a melhorar processos, desenvolver estratégias e implementar culturas que minimizem os impactos negativos de suas operações para a sociedade e o ambiente. E fazem questão de ostentar seus novos rumos em campanhas de marketing e publicidade, às vezes até incorrendo no risco de amplificar no discurso iniciativas nem tão significantes assim.
De qualquer maneira, são inegáveis alguns avanços, ainda que se discuta se são ou não suficientes. E eles estão também no setor de análises financeiras. Em dezembro último, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) passou a exigir informações ESG das empresas listadas na bolsa brasileira, tais como avaliação e gerenciamento de riscos climáticos.
Porém, nesse âmbito, o caminho a percorrer ainda carece de uma pavimentação mais robusta, conforme sugere um artigo de 2021 do Fórum Econômico Mundial. De acordo com a publicação, as pessoas físicas se interessam por sustentabilidade, mas poucas de fato investem seu dinheiro tendo esse critério em mente.
Na avaliação dos autores do escrito, o português Rodrigo Tavares, presidente do Granito Group, e o economista australiano Simon Smiles, a falta de simplicidade e de padronização da indústria é um entrave para esses investidores, que sentem falta de uma maior clareza nos dados para fazerem suas escolhas.
Na seara do acesso ao crédito, há medidas que demonstram objetividade. Para a concessão de crédito rural oficial, o Banco Central do Brasil divulgou em setembro do ano passado critérios sociais, ambientais e climáticos. O solicitante, seja pessoa física ou jurídica, não pode, por exemplo, estar inscrito no cadastro de empregadores que mantiveram trabalhadores em condições análogas às de escravo, e a propriedade não pode estar situada no bioma Amazônia ou ter embargo por conta de área desmatada ilegalmente.
Mas não é necessário chegar às instalações agropecuárias para constatar que o setor de empréstimos tem de fato considerado o ESG ao estabelecer condições de negociação. Já há instituições de crédito no país que oferecem taxas de juros menores para quem quer financiar a aquisição de equipamentos que visam à proteção ambiental mesmo para a própria casa, como sistemas de geração de energia solar fotovoltaica ou para captação de água da chuva.
Esse tipo de benefício, ainda que pontual, contribui para a constituição de ciclos virtuosos de mudança de comportamento em diversos aspectos. A transformação de um hábito de consumo, o da adoção de insumos renováveis, é reforçado pelo impacto dessa atitude no bolso, não só por meio da oferta de termos mais favoráveis de tomada de capital, mas também pela economia gerada nas contas de água e energia elétrica com a instalação de novos dispositivos.
Tenho a impressão de que, cada vez mais, é preciso trabalhar pela convergência dos caminhos que levam ao fomento do ESG. Nesse pacote, podemos incluir conceitos como os de consumo consciente e equilíbrio orçamentário, itens que certamente estão na lista de lições de casa para uma vida em seu todo mais sustentável.
(*) – Formada em Engenharia de Produção pela FEI, com pós pela FGV e MBA pela USP, é Diretora Regional de Vendas para a América Latina da Credolab
(www.credolab.com).