Luiz Menezes (*)
O mundo inteiro já tem conhecimento de que Donald Trump venceu Kamala Harris e foi eleito para governar os Estados Unidos novamente, que possui uma votação diferente do Brasil.
Enquanto votamos em um dia em urnas eletrônicas, lá existe a possibilidade de votar antecipadamente e até mesmo enviar o voto por correspondência, sendo que os votos são impressos. Por esse motivo, as apurações costumam durar bem mais, apesar de que dessa vez, na manhã seguinte já sabíamos o resultado.
O fato é que essa foi uma das eleições presidenciais que mais dividiu opiniões nos últimos tempos, fazendo com que a rivalidade entre democratas e republicanos fosse cada vez mais acentuada, o que constantemente provocou e ainda provoca discussões entres os eleitores, nas ruas e, principalmente, na internet, onde as pessoas – mesmo que estejam a quilômetros de distância uma da outra – conseguem se atacar e se ofender por causa de política.
Entre os eleitores que participaram desses debates online, devo destacar a Geração Z, que são as pessoas de 13 a 27 anos, conhecidos como nativos digitais, ou seja, estão acompanhando tudo que acontece pelas redes sociais. E que também são fortemente influenciados por artistas, atores e cantores, a exercerem o seu papel como cidadãos. Afinal, o voto não é obrigatório nos Estados Unidos.
Uma grande exemplo disso é que depois que a popstar americana Taylor Swift declarou seu apoio a Kamala Harris na corrida presidencial e pediu para que os fãs, conhecidos como ‘swifties’, não deixassem de ir até as urnas, cerca de 338 mil pessoas buscaram informações para se registrarem para votar, de acordo com os dados da Administração de Serviços Gerais (GSA), uma agência federal que fornece serviços governamentais.
Isso só prova que voz de personalidades como Taylor não ressoam apenas nos palcos, mas também nas urnas. A verdade é que o envolvimento de celebridades na política não é novo, mas o impacto nunca foi tão forte quanto agora, reforçando o poder da creator economy. Quando artistas decidem se posicionar, ajudam a mobilizar e engajar gerações inteiras, principalmente os mais jovens, que encontram em seus ídolos uma ponte para temas complexos como questões políticas ou sociais.
E algumas vezes, não precisa ser um artista. O bilionário e dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, declarou apoio a Donald Trump e fez campanha aberta para ele na rede social, incentivando milhares de usuários a votarem no até então candidato.
Apesar que, neste caso, entramos em outra esfera, afinal, por ser o dono, Musk tem controle do conteúdo, fazendo com que chegue a cada vez mais pessoas, e aproveitando o espaço para publicar o que que quiser, sem se importar com fake news. Com a vitória de Trump, ele foi nomeado como Líder do Departamento de Eficiência do Governo.
Pesquisas realizadas pelo Pew Research Center mostram que a Geração Z enxerga as redes sociais como um meio muito importante para amplificar vozes e assim conseguir fornecer visibilidade a temas sociais e políticos. Cerca de dois terços acreditam que as redes ajudam a destacar pautas relevantes e a cobrar figuras públicas. Ou seja, essa é uma das razões do porque, tanto Kamala quanto Trump, investiram nas redes sociais.
Apesar do sucesso conquistado por Kamala na internet, é inegável que Trump sempre foi uma personalidade midiática e sabe usar os recursos tecnológicos para chegar onde quer, atingindo a cada dia um número maior de pessoas, especialmente eleitores mais jovens, que também podem ser muito conservadores e que provavelmente devem enxergar no presidente eleito uma figura de progresso para o país.
Por outro lado, apesar da vitória considerada histórica do candidato republicano, uma pesquisa promovida pela rede de TV americana NBC em parceria com a SurveyMonkey, apontava que Kamala Harris era a escolhida por 60% dos eleitores da Geração Z. Dos mais de 2,6 mil entrevistados no período, 50% apoiavam Kamala Harris, enquanto 34% apoiavam Donald Trump.
A questão é que conquistar esse público é um desejo de todos, sejam marcas querendo vender seus produtos, ou políticos querendo receber votos nas eleições. E por quê tanto esforço? A Geração Z é considerada uma das mais engajadas e possui forte presença nas redes sociais, então são vistos como ditadores de tendências e influenciadores de opinião, sejam entre amigos e principalmente na própria família.
Um exemplo disso é que na Argentina, Javier Milei se destacou ao construir uma presença no TikTok cinco vezes maior que a de outros candidatos, usando vídeos que simplificavam suas ideias e o tornaram popular entre eleitores da GenZ. Dados de 2023 mostram que 38,6% dos jovens latinos passam de 1 a 3 horas horas por dia nas redes sociais – e 20,4% passam mais de 3 horas, sendo o TikTok e o Instagram as plataformas mais acessadas.
A GenZ tem uma grande influência sobre todas as outras gerações, afinal, é a geração que mais produz e compartilha conteúdo no mundo, segundo dados da Edelman. E é inegável que as eleições presidenciais dos EUA afetam os rumos e impactam também as nossas próximas eleições daqui a dois anos. Mas não precisamos ir tão longe para percebermos tais movimentações.
O debate contra a escala de trabalho 6×1, que recebeu grande mobilização digital por influência de políticos com alta presença nas redes, como Erika Hilton, atraiu o olhar não só da Geração Z para a pauta, como levou manifestantes às ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A verdade é que a creator economy é cada vez mais capaz de promover impactos sociais, políticos, e consequentemente econômicos pelo mundo.
(*) – É fundador da Trope, consultoria de geração Z e Alpha que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio (https://www.trope.se/).