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Os caminhos para o futuro do ecossistema de saúde no Brasil

em Destaques
sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Osistema de saúde avançou dez anos em dois durante a pandemia. Com novas tecnologias, telessaúde e o desafio de se implementar o open health (um sistema de saúde aberta), passou por “um grande aprendizado, demonstrou resiliência e implementou novas agendas para o setor”. A análise é de Luciane Infanti, sócia e líder da consultoria estratégica EY-Parthenon para a América do Sul.

Na semana passada, Luciane recebeu Leonardo Vedolin?(CMO da Dasa), Guilherme Weigert (CEO do Grupo Conexa) e Ricardo Santoro (CIO da Oncoclínicas) para uma discussão sobre ecossistema de saúde, na 8ª edição do Healthcare Innovation Show, em São Paulo. Segundo Luciane, a partir de 2020, houve o primeiro movimento de integração consistente de dados públicos e privados com olhar único no paciente com o projeto de lei sobre o open health.

“Também houve um movimento importante na discussão da telessaúde e a formalização da telemedicina como um modelo formal de atendimento, como uma porta de entrada indo além do consultório ou do?pronto-socorro. Além disso, fez-se uma discussão sobre como gerar valor no momento em que a saúde pós-pandemia virou o segundo item mais importante na vida dos brasileiros”, completa.

De acordo com Índice de Desenvolvimento do Setor de Varejo, que captura trimestralmente o que é relevante para as famílias brasileiras, principalmente aquelas que recebem entre 2 e 5 salários mínimos, a saúde deixou de ser a quarta prioridade na vida do cidadão e passou a ser a segunda, ficando atrás de alimentação e superando moradia e educação. “Temos nessa faixa uma concentração bem importante de uma população que não tem acesso à saúde suplementar”, salienta.

Guilherme Weigert (Grupo Conexa) concorda sobre a telemedicina ser uma “porta de entrada” ao novo movimento de atendimento na área da saúde. “De fato, é um check-in. Você faz o seu check-in, entende seus dados e aí começa a ser ‘navegado’ pelo sistema de saúde.” Segundo ele, antes da pandemia, o Grupo Conexa fazia 2 mil atendimentos por mês. Atualmente são mais de 600 mil por mês. “A pandemia acabou motivando a experimentação. Vemos um ponto muito importante de conexão entre o digital e o físico neste momento”, diz. ?

A regulamentação da telemedicina, durante a pandemia, ajudou a derrubar uma barreira para a saúde digital. Um levantamento feito pela EY mostra que, em algumas carteiras do setor de saúde privada, 78% dos pacientes fizeram ao menos uma teleconsulta ao longo da pandemia. Dentro desse grupo, 80% dos casos foram resolvidos na própria consulta por vídeo, 15% demandaram exames laboratoriais e somente 5% foram encaminhados a um pronto socorro.
Open Health

Uma das jornadas do ecossistema de saúde é tirar a doença do centro de atuação e colocar o cuidado. Para Leonardo Vedolin (Dasa), houve um avanço nesse sentido. “A discussão do ecossistema começa a convergir mais para este caminho, que começa por confiança, passa pelo open health e termina em relação a financiamento”, explica.

Segundo Weigert, o Conexa já está preparando sua estrutura e sua arquitetura no âmbito do open health, como a forma de capturar o dado, se preocupar com a tomada de decisão e a gestão de indicadores. “Outro desafio são os modelos de remuneração e de negócio que ainda estão muito focados nos eventos”. Para Santoro, a parte tecnológica está madura. “A tecnologia de banco de dados amadureceu muito. Do ponto de vista da prática, ainda não vi as empresas usarem toda essa informação disponível. Mas o modelo econômico está forçando para a prática”.

Luciana comenta que o país está no terceiro projeto de lei aprovado que define os parâmetros principais de cada indivíduo brasileiro que será registrado. “O que percebemos como discussão do open health é um movimento por além de qualquer janela política, porque deixou de lado a necessidade de integração de prontuário para falar de integração de dados da saúde, dados transacionais que já são padronizados e compartilhados. O open health vem com uma força de que já há informações que podem ser integradas mesmo não havendo um prontuário único.?Isso traz uma agenda de transparência”, afirma Luciane.

Para Santoro, é natural que o governo tenha essa discussão. “Não vejo dificuldades do ponto de vista tecnológico, mas para dar o passo que realmente atinja o paciente?será necessário a?força do governo. As organizações, de maneira independente, não farão esse movimento por questões de competição ou financeiras”. Vedolin aponta duas outras questões que precisam ser debatidas: Lei Geral de Proteção de Dados?(LGPD)?e segurança de informação relevantes.

“O cenário de cybersecurity não é o mesmo de dez anos atrás. Temos visto vários eventos pesados. Então precisa-se pensar em como isso será endereçado dada a fragilidade de infraestrutura, arquitetura nuvem, sistema e servidores”, afirma.

“Mas o que eu acho mais difícil para identificar nesse cenário é que: uma coisa é o dado, outra é a informação que o dado gera. Outra?é a ação que essa informação?qualificada vai gerar e outra ainda é o desfecho. É um pouco simplista imaginar que tudo isso está definido e que, a partir de agora, a questão de interoperabilidade está resolvida”. Fonte: (Agência EY).