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O que a Bossa Nova pode te ensinar sobre empreendedorismo?

em Destaques
sexta-feira, 30 de julho de 2021

Christopher Spikes (*)

Sendo um americano apaixonado pelo Brasil, um dos elementos que mais me chamou a atenção quando cheguei no país foi a música brasileira. Achei interessante como os compositores romantizam a tristeza, principalmente na Bossa Nova e no Samba.

Como a música é uma importante expressão cultural, ouvir composições nacionais me fizeram entender mais rapidamente como os brasileiros enxergam barreiras e nas adversidades dão lições de perseverança, superação e grit, trazendo confiança e esperança de que um dia será possível vencer.

Trouxe esses aprendizados para o meu negócio, já que ao empreender você encontra muito mais pontos baixos do que altos. E se você entender que a tristeza é natural e necessária para superar, vai aprender a apreciar os momentos de “baixa” e usá-los ao seu favor.

Separei 4 músicas brasileiras que me ajudaram a enxergar melhor as minhas tristezas e vencer meus obstáculos como empreendedor:

  1. – A felicidade por Tom Jobim – “Tristeza não tem fim, felicidade sim”.
    Essa música me impactou muito desde a primeira vez que a escutei. A canção fala sobre a fragilidade de um dia de felicidade, que passa em uma piscada de olhos, enquanto um dia de tristeza parece ser uma eternidade. Eu entendi que é necessário exercitar a visão de que ambos são efêmeros, têm data de validade e não podem nos impactar com emoções extremas.

Ganhar não significa que você está no seu melhor, assim como perder não te define como um profissional ou empreendedor ruim. Aceite o sucesso sem arrogância e deixe a fraqueza passar com uma certa indiferença, absorvendo os aprendizados para usar na sua evolução.

  1. – Ando escravo de alegria por Toquinho – “Ando escravo de alegria”.
    O título dessa música diz tudo. Se você está buscando empreender e precisa de alegria para seguir em frente, provavelmente, esse não é o caminho certo para você. Será necessário passar por muitos momentos de solidão, você encontrará pessoas que não entenderão porque está arriscando tanto e passará muito tempo sentindo-se à beira do abismo.

Para não ser escravo de alegria, é preciso abraçar também as tristezas e fraquezas. Afinal, não conheço um empreendedor que alcançou o sucesso sem amar a batalha que enfrentou no caminho.

  1. – Samba de benção por Vinicius de Moraes –
    “Mas pra fazer um samba com beleza
    É preciso um bocado de tristeza
    É preciso um bocado de tristeza
    Senão, não se faz um samba não”.

Assim como no Samba, para construir um negócio de sucesso a tristeza também é fundamental. Muitas vezes ela é o catalisador que nos deixa um pouco desapontados com nós mesmos, trazendo maior complexidade para nossas ações e nos fazendo repensar ações e estratégias. Ou seja, a tristeza é uma verdadeira alavanca para os momentos de felicidade.

Sem isso, o risco de declarar vitória cedo demais e se encontrar em uma zona de inércia é alto. Queremos ser empreendedores para chegar ao final e declarar vitória, mas a esperança de sair de situações difíceis, aguentar graves revés e sair mais forte, realmente, é a parte mais rica dessa experiência. E, francamente, é o que define você e a sua organização.

Desde que samba é samba por Caetano Veloso –
“A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba, é assim”.

Se a tristeza é tão antiga quanto o próprio tempo, como poderia algo tão velho e natural ser desnecessário? Fracassos, contratempos e adversidades são parte do processo de formação dos humanos – especialmente dos empreendedores.
Tudo isso não é para dizer que nunca vamos sentir dor.

Se eu falasse para você que ao colocar sua mão no fogo vai doer muito, mesmo sabendo, isso não reduziria a dor que vai sentir. Porém, com a tristeza é diferente. Se olharmos com naturalidade e percebermos que ela é necessária para o nosso desenvolvimento e abraçarmos ela um pouco mais, vamos aceitar a riqueza desse sentimento como o par da felicidade.

Aprendi muito com a música brasileira através dos mestres do Samba e da Bossa Nova, que já nos mostraram o rumo para seguir empreendendo!

(*) – Iniciou sua carreira na Siemens como engenheiro focado no setor de logística e distribuição e possui um MBA da Booth School of Business da Universidade de Chicago. É fundador e CEO da Authen (www.authen.com.br).