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O papel dos seres humanos em dar vida à Internet das Coisas

em Destaques
segunda-feira, 30 de março de 2020

Roberto Wik (*)

Quão grande é este mundo? Qual é o tamanho do seu mundo digital hoje? Possivelmente você tem hoje cerca de cinco dispositivos digitais conectados que fazem desaparecer as fronteiras entre o universo digital e o físico, fenômeno também chamado de “phygital”. A Internet das Coisas (IoT) está nos levando para a jornada de transformação de um mundo essencialmente físico para o futuro em que atravessamos um mundo “phygital” sem perceber a diferença.

Atualmente um automóvel conta em média com mais de cem sensores. Metade deles monitora a função e o desempenho do motor; outros gerenciam sistemas de frenagem antibloqueio, controle ativo de tração e suspensão, ar interno e pressão dos pneus. Do ponto de vista de segurança, confiabilidade e conforto, os carros nunca foram melhores – e o futuro promete apenas mais avanços.

Então, por que a maioria dos recursos projetados para automóveis novos hoje em dia – para conforto, facilidade de uso, navegação e até segurança – permanece sem uso após as primeiras semanas da compra do carro? As pessoas as experimentam e depois as desativam ou as ignoram? O que está faltando? A resposta parece estar na seguinte afirmação: sensores fazem sentido quando carros são construídos para pessoas. Os automóveis são projetados com recursos que os designers consideram atraentes e importantes.

Mas engenheiros e tecnólogos geralmente desenvolvem recursos e produtos inteiros sem examinar como os motoristas e passageiros realmente se comportam. Não são apenas carros. Muitos produtos lançados no mercado hoje – de sensores industriais a relógios inteligentes; de geladeiras até equipamentos pesados – incorporam recursos que proprietários ou operadores nunca usam, porque são difíceis de adotar, muito pesados ou simplesmente não são relevantes para os usuários. E isso tem de mudar.

No sistema de IoT os dispositivos de computação ou outras máquinas digitais estão inter-relacionados e podem transferir dados entre si por uma rede (não requer nenhuma interação humana). Os dados são gerados por vários tipos de dispositivos, processados de diferentes maneiras, transmitidos e respondidos por muitos aplicativos.

Os dispositivos enviam e recebem dados interagindo com a rede em que eles são transmitidos, normalizados e filtrados usando Edge Computing antes de aterrissar no armazenamento, onde ficam acessíveis por aplicativos que os processam e os fornecem às pessoas que agem e colaboram. Esse modelo de referência ajuda a simplificar o sistema complexo, esclarece com precisão os níveis de IoT, identifica diferentes partes do sistema, padroniza a criação de produtos e organiza dados.

O mercado global de dispositivos de IoT foi avaliado em cerca de US$ 31,5 bilhões em 2016 e deve chegar a US$ 158,1 bilhões em 2024, de acordo com a consultoria Gartner. O mercado global de dispositivos de Internet das Coisas deve crescer a uma taxa de 23% ao ano entre 2017 e 2024. Somente na Índia mais de 15 milhões de oportunidades de trabalho foram criadas pela IoT.

Com isso fica evidente e se torna crucial que qualquer organização se informe das tendências crescentes da Internet das Coisas, uma vez que ela está abrindo novas oportunidades de crescimento e mudando a forma como os negócios funcionam. No entanto, muitas organizações acham difícil desenvolver uma estratégia de IoT, não têm as habilidades necessárias para alavancar os recursos e muitas vezes lutam para trazer ideias tangíveis ao mercado que possam proporcionar um impacto significativo nos negócios, com produtos e soluções inteligentes para obter eficiência, permitir a personalização e melhorar a experiência do usuário como nunca antes.

Muitas empresas e compradores individuais não percebem os benefícios prometidos ou o valor esperado da IoT, levando a taxas de adoção inferiores ao esperado e a um retorno do investimento (ROI) reduzido. O problema é particularmente grave ao desenvolver soluções de IoT para aplicações industriais (conhecidas como IIoT), para as quais as soluções devem ser escaláveis e em que o ROI de curto e longo prazo é imprescindível para promover a adoção pela empresa.

O cerne do problema, como vemos, é que muitas soluções de IoT hoje estão sendo projetadas sem foco suficiente nas experiências humanas. De fato, a IoT terá um desempenho insuficiente se as empresas não se concentrarem no design focado no “humano”, que agrega valor tangível a clientes, funcionários, parceiros e outras partes interessadas.

IoT não é miragem. Algumas organizações de diversos segmentos já estão gerando resultados impressionantes. Muitas dessas empresas estão explorando como as soluções de IoT agregam valor, ou menor custo, ou ambos. Toda empresa tem sua própria cadeia de valor discreta e identificável. O objetivo de toda melhoria de processo – incluindo o design e a implementação de soluções de IoT – é otimizar essa cadeia de valor.

No negócio de seguros, por exemplo, pode ser a subscrição ou o processo de solicitações de sinistro ou reembolso. No varejo, o gerenciamento assertivo de estoque. Na manufatura, operações de chão de fábrica orientadas por inteligência artificial (IA) e uma cadeia de suprimentos automatizada. Em produtos médicos, pesquisa, desenvolvimento e testes de produtos.

Praticamente para todas as soluções de IoT é imprescindível que os usuários as adotem e as usem com facilidade e conforto. Os seres humanos têm um papel central em dar vida à IoT, e isso continuará. O design bem-sucedido da solução começa não com a tecnologia, mas com a compreensão do que nós, humanos – como consumidores, operários, agentes de reparo e muito mais -, queremos e precisamos.

Colocar os seres humanos no circuito evita a criação de soluções técnicas que as pessoas usam sob mandato, e não por opção. A mudança do insight para as coisas começa com a pesquisa de necessidades e comportamentos, seguida pelo desenvolvimento de casos de uso, protótipos e testes na vida real. Os produtos de maior sucesso são aqueles que se escondem invisivelmente na vida do usuário, atendendo a necessidades que podem nem ser conscientemente reconhecidas.

Passar a percepção humana para as coisas ajuda a criar a Internet das Coisas para nós.

(*) – É diretor de Indústria e Varejo da Cognizant na América Latina
(www.cognizant.com.br).