Patricio Santelices (*)
O Plano Real está caminhando para completar 30 anos sendo lembrado como a maior substituição de dinheiro na história recente do país. Em 1º de julho de 1994, foram emitidas as primeiras cédulas. Poucos meses depois, o Banco Central conseguiu recolher uma média de 3 bilhões de Cruzeiro Real, colocando em circulação cerca de 2 bilhões de notas de Reais.
Desde sua criação, a moeda conheceu seis presidentes e ganhou o nome em uma homenagem ao Réis, que imperou no Brasil por mais de 400 anos – e vale lembrar: não teve a mesma estabilidade do Real, sendo engolida pela inflação de Portugal na época. O Real foi lançado com o objetivo de estabilizar a economia, assolada por uma hiperinflação crônica que tornava o planejamento econômico a longo prazo quase impossível para empresas e famílias.
Também pretendia-se restaurar a confiança internacional na moeda, realizar reformas fiscais e monetárias e melhorar o poder de compra do brasileiro. Uma moeda estável significava que as famílias poderiam planejar as finanças com mais segurança, contribuindo para a redução da pobreza e da desigualdade.
Os objetivos foram atingidos: o poder de compra desde a cesta básica, passando pela linha branca de eletrodomésticos, até as viagens internacionais, passaram a fazer parte da rotina de muitos brasileiros que, até então, não conseguiam vislumbrar essas oportunidades. Ao longo dessas três décadas, a moeda esteve inserida em diferentes contextos do mercado financeiro.
Acompanhou a evolução de tecnologias impulsionada por companhias cunhadas no propósito de servir a população e contribuir para a modernização do sistema. Tem circulado há 30 anos dentro de uma infraestrutura financeira compartilhada e agregadora, que garante o acesso universal aos clientes de qualquer banco do país. Isso mostra a força do Real, que permeia a história de desenvolvimento do ecossistema econômico do Brasil.
A moeda se conecta à transformação digital pela qual o sistema financeiro está passando. A digitalização enfrenta os desafios da inclusão financeira e a barreira da tecnologia e telecomunicação no Brasil. Ao mesmo tempo, o consumidor está cada vez mais ressignificando as experiências físicas sejam em caixas eletrônicos, agências bancárias ou podem até chamar de lojas.
A indústria de caixas eletrônicos, liderada pelo Banco24Horas, tem transformado o autoatendimento em uma central de serviços e soluções, além dos financeiros. Com o avanço das criptomoedas, open finance, drex e tokenização novas soluções devem se configurar conectando cada vez mais o físico e o digital.
A tendência de se ter uma infraestrutura compartilhada para o sistema financeiro se mostra eficiente não só pelo uso racional dos recursos disponíveis, mas pela redução da necessidade de posse individual, garantindo acesso universal aos clientes de todos e qualquer instituição do país. Isso gera redução de custos e de impacto ambiental, além de eficiência operacional.
À medida que o setor financeiro avança na digitalização, o Banco24Horas – como maior rede de caixas eletrônicos do mundo em volume de saque – também dá passos para promover acesso e eficiência na integração físico-digital, seja usando o caixa eletrônico como ponto de acesso físico para transações digitais ou oferta de serviços multifuncionais.
Um marco importante para ilustrar essa linha do tempo e reforçar o protagonismo do Real no cenário das transações físico-digital: depois de pouco mais de dois anos do lançamento da nota de 200 Reais, o Banco Central anunciou, no primeiro trimestre de 2023, o início do Projeto Piloto do Real Digital. Essa iniciativa só comprova a importância e potência da moeda nacional.
O novo sistema digital e os seus participantes estão sendo preparados desde o início do projeto do Drex para compreender como a digitalização da moeda vai funcionar, influenciar e impactar cada setor da sociedade. Não obstante o avanço da tecnologia digital, em fevereiro deste ano havia no Brasil R$ 331,19 bilhões de reais em circulação, divididos em 7,45 bilhões de cédulas físicas e 30,68 bilhões de moedas metálicas, o que mostra a importância de se pensar no futuro com pés no chão.
Deve-se avançar nos estudos do meio de representação do Real, como o Drex, porém sem descuidar da inclusão financeira da população. A integração físico-digital do Real é primordial. Os 30 anos do real mostram que a moeda pode se ressignificar com o passar do tempo. O dinheiro em espécie pode ocupar um papel diferente do que ocupava no passado. Assim como o Real Digital também vai estabelecer novas dinâmicas no mercado financeiro.
A digitalização das operações e a eficiência financeira estão cada vez mais ligadas à liberdade econômica e social. Isso significa independência para fazer escolhas, mantendo disponível e acessível todas as opções para a população. É interessante pensar que, quando o Real surgiu, a TecBan já estava há 10 anos no mercado. Não só isso, a empresa testemunhou a evolução e a consolidação da moeda em cada etapa. Hoje, protagonizamos esta transformação, reinventando a infraestrutura compartilhada do sistema financeiro.
O mundo está mudando e nós também, como cidadãos e corporações.
(*) – É CEO da TecBan (https://www.tecban.com.br).