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O futuro do trabalho não existe sem diversidade

em Destaques
terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Taís Rocha de Souza (*)

O mundo do trabalho está em constante transformação. Praticamente todos os dias nos deparamos com algum termo novo.

Quer seja uma nova ferramenta para facilitar as atividades de rotina, as entregas de trabalho e até a comunicação entre as pessoas. Entre tantas inovações, em sua maioria digitais, quando o tema é mercado de trabalho ou gestão de pessoas nenhuma ferramenta substitui o olho no olho, uma conversa ou um feedback pessoal, porque estamos falando de pessoas que precisam interagir umas com as outras, vivenciar experiências e compartilhá-las.

Hoje, quero falar sobre como a valorização da diversidade também é importante nessas trocas, como ela pode transformar por completo um ambiente corporativo. Empresas que contam com equipes formadas por pessoas diferentes são mais produtivas, criativas e também mais ricas culturalmente. Nos últimos anos, em nossa área, vimos crescer os debates e movimentos em prol da diversidade nas empresas, mas acredito que nunca se falou tanto dos seus benefícios quanto em 2022.

E para quem está, neste final de ano, estabelecendo as metas e objetivos que quer conquistar no ano que vem, é importante saber que, sem incluir as temáticas de diversidade nas iniciativas empresariais, certamente correrá o risco de ficar para trás em seu mercado de atuação e até mesmo no que chamamos de futuro do trabalho.
O futuro do trabalho não existe sem diversidade. Isso é fato e ponto!

Para aquelas empresas que ainda não consideram a inclusão da diversidade e querem mudar isso, mas não sabem por onde começar, a minha dica é simples: comece!
Muitos se apoiam na desculpa de que não sabem quais os primeiros passos, ou então de que se atrapalham achando que precisam fazer tudo rapidamente.

Para quem pensa assim, é importante saber que o processo de valorização da diversidade deve começar aos poucos, com o trabalho de conscientização das equipes sobre o tema, estabelecimento de quais metas e objetivos a empresa pretende alcançar, realização de censo demográfico para saber qual é a situação atual da empresa em relação ao assunto e como os colaboradores enxergam a diversidade etc. É um trabalho de longo prazo, mas que, quando feito com profissionalismo e responsabilidade, surte excelentes resultados.

Neste ano, as empresas que levaram o tema a sério e estabeleceram uma agenda sistematizada para isso conseguiram avançar e ter suas práticas reconhecidas. O Instituto Ethos realizou a Pesquisa de Diversidade e Inclusão, iniciativa que tem como objetivo reconhecer publicamente as melhores práticas de empresas brasileiras no tema e o trabalho de 72 empresas que comprovaram ter a atuação em diversidade.

Dentro desse cenário, duas empresas se destacaram naquelas que, do meu ponto de vista, foram as temáticas mais importantes ao longo de 2022 no debate da diversidade: raça (AMBEV) e gênero (AVON). Mas, como sempre reforço, o cenário futuro da diversidade ainda é bastante desafiador para as empresas. Quando falamos de inclusão de profissionais negros, os números nos mostram o que as empresas têm pela frente.
Apesar de representar 56% da população brasileira, segundo o IBGE, a população negra (pretos e pardos) representa apenas 10,2% na força de trabalho.

Outro tema que na minha opinião deve estar ainda mais presente no radar das empresas em 2023 é a questão de gênero, principalmente quando se trata das mulheres em cargos de liderança, pois apesar de ser um dos temas de diversidade com maior destaque e resultados, o espaço da mulher dentro das organizações ainda é muito desigual em relação ao dos homens.

Segundo a pesquisa “Women in Business”, realizada pela empresa Grant Thornton em 2022, 38% dos cargos de liderança em médias empresas são ocupados por mulheres no Brasil. Os dados mostram uma queda de 1% em relação ao ano anterior. Além disso, a questão de igualdade salarial entre gêneros chama a atenção. Com base na pesquisa do IBGE, a consultoria IDados realizou um levantamento comprovando que mulheres ganham 20% a menos do que homens.

As empresas que ainda não aplicam a valorização da diversidade precisam se movimentar para mudar esses números e isso só vai acontecer com muito engajamento e compromisso por parte dos líderes. Assim, compartilho aqui algumas dicas para quem quer começar a investir em programas de diversidade já no próximo ano:

. contrate consultorias especializadas no tema, com profissionais capazes de apoiar o desenvolvimento de programas internos de diversidade com maestria;
. crie Comitês Internos de Diversidade que contemplem ao menos um profissional de cada minoria para que eles possam trazer suas vivências para os debates, além de propostas de mudanças;
. incentive uma nova cultura organizacional em que todos os colaboradores estejam cientes do compromisso da empresa com a valorização da diversidade;
. estabeleça metas e objetivos dentro de cada um desses tópicos e divulgue os resultados, tanto para o público interno quanto o externo.

Se sua organização conseguir colocar em prática essas recomendações, com certeza o futuro da diversidade começará a ser construído. Mas lembre-se de que o mais importante é que, em todo esse processo, você conte também com a expertise dos profissionais de Recursos Humanos, afinal eles são fundamentais para o avanço da diversidade nas empresas.

Meu desejo para 2023 é que não apenas avancemos no debate desses temas, mas que sejamos protagonistas dessa mudança para construirmos uma sociedade de fato mais inclusiva, justa e equânime.

(*) – É Psicóloga e Diretora de Operações do Grupo Soulan/Thomas International Brasil (https://soulan.com.br).