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O desafio empresarial de descarbonização no Brasil e no mundo

em Destaques
sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Agência EY/Sharm El Sheikh, Egito

A primeira semana da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 27) foi marcada por múltiplas discussões simultâneas e complementares entre diversos setores, líderes e stakeholders do mundo. Entre as dezenas de milhares de pessoas e delegações que transitam entre as geografias dos pavilhões, o tema crucial que estrutura a agenda das programações é a implementação. Contudo, sabemos que, antes de implementar qualquer mecanismo de transformação, é preciso descarbonizar.

Na última sexta-feira (11), o Dia da Descarbonização fomentou a arena de discussões com lançamento de estudos inéditos, plataformas e recursos sobre o tema. Para começar, acompanhamos o discurso de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, que anunciou iniciativas norte-americanas e fortes compromissos globais, incluindo a implementação ativa de mecanismos de adaptação em regiões específicas do Sul Global.

Biden reforçou que os EUA são um dos maiores países emissores de gases de efeito estufa (GEE), e isso demanda ações ainda mais emergenciais diante dos danos irreparáveis que a crise climática está desencadeando nos países do sul. Em seu discurso, o líder direcionou a atenção para que os países aumentem a ambição de seus compromissos de mitigação, que significa a redução das emissões, defendendo as medidas climáticas tomadas durante o seu governo.

“É mais urgente do que nunca dobrar nossos compromissos climáticos. A guerra da Rússia só aumenta a urgência da necessidade de fazer a transição do mundo para abandonar sua dependência de combustíveis fósseis”, destacou Biden. “A ciência é devastadoramente clara. Temos que fazer progressos vitais até o fim desta década”, disse o presidente Biden.

Não podemos deixar de mencionar o impacto da passagem de John Kerry, enviado especial para o clima dos EUA, que anunciou oficialmente a “nova iniciativa global de compensação de carbono”, na última semana. O objetivo-chave é conectar empresas privadas americanas com ações de transição energética em países em desenvolvimento.

Nesta cúpula do clima, temos 636 representantes de diferentes indústrias de combustíveis fósseis. Um dos destaques no que tange ao setor privado foi o lançamento de um programa inédito para apoiar a implementação de ações climáticas nas empresas que representam aproximadamente 50% do PIB do Brasil.

A plataforma Net Zero, idealizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em parceria com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), é uma iniciativa cujo objetivo é criar metas empresariais de neutralidade climática em todas as esferas por meio do apoio prático à implementação de processos de descarbonização.

A iniciativa inédita não apenas reconhece que esforços individuais das empresas não são suficientes para o desafio nacional de descarbonização que temos de enfrentar, mas propõe um caminho coletivo que o setor privado possa trilhar na redução das emissões. Sabemos que a missão empresarial de zerar as emissões até 2050 é ambiciosa e desafiadora.

Segundo o Oxford Net Zero & New Climate Institute, apenas 35% das empresas conseguem alcançar critérios mínimos para atingir esse objetivo nacional e global. Nesse sentido, um passo importante foi o lançamento de um guia com cinco princípios e 10 recomendações para que as empresas tenham objetivos de mitigação mais assertivos e, definitivamente, se distanciem do greenwashing.

Entre as recomendações para compromissos net zero, destacamos a definição de parâmetros do que seria um compromisso net zero ideal, por meio de um plano centrado em parâmetros científicos, além da previsão de um corte de 50% das emissões líquidas até 2030. Além disso, o offsetting, que é uso de créditos de carbono de qualidade para reduzir emissões seria uma das principais estratégias para toda a cadeia de valor.

O Dia da Descarbonização na COP 27 reforçou o quanto o setor privado desempenha um papel fundamental para a redução das emissões rumo à economia carbono neutro. Entre as prioridades, destacamos a necessidade de estabelecer metas com bases científicas e de longo prazo. Assim, podemos, de fato, construir modelos eficazes de negócios de baixo carbono, sustentáveis e resilientes ao clima.

“O monitoramento das emissões deve ser cada vez mais preciso, o que obrigará as empresas a agir rápido não apenas realizando o offset de carbono, mas principalmente transformando seus negócios”, salienta Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para América Latina Sul e CSO da EY Brasil.