Luiz Menezes (*)
Nos últimos anos, tenho participado de vários eventos de segmentos diferentes para estar inteirado com os mais diversos assuntos e cada vez mais percebo a falta de representatividade da Geração Z. Recentemente, estive em um congresso de empresas de pesquisa e o número me assustou bastante. De uma média de 200 pessoas, menos de 5% dos participantes faziam parte da GenZ. Por quê?
Quando falamos de pesquisa de comportamento de consumo do brasileiro, uma das demandas aparentes é como as novas gerações lidam com as marcas. Subentende-se que as empresas maiores estão olhando para estratégias dos próximos 5 anos, para os novos consumidores, fazendo divisões dentro da Gen Z: a mais nova e a mais velha, percebendo que a GenZ mais nova se conecta com a Geração Alpha, entre outros pontos.
Por essa razão, não faz sentido as empresas conduzirem estudos que envolvam as gerações mais novas, sendo que este grupo não faz parte das discussões de um congresso de empresas de pesquisa. Afinal, a partir do momento em que o consumidor não está presente dentro de uma cadeia, concluímos que ele não está sendo escutado. Se não está sendo ouvido e se não se vê representado, deixa de consumir.
E muitas vezes esse problema começa dentro da própria empresa. Em vários eventos em que participo, a própria curadoria não é diversa. As pessoas de grupos minorizados estão nas empresas sem ocupar as posições que participam da tomada de decisão, da criação de produtos, dos serviços, de abordagens. Isso acontece porque a conversa não costuma chegar para esse grupo.
É a partir desta constatação que surge um questionamento: como as empresas querem conduzir estudos se não estão trazendo essas pessoas para próximo? Convenhamos, é bem fácil lançar um estudo falando que a Geração Z não está se adaptando ao mercado de trabalho, do que admitir que, na verdade, é o mercado de trabalho atual que não está se adaptando às demandas das novas gerações.
No entanto, é possível mudar este cenário e quebrar o ciclo de culpabilizar a próxima geração. Aconteceu com os millennials, agora é com a GenZ. Ao promovermos debates intergeracionais saudáveis e que funcionam, conseguimos diminuir as diferenças de comportamento e passamos a ter mais assertividade nas estratégias de negócios, de produtos e também de serviços.
É importante lembrar que tudo que estamos criando para o consumidor final tem que trazer o consumidor final para o centro da estratégia, não há outro meio eficaz de fazer esse processo. Por isso, não dá mais para excluir ou marginalizar consumidores. É difícil não ser representado e ainda mais difícil se sentir à vontade em um local quando você é o grupo minorizado.
Essa situação me fez constatar o quanto a academia ainda está distante da pesquisa de mercado e também da realidade. Ter acesso a universidades e a centro de estudo de pesquisa não faz parte da vida de todos os brasileiros. São poucos jovens de periferia que conseguem, por exemplo. Então é incabível que um ingresso considerado ‘meia entrada estudante’ custe por volta de R$ 500 reais, pois dificilmente um estudante terá esse dinheiro para conseguir pagar e estar presente.
Diante disto, é fundamental que existam outros planos de incentivo para que essas pessoas participem e tenham protagonismo, conseguindo também o palco. O local de fala importa. Ninguém representa cultura ou comunidade, mas o fato de você trazer um porta voz de um lugar diferente, com um recorte distinto, faz com que a janela desse grupo minorizado fique mais aberta para mostrar o quanto são vastos os campos e como estão sendo pouco explorados hoje pelos mercado e pelos clientes.
(*) Fundador da Trope, uma consultoria de geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio.