Erika Martinez (*)
Ao longo de anos, atuando na indústria de embalagens, posso dizer que não tenho tanta certeza se todos os integrantes da cadeia de fornecimento no e-commerce possuem clareza do que implica a circularidade e qual sua real importância.
Creio que, na maioria dos casos, as empresas ainda procuram materiais que tenham componentes de reciclagem naturais — como o papel. Entretanto, o plástico de hoje já conta com recursos para a sustentabilidade almejada pelo setor.
Vejo que, aos poucos, o comércio eletrônico vem aderindo ao uso de plástico reciclado pós-consumo (Post-Consumer Resin — PCR) – material aplicado em envelopes de segurança utilizados para as entregas de mercadorias compradas pela internet.
As primeiras iniciativas ocorreram no segundo semestre de 2022, e a marca pioneira a investir nesses envelopes foi a Amazon. Mas as ações ainda são tímidas perto do volume possível de ser alcançado. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), compilados pela consultoria Maxiquim, mostram que a expansão do PCR será significativa nos próximos anos.
Em 2021, somente 5% das 2,1 milhões de toneladas produzidas no país utilizavam plástico reciclado, ou seja, cerca de 105 mil toneladas apenas. Portanto, esse número pode melhorar muito. A verdade é que o público ainda necessita de educação para que compreenda a importância da economia circular.
As pessoas (e não somente as organizações) ainda não compreendem como o processo funciona e que ele pode (e deve) ser amigável, desde que haja investimento em pesquisas, em tecnologia e no desenvolvimento de novas soluções. Isso sim é pensar de forma alinhada às necessidades de sustentabilidade. Isso sim significa ingressar de fato na agenda ESG, tão em voga atualmente.
. A educação é essencial porque existem outras questões envolvidas – Uma pesquisa realizada pela empresa norte-americana de coletas Republic Services apontou um aumento de 25% nas coletas de resíduos feitos em residências. Ao mesmo tempo, a coleta em estabelecimentos comerciais caiu cerca de 30% no último ano. Esse número pode ser explicado pelo pico das vendas online: os consumidores estão tendo dificuldade de descartar corretamente embalagens de produtos e nunca se acumulou tanto papelão nas ruas.
Isso significa que as empresas de e-commerces podem, em longo prazo, serem responsabilizadas pelo aumento da poluição ambiental — um rótulo que setor nenhum deseja para si, sobretudo por causa da mentalidade das novas gerações, que têm entre suas prioridades a proteção ao planeta. Portanto, a única saída para o varejo online é, de fato, traçar estratégias voltadas para a circularidade.
Evidentemente, os grandes players têm métricas referentes ao seu impacto no meio ambiente; as empresas menores também vêm, aos poucos, inserindo esses índices nos seus relatórios anuais. Com números em mãos, fica mais fácil entender porque muitas vezes o plástico acaba se destacando sobre outros materiais: por exemplo, os produtos de papel normalmente pesam mais e são mais volumosos, o que significa que são mais custosos de transportar.
Paralelamente, vemos a tecnologia da indústria de embalagens trabalhar a todo vapor para criar soluções surpreendentes para o e-commerce. Já existem hoje no mercado materiais infláveis de amortecimento compostos por 100% de conteúdo reciclado, e totalmente recicláveis.
Há soluções inovadoras também de amortecimento feitas à base de papel jornal, com alto teor de conteúdo reciclado e 100% recicláveis. Tudo para garantir que os pedidos cheguem em perfeitas condições para os clientes finais, sem deixar de lado a preocupação com o planeta.
Penso que a circularidade depende de sensibilização, que deve ser uma meta das companhias de e-commerce. Afinal, a responsabilidade de reciclar é de todos. Ao mesmo tempo que as empresas buscam conhecimento, incorporam boas práticas e disseminam novos costumes, elas se posicionam na vanguarda e transformam seu entorno.
Daí a importância de favorecerem os componentes recicláveis e de fácil descarte. E, assim, investir em conscientização ambiental e educação de seu público consumidor será também uma consequência.
(*) – É gerente de Marketing Protective Packaging da Sealed Air América do Sul (https://jobs.sealedair.com/).