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La Niña acende alerta sobre as secas que ocorrerão a partir de julho

em Destaques
sábado, 01 de junho de 2024

O La Niña, cuja principal característica é prolongar os períodos secos do ano, deve atrasar a retomada das chuvas no período úmido e impactar o setor elétrico brasileiro, segundo avaliação da Climatempo, a maior e mais reconhecida empresa de consultoria meteorológica e previsão do tempo do Brasil e da América Latina.

O início do La Niña está previsto para julho, devendo ganhar força na primavera e atingir seu pico no início do verão, perdendo intensidade só no outono do próximo ano. O fenômeno vai acentuar ainda mais os períodos de seca registrados no inverno nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste.

Da mesma forma, vai trazer chuvas bem abaixo da média e prolongar a seca também no Sul. Associado a um inverno com temperaturas acima da média, deve pressionar ainda mais o consumo de energia no País. Com o menor volume de chuvas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, ganha ainda mais relevância a geração das hidrelétricas do submercado Sul.

Localizadas, principalmente, na bacia do Rio Uruguai, no norte do Rio Grande do Sul, e, portanto, tendo sofrido um impacto menor das enchentes que afetam o Estado -, as usinas deste submercado terão um desafio maior para exportar energia para outras regiões, como é usual neste período, além de atender a demanda da própria região Sul.

O forte período de chuvas no Rio Grande do Sul poderá atrasar um pouco a chegada do período seco, mas não impedirão os efeitos do La Niña, que deve provocar secas mais prolongadas no País. Dessa forma, o País continuará sofrendo com os impactos dos fenômenos climáticos intensos.

“Com o La Niña se formando em julho, a tendência é de período seco mais prolongado e atraso na retomada do período úmido na primavera”, observa a meteorologista e especialista em clima para o setor elétrico, Ana Clara Marques, da Climatempo. Em sua avaliação, o aumento do consumo de energia no inverno, em decorrência de temperaturas mais altas do que o normal, combinado com a diminuição de chuvas no Sul, tende a provocar um sinal de alerta no setor.

“Deveremos perceber um impacto secundário no início do La Niña, causando mais seca no Sul a partir do inverno, e outros efeitos de seca para as demais regiões na transição do inverno para a primavera, o que faz com que o fenômeno tenha ainda mais relevância para o setor elétrico”, afirma Ana Clara.

Ela lembra que o retorno das chuvas é fundamental para manter os reservatórios das hidrelétricas em níveis satisfatórios, principalmente considerando que a matriz energética do Brasil é 70% hídrica. Diante disso, uma medida favorável foi a redução das vazões das usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera, localizadas no Rio Paraná, em medida adotada pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), gerenciado pelo Ministério de Minas e Energia.

Segundo a especialista, além dos fenômenos meteorológicos, o setor também é impactado pelos eventos climáticos extremos de temperatura, chuva, ventos e raios, que estão ocorrendo com mais frequência e intensidade na última década, mesmo em períodos em que a sua ocorrência não seria usual. As ondas de calor, como as vistas recentemente no Rio de Janeiro e em São Paulo, elevaram a demanda por energia, principalmente por conta do acionamento dos aparelhos de ar-condicionado.

A Climatempo observou que, desde maio de 2023 até março de 2024, a cidade de São Paulo registrou mais calor do que o comum. “Parte pode ser associada ao fenômeno El Niño, mas muito dessa anomalia se deve aos extremos do clima”, constata Ana Clara. A maior anomalia notada desde 2007 foi em setembro de 2023, quando a temperatura ficou 3,44oC acima da média histórica do mês.

A média de 2007 em diante em São Paulo é de 82 dias por ano acima de 30°C e, em 2023, foram 107 dias, e 9 dias acima de 35°C. Apesar de altas, não ultrapassaram as temperaturas recordes de 2014. “Por conta de todas as variações e mais as ocorrências de extremos, os players do setor – sejam geradoras, transmissoras, distribuidoras, comercializadoras e reguladores – estão cada vez mais preocupados em buscar as informações meteorológicas para se prepararem e adaptarem a este novo cenário de mudanças climáticas”, observa a especialista.

“Podemos dizer que o setor de energia sai na frente em relação à busca pelas informações climáticas, devido aos impactos nas operações e também porque sofre muita pressão dos órgãos reguladores para manter altos índices de atendimento”, explica Ana Clara. – Fonte e outras informações:
(https://www.climatempo.com.br).