Carlos Henrique Vieira Filho (*)
Em nosso mundo pós Covid-19, temas como inovação, startups, discussões sobre inovação abertas ou fechadas são temas cada vez mais comuns dentro do nosso contexto empresarial. São muitas palestras, consultorias e cursos sobre o tema, em busca de novas oportunidades de negócio.
Contudo, nós nos perguntamos como isso ocorre dentro dos governos? Quais são as tendências e desafios dos gestores públicos? Como as tendências se conectam com este novo mundo de inovação? Infelizmente, os governos não têm a velocidade de inovar e se transformar como nossas empresas têm, para algumas transformações são necessárias, como, por exemplo as mudanças legais. Isso leva tempo e gera muito esforço para as discussões e na redação destas novas leis.
Mudar muitas vezes envolve a necessidade de quebrar padrões e cultura, além de investimentos financeiros que estes órgãos não têm à disposição, pois precisam focar em questões mais básicas para a saúde e segurança da população do que no investimento em infraestrutura tecnológica. Pensando nestas tendências e o contexto que os órgãos públicos estão inseridos, cito dois desafios e uma consequência destas tendências neste meio:
. O desafio da transformação digital – Quando falamos em transformação digital, muitas vezes, pensamos naquele boleto que antes era recebido por meio do correio e que está disponível em nosso e-mail. Transportando esta discussão para os processos, transformamos aquela assinatura e carimbo em uma aprovação com usuário e senha.
Mas isso foi apenas a digitalização de um serviço, sem uma transformação. A burocracia e as regras que o meio “analógico” exigiam foi mantido e atualizado para o modelo digital. Transformação digital é muito mais que isso: muitos carimbos e assinaturas são evidências de que alguém parou, leu, avaliou e verificou.
Por exemplo, se os valores e informações necessárias estão neste documento… quando transformamos este processo, estas validações e conferências não precisam ser feitas por alguém (um humano). Se as regras e os parâmetros são definidos podemos deixar que a máquina valide isso e deixe para que o humano faça atividades que o computador não consegue.
. O desafio da integração – “Informação é o novo petróleo!” ou “informação é o maior ativo de uma empresa”. Quem nunca ouviu uma destas afirmações? Ninguém duvida que esta é uma verdade, cada vez mais estamos gerando informações confiáveis e relacionadas. Antigamente apenas os cartórios eram atualizados com as informações dos proprietários dos imóveis de uma cidade.
As prefeituras dependiam de uma atualização cadastral manual e presencial do cidadão para receberem estas informações. Contudo, isso ficou no passado!
Hoje já é possível a integração dos cartórios com as prefeituras e até mesmo com a Receita Federal, assim a informação lançada nas novas escrituras é compartilhada entre os três órgãos.
Esta é uma tendência e um desafio. Cada vez mais informações serão geradas, integradas e validadas. Porém, como os gestores vão utilizar as informações que recebem, como vão manter a segurança destas informações? Afinal, quanto valem estes repositórios de dados?
. A inteligência artificial para responder aos desafios – Como consequência destas tendências temos a tão falada inteligência artificial. Não existe um setor onde a I.A. não seja tendência, e neste meio não é diferente. Se temos os processos digitalizados, se temos integrações para colhermos mais informações e validarmos os dados que possuímos, então temos um ambiente muito fértil para que a inteligência artificial tenha bons frutos.
Acredito que a inteligência artificial será um segundo momento: pois com todo este ambiente, o primeiro passo são validações simples. Utilizando mais uma vez do exemplo do cartório, uma simples comparação do que foi declarado no IRPF e o que foi declarado no cartório já é suficiente. A inteligência artificial irá apoiar neste exemplo a identificar toda a origem do dinheiro utilizado para fazer a compra e, se de fato a informação correta foi passada, aos órgãos fiscalizadores ela estará presente.
Sei que em nossas empresas essas tendências já fazem parte da realidade, mas infelizmente o setor público anda um pouco mais lento que as empresas privadas, Entretanto, este movimento em âmbito federal já é uma realidade. A ponto de cada vez mais nossos estados e municípios estão aderindo as tendências e caminhando rumo ao Governos 4.0!
(*) – É colunista do Denarius (Boletim Econômico Financeiro da FipeCafi Projetos), diretor de pesquisa na SMAR APD, bacharel em Ciências da Computação pela UFSCar e pós em Gestão de Negócios na Fundação Dom Cabral.