Juan Ferrés (*)
Os boletos bancários ganharam popularidade pela praticidade, especialmente na conciliação financeira. Isso ocorre porque o boleto é um título vinculado a uma conta, facilitando o controle das transações. Ao emitir um boleto com os dados do devedor, a empresa pode rastrear e reconciliar pagamentos de forma eficaz.
No entanto, o modelo apresenta dois problemas principais. O primeiro é que a emissão de boletos é unilateral: o simples fato de receber um boleto não significa necessariamente que você deve algo. Essa vulnerabilidade abre espaço para fraudes, como a emissão de boletos falsos que imitam faturas legítimas, comuns em cobranças de planos de saúde.
O segundo ponto crítico é a dependência do usuário para concluir o pagamento. A pessoa deve acessar o sistema financeiro, escanear o código de barras e realizar o pagamento individualmente. Embora bancos tentem simplificar essa experiência, o processo continua fragmentado, especialmente para empresas que precisam lidar com o pagamento de boletos em larga escala, um a um.
Com a introdução do registro obrigatório, o controle de fraudes melhorou. Hoje, todos os boletos precisam ser registrados no sistema financeiro, oferecendo uma camada adicional de segurança. No entanto, essa solução é apenas moderadamente eficiente, pois o sistema ainda apresenta limitações.
Além disso, a adoção da DDA (Débito Direto Autorizado) permite que o devedor receba notificações quando um boleto é emitido contra seu CPF ou CNPJ, mas esse processo envolve custos significativos. Apesar de ser mais barato que transações via cartão de crédito, os boletos continuam caros em determinados cenários, especialmente por conta da inadimplência e da necessidade de cobrança judicial.
. Iniciação de pagamentos: a alternativa eficaz – A Iniciação de Pagamentos (ITP) surge como uma solução inovadora e eficiente. A principal diferença está na emissão do pagamento no momento da transação. Isso elimina o risco de fraude associado ao envio de boletos por correio ou e-mail, uma vez que o pagamento é autorizado no instante da proposta comercial.
. A ITP traz três vantagens estratégicas:
- – Redução da inadimplência e fraudes – Como o pagamento é integrado ao processo de liquidação, a transação é confirmada no momento da autorização.
- – Agilidade na gestão de pagamentos em lote – É possível agendar e consolidar múltiplos pagamentos de forma automatizada, incluindo pagamentos recorrentes.
- – Conciliação eficiente e digital – Assim como o boleto, a ITP oferece facilidade de conciliação, mas opera inteiramente por meio de APIs, permitindo integração direta com os sistemas das empresas.
Com essas características, a sobrevida dos boletos diante da ITP se torna cada vez mais improvável.
. Escolher a estratégia de ITP: cuidados essenciais para empresas
Diante desse cenário de transição, é fundamental que as empresas definam cuidadosamente sua estratégia de Iniciação de Pagamentos. O avanço do Open Finance e a possibilidade de pagamentos inteligentes, como o Pix por aproximação, estão remodelando as jornadas de liquidação e abrindo novas oportunidades de crédito.
No entanto, escolher a solução ideal envolve considerações estratégicas e tecnológicas. Existem duas abordagens principais para empresas que desejam operar no ambiente de ITP: tornar-se um Iniciador de Transação de Pagamento regulado ou utilizar uma ITP de mercado, equivalente a uma solução BaaS. Cada modelo implica custos operacionais e regulatórios distintos e exige atenção à confidencialidade de dados, transparência para clientes e competitividade no mercado.
As empresas precisam avaliar se vale a pena desenvolver uma solução própria e direta ou confiar em um provedor externo, considerando que o consentimento dos usuários deve ser dado a uma ITP regulada. Em alguns casos, provedores tecnológicos podem se tornar concorrentes diretos ao acessar dados estratégicos e controlar a infraestrutura de pagamento.
Com a combinação de segurança, eficiência e economia, a Iniciação de Pagamentos está destinada a substituir os boletos. A estrutura mais enxuta da ITP possibilita uma economia entre 30% e 40%, tornando-a uma solução financeiramente atraente. Ainda, novas funcionalidades, como a autorização de múltiplos pagamentos com uma única ordem, permitirão que empresas gerenciem centenas de transações simultaneamente.
Neste cenário, a transição para a ITP não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica para empresas que desejam se manter competitivas e alinhadas às novas demandas do mercado financeiro.
(*) – É CEO da Teros, empresa especializada em automação inteligente de processos via Mundo Open (https://teros.com.br/).
