Marcelo Pires (*)
O ano de 2020 foi um divisor de águas para o setor de saúde. Diante de uma pandemia global, toda essa cadeia precisou se reinventar. Nesse contexto, a grande revelação ficou por conta das healthtechs, as startups desse segmento.
Segundo dados do Distrito HealthTech Report 2020, o número de healthtechs no Brasil saltou de 248 para 542, entre 2018 e 2020. Um crescimento de 118% e que tem tudo para continuar muito acelerado em 2021. Embora já apresentasse soluções bastante relevantes, essas empresas ainda enfrentavam uma grande barreira cultural.
Medicina é algo milenar e rodeado de princípios, tradições e principalmente regulamentações. Romper paradigmas em um contexto como esse não é algo simples. Contudo, a pandemia forçou a digitalização, eliminando crenças que se tornaram antiquadas do dia para a noite. Um dos melhores exemplos nesse sentido foi a adoção da telemedicina.
A tecnologia para isso já estava disponível há anos, mas por uma questão de mentalidade, não era amplamente utilizada. De repente, ela se tornou a melhor opção para quem precisava de uma consulta. O novo comportamento permitiu ainda o fim das fronteiras, já que agora os pacientes não precisam mais sair de suas cidades ou mesmo estados para se consultarem com um médico renomado. Amplia-se o acesso, tornando a medicina mais democrática.
Outro ganho significativo que as healthtechs promovem é na redução de burocracias e melhoria da gestão. Cerca de 25% dessas empresas estão focadas na gestão de clínicas, hospitais e laboratórios. Por meio da tecnologia, elas melhoram a eficiência dessas empresas. Tecnologias como Big Data, computação em nuvem, inteligência artificial e algoritmos tem gerado grande impacto na produtividade de todo o ecossistema de saúde.
Indo mais à fundo, já vemos essas startups avançarem profundamente na prática da medicina, promovendo uma grande revolução biotecnologica e genética. Pesquisas avançam rapidamente para imprimir membros e até órgãos em impressoras 3D, cirurgias robóticas são executadas à distância, tecnologias ajudam no diagnótico e na indicação de tratamentos até para pacientes em cuidados paliativos. Já há até mapeamento cerebral no intuito de promover a integração entre homem e máquina. Contudo, as healthtechs demandam cuidados especiais.
Como lidam com questões extremamente sensíveis, precisam refletir constantemente sobre aspectos éticos. Promover um amplo debate com toda a cadeia – governos, órgãos competentes, comunidade médicas, indústrias farmacêuticas e de dispostivos médicos – é fundamental para o desenvolvimento de soluções socialmente aceitáveis. Há ainda a necessidade de um olhar atento sobre a segurança, em especial no que tange a informações e dados sensíveis.
Por se tratar de um ambiente extremamente regulamentado, as discussões em todas as esferas se faz muito necessária. Nada muito diferente do que aconteceu no setor bancário. Num primeiro momento, as fintechs encontraram várias resistências e se depararam com regras que praticamente inviabilizavam suas propostas de valor.
Com o tempo, elas se tornaram indispensáveis e agora são os bancos que lutam para acompanhar o ritmo de transformações.
As regras vão mudando de acordo com as necessidades e comportamentos emergentes. O governo e a Justiça são sempre muito mais lentos que os empreendedores. Em suma, esse é um caminho sem volta. A estrada é longa, mas altamente promissora.
A pandemia só acelerou um processo que já estava em andamento, mostrando principalmente que é possível fazer diferente. O que sempre foi, não precisa, necessariamente, continuar sendo como era antes. Ainda veremos coisas fantásticas nesse segmento.
Certamente, 2021 será marcado por muitos avanços, em especial no âmbito da medicina preventiva. Quem viver, verá.
(*) – É sócio-diretor da Neotix Transformação Digital. Designer de formação, escultor, trabalha com design aliado à tecnologia. Especialista em usabilidade, é o responsável pela direção de criação de projetos interativos na Neotix (http://www.neotix.com.br/).
