Christiano Moyses (*)
As manchetes de veículos especializados em negócios estão sempre repletas: “Magalu fecha parceria com o AliExpress para a venda cruzada de produtos nas duas plataformas”; “Petz e Cobasi assinam fusão”; “Empresas de LatAm voltam a se preparar para IPO nos EUA”.
Arrisco dizer que, olhando assim à primeira vista, muitos dos empresários brasileiros ainda acham que essas operações são destinadas para um grupo seleto de empresas de grande porte ou escolhidos por alguma razão que desconhecem – talvez até mesmo pelo acaso.
Diferentemente do que acontece com os empreendedores nos Estados Unidos, na Europa ou na Ásia, o empresário brasileiro não me parece acostumado a estudar o mundo corporativo e caminhos não óbvios, nem a planejar o negócio e pensar desde o primeiro dia numa trajetória de crescimento para os próximos 5 a 10 anos. Isso porque o dia a dia consome tempo e energia e a imprevisibilidade brasileira é enorme.
No Brasil, o empreendedor individual ou a família empreendedora começam com uma ideia, uma oportunidade ou até mesmo um sonho e vão fazendo tudo meio “na raça”, com a barriga no balcão, sem praticamente nenhum preparo prévio. E, como têm talento e resiliência, boa parte desses empresários consegue superar os desafios e crescer.
Essa formação com a “mão na massa” dá ao empreendedor brasileiro um currículo admirável. Claro que o empresário, seja ele de que porte for, tem seus temores em relação ao futuro econômico e político pouco previsíveis por aqui, mas ele segue em frente porque entende que o Brasil tem seus desafios e isso não vai mudar. Logo, terá de ser criativo e aprender a navegar nessas águas.
Mas pode ser uma oportunidade para planejar o futuro do seu negócio de forma estruturada e pensar, desde o primeiro momento, em alternativas para fazer a empresa crescer. E, principalmente, falta a ele entender que isso não é algo que precisa fazer sozinho, concentrando todos os riscos do negócio. Quanto mais uma empresa cresce, mais dinheiro e mais atenção ela vai precisar.
E, além do dinheiro “do dono” ou “fundador”, há uma série de outras possibilidades que muitas vezes o empreendedor desconhece. Qualquer que seja o estágio da operação é sempre possível atrair investidores ou outras empresas complementares. Desde familiares, amigos e investidores profissionais, se esse empresário ainda não tiver uma história para mostrar, até fundos que investem em empresas que estão em fase de crescimento acelerado ou maduras, os chamados “venture capital” e “private equity”, respectivamente.
Há investidores isolados também, como outros empresários e famílias que estão estruturados para entrar em bons negócios. Existe a Bolsa. São operações que podem envolver participação acionária ou não. Para a maioria do empresariado, crescer o negócio é uma meta constante. Mas esse crescimento não deve ser limitado apenas ao básico: realocar todo dinheiro gerado pela operação para buscar aumentar as vendas ou melhor estruturar a empresa.
Existem outras estratégias robustas, que envolvem acesso a capital e conhecimento estratégico com as quais investidores, empresas e assessores especializados podem contribuir. Mas esse empresário precisa primeiro pensar lá na frente: se eu tivesse mais dinheiro, poderia crescer mais rapidamente?
A resposta, no geral, é, obviamente, “sim”. Mais dinheiro e bons profissionais podem render bons caminhos, se esse empresário estiver disposto tanto a ouvir, compartilhar decisões, quanto a crescer o bolo para depois dividi-lo em pedaços maiores no futuro.
Alianças estratégicas, que envolvem parcerias entre empresas, por exemplo, no desenvolvimento ou na distribuição de produtos, podem ampliar a base de clientes e o acesso a novos mercados. Podem, também, permitir o compartilhamento de tecnologias, pessoas e de recursos, o que reduz custos e aumenta a eficiência. Esta é também uma alternativa.
As fusões e as aquisições aceleram o crescimento, reduzem riscos, além de ganhos de sinergias, de escala e o aumento da eficiência. Pode-se planejar desde comprar um concorrente duas vezes maior, até vender parte ou toda a empresa em determinado momento.
As possibilidades e as ferramentas disponíveis ao empresariado são muitas e estão aí para serem acessadas. Basta ao empreendedor ter a vontade de conhecê-las, ao lado de um plano de negócios transparente, que mostre o valor possível a extrair de sua companhia.
Será um meio, inclusive, do empreendedor deixar de concentrar todo o risco do negócio, conseguindo usufruir mais do que já conquistou ou até fazer outros investimentos, sem ter que realocar todo o dinheiro gerado na operação atual. É escolher o caminho e o sócio certo.
(*) – É sócio diretor e fundador da Imeri, uma assessoria financeira especializada na venda, compra, fusão, captação de recursos e crédito (https://imeri.com/).