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Emoções, dinheiro e as ciladas mentais no consumo

em Destaques
sexta-feira, 24 de março de 2023

Diogo Angioleti (*)

O que acontece que muitas vezes não agimos de forma racional diante das ofertas? Por que muitas vezes não fazemos o que é certo na hora de consumir? Você já deve ter comprado algo e se arrependido. Com certeza conhece alguém que está passando por apuro financeiro.

Segundo a CNC – Confederação Nacional do Comércio -, quase 80% das famílias brasileiras estão endividadas; e 30% estão inadimplentes, de acordo com o Serasa. Esses percentuais revelam milhões de impasses financeiros que, sem julgamento, refletem em boa parte as dificuldades na relação que as pessoas têm com dinheiro ou a falta de conhecimento na gestão financeira.

Isso, na verdade, tem muito mais a ver com emoção e comportamentos do que com economia. Onde está sua emoção, está seu dinheiro! Sim, é isso mesmo!

Todos nós temos uma racionalidade limitada e estamos sujeitos a erros em nossa gestão financeira. A dificuldade começa pela arquitetura das escolhas, ou a forma como tomamos decisões. Toda opção de compra passa por um processo que precisa de experiências e informações. As primeiras são recheadas de crenças, e nem sempre temos disponíveis todas as informações. O resultado é uma inconsistência nas nossas preferências.

As emoções influenciam nossas atitudes, inclusive as financeiras. Sempre usamos a racionalidade para justificar nossos impulsos. Distorcemos dados, justificamos necessidades confundidas com desejos para atender nosso prazer imediato de ter. Existe dentro de nós uma espécie de semáforo emocional que quando vê o sinal amarelo, acelera para compra.

O comportamento de consumo, em vez de ter uma origem interna e racional, é movido por expectativas de concretização de desejos e por incentivos positivos. Esse viés psicológico somado à ideia de que não queremos perder nada nos faz comprar, e o otimismo exagerado não nos permite reconhecer que fizemos escolhas ruins.

Muitas vezes as pessoas compram produtos não pela utilidade ou necessidade, mas pelo que eles significam, e fazer isso é essencialmente emocional. Existem estudos recentes na economia comportamental que mostram por que somos movidos por necessidades de pertencer, ter poder, controlar e afirmar nossa individualidade “na tribo”.

Por isso o neuromarketing instiga pessoas a adquirirem produtos exclusivos, VIPs e mais caros, tornando-nos distintos. Outro fator que nos impele a compras desnecessárias é o “FOMO”, sigla em inglês que traduzida significa “medo de ficar de fora”.

Essa sensação provoca o efeito manada, que nos dá a sensação de sermos aceitos. O problema é que nem sempre podemos manter esse padrão, e daí surge o sentimento de inferioridade ou de vergonha em alguns casos. Além disso, existe a cilada cognitiva em que se pressupõem que uma alternativa mais cara tem melhor qualidade do que uma opção com preço mais baixo, o que na verdade não passa de ilusão em muitos casos.

Temos uma pretensa vontade de agilizar as decisões, e isso atrapalha nossa gestão das finanças. As decisões, quando feitas de forma impetuosas, usam atalhos mentais, chamados de heurísticas que nos levam a questionar as atitudes: “Como fui fazer isso?”.

Escolhas precisam de renúncias e nossos cérebros foram programados para nunca perder uma oportunidade de prazer imediato. Faz poucas décadas que o comportamento econômico é estudado, mas há milhares de anos as pessoas vivem e consomem de forma imediatista. A ideia de longevidade e a gestão do dinheiro são realidades dos nossos dias atuais. Algumas vezes entramos no piloto automático e agimos sem pensar direito.

E não existem fórmulas mágicas para aprender a gerenciar nosso dinheiro. Precisamos aprender a controlar nossos comportamentos e compulsão. Uma dica de ouro: nunca compre na hora, dê uma volta, peça opinião de outras pessoas e ouça honestamente conselhos de pessoas em quem você confia.

Avalie se não está caindo em uma pegadinha emocional ou justificando sua compra para compensar algum sentimento. Tenha planejamento e calma. Lembre-se da máxima: “SER” ao invés de “TER”! Busque ser alguém valoroso e não em ter bens que te façam ser mais admirado.

O dinheiro é meio e não fim em si mesmo. Use o dinheiro e valorize as pessoas, não o contrário. Poupe dinheiro, mesmo que aos poucos, tenha bons hábitos financeiros e não sucumba ao consumo.

(*) – Especialista em finanças e comportamento do Sistema Ailos (https://www.ailos.coop.br/).