Helio Hideo Sugimura (*)
Grande parte das empresas e até mesmo dos educadores, apontam que a Indústria 4.0 está baseada em Inteligência Artificial, Realidade Virtual, Realidade Aumentada e em outros recursos que exigem muito investimento. Com isso, até mesmo grandes empresas têm postergado o início dessa jornada, pois acreditam que é um patamar inatingível, ou muito difícil de se atingir.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o Brasil melhorou quatro posições no Índice Global de Inovação (IGI), passando da 66ª. posição para 62ª. entre 2019 e 2020. O problema é que esse avanço no ranking, segundo o IGI, foi devido à queda mais acentuada da pontuação de outros países em relação ao Brasil, cuja pontuação também caiu.
Esse índice, que avalia 131 países, é divulgado desde 2007 pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Assim, o Brasil não consegue avançar tão rapidamente quanto poderia na jornada rumo à Indústria 4.0, ao passo que, se as empresas modernizarem suas linhas de produção por etapas, com casos de negócio consistentes, o caminho seria muito mais fácil.
No país, convivemos com setores que já atingiram um alto nível de inovação e de maturidade digital, como o automobilístico, farmacêutico e o de alimentos e bebidas, e com outros que estão apenas começando essa jornada, mas ambos enfrentam muitos desafios.
Esse é o caso do setor de agronegócio, que dispõe de tecnologia, mas muitas vezes não conta com conectividade, que é uma infraestrutura cara, para rodar as aplicações e entregar dados que vão medir a produção e gerar maior eficiência energética, entre outros índices.
. Começar pequeno, pensar grande – A ideia de que é obrigatório investir em recursos e em avançadas tecnologias na linha de produção é um mito. O que você precisa é entender o seu desafio e utilizar a tecnologia que de fato vai melhorar a produção e trazer retornos econômicos.
Para otimizar a produção e implementar a Indústria 4.0, devemos primeiro pensar na automação, dividida em quatro camadas: coleta de dados, visualização, análise e otimização. Por isso, é importante ter um chão de fábrica com coleta de dados e conectado e pensar nessa jornada no médio prazo. A partir da coleta de dados será possível entender como está o nível de produtividade atual, o nível de scrap e de perda de produção, por exemplo.
A partir dessa análise e da definição de indicadores, será possível identificar se a sua produção está performando mais ou menos em relação ao KPI definido anteriormente. Mas esse processo não acontece do dia para a noite.
. Para cada caso, uma solução – Muitas empresas procuram implementar novas tecnologias nas operações no caminho para a Indústria 4.0, com pouco estudo dos benefícios para a produção ou o retorno sobre investimento (ROI). Na verdade, o caminho deve ser o contrário: partir da coleta de dados, devemos criar um indicador de performance e, então, verificar se ao automatizar uma determinada linha, você terá uma redução de custos ou de tempo de produção, justificando, assim, essa jornada.
Muitas vezes a simples implantação de multimedidores para gerenciamento de energia pode gerar muito mais benefícios no curto e médio prazo, representando uma solução prática e viável. Apesar de não podermos dizer que o Brasil já entrou na fase da Indústria 4.0, o ponto positivo é que esse tema tem atraído muita atenção das indústrias e das instituições de ensino.
Então, a maioria das escolas de ensino médio, técnico e superior já oferecem disciplinas ou cursos com matérias voltadas para a manufatura avançada e, também, já temos oferta de cursos de pós-graduação. A
A parte acadêmica e as indústrias não estão paradas, estão procurando entender e colocando as questões de produtividade, conectividade e visualização da produção no seu radar, não esquecendo que a tecnologia é uma ferramenta e não o objetivo para atingir a Indústria 4.0.
(*) – É Gerente de Marketing da área de Automação Industrial da Mitsubishi Electric (www.MitsubishiElectric.com).