Walter Sanches (*)
Nós, que trabalhamos com tecnologia, enfrentamos situações desafiadoras todos os dias. Para alcançar o status de indústria 4.0 no Brasil, é mandatório pensar em soluções que nos ajudem dentro desse cenário de transformação digital. Porém, temos a ideia errônea de que a inovação está somente atrelada a alternativas que envolvem elevados custos. Não podemos nos prender ao que o mercado nos impõe e nos apoiar exclusivamente nas chamadas soluções de prateleira.
O clique acontece quando buscamos alternativas para viabilizar a implantação de novas ideias, afinal a verdadeira inovação pode estar em algo muito próximo de nós e ao mesmo tempo de baixo custo. E foi esse o insight que tivemos quando começamos um projeto usando um microcomputador Raspberry Pi, que possui todos os principais componentes de um computador numa pequena placa do tamanho de um cartão de crédito.
Uma das finalidades mais comuns dadas ao Raspberry Pi é a de um videogame retrô caseiro. Muita gente usa o minicomputador para instalar emuladores de consoles antigos e, assim, ter à sua disposição games. Outras possíveis aplicações são na construção de uma central de mídia, projetos de IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas), de robótica e muitas outras. O limite é a criatividade.
Desde sua criação, o dispositivo evoluiu por quatro gerações. Segundo o co-fundador da Fundação Raspberry Pi, Ebert Upton, foram vendidas 30 milhões de unidades do dispositivo desde o lançamento comercial em fevereiro de 2012. O número superou – e muito – a estimativa inicial do próprio Upton, que previa vender 10 mil unidades.
Mas de onde surgiu essa ideia de trazer esse tipo de tecnologia doméstica, de baixo custo, para dentro de uma grande indústria transformadora de Cobre? Inovar significa criar caminhos ou estratégias diferentes, inventar, sejam ideias, processos, ferramentas ou serviços. A
necessidade de inovar, modernizar, automatizar e promover efetivamente a transformação digital é grande, ainda mais quando se quer ser uma das poucas a ingressarem no conceito de Indústria 4.0 no Brasil e cujo fundador foi o engenheiro Salvador Arena, um reconhecido visionário que apostou na criatividade para solucionar problemas.
Como ele acreditava que a inovação estava nos aspectos mais simples, isso pode ter nos ajudado a virar a chave. Como temos investido IOT e em soluções de apontamento real, em automatização e na cultura orientada a dados para tomada de decisão, tínhamos uma necessidade de coletar informação na ponta.
De forma bem resumida: antes, para se obter informações da máquina, uma pessoa ia até a fábrica, plugava um dispositivo na máquina, copiava os dados e levava para um computador, aí sim tudo era analisado, comparado e disseminado.
E quando alguém necessitava de um gráfico, era preciso imprimir e levar esse papel até a ponta. Precisávamos resolver isso. Já investimos bastante na implementação de tecnologias, das mais simples às mais avançadas para sermos uma Indústria 4.0 no Brasil. Temos aqui um time que operacionaliza, que cuida do transacional e zela para que tudo funcione do jeito que tem que ser.
Também contamos com um grupo de jovens gênios, apaixonados por tecnologia e por criar, que trouxe para dentro de casa essa mentalidade de startup, que é conceito de TI moderna e que apoia muito a transformação digital. E foi isso que prevaleceu quando fomos buscar o Raspberry como saída.
Essa solução pequena e com hardware de baixo custo, porém com excelente capacidade de processamento, também conta com interfaces digitais e analógicas de entrada e saída, o que garante ao dispositivo inúmeras aplicações, que vão desde tarefas simples de automação (como interação com sensores e atuadores) até a execução de sistemas complexos desenvolvidos nas linguagens mais comuns.
Há de se destacar ainda a possibilidade de implementação de medidas eficazes de segurança necessárias em ambiente corporativo, pois se trata de um aparelho que trabalha com sistemas operacionais baseados em Linux. Desta forma, o Raspberry PI atendeu totalmente a nossa operação e está funcionando muito bem. Ele é usado em três frentes: como interface para o operador lançar as informações da produção; e para conectar as redes, pois com um aparelho como esse integrado à máquina, a informação vai direto para rede, o gráfico é gerado e enviado para quem está lá do outro lado da planta – sem precisar imprimir mais nada.
E por último, o aparelho atualiza os dashboards e servem para trazer dados sobre a operação, quanto material foi movimentado. Processos fundamentais em termos de Indústria 4.0 no Brasil e no mundo. Isso só enfatiza que a habilidade de pensar diferente impacta no processo de transformação digital. O grande pulo do gato foi: identificar a necessidade, enxergar a oportunidade, encaixar a solução. Aprendemos que as aplicações seguem a imaginação e, mais uma vez, reforçamos que a inovação está onde menos esperamos e é mais acessível do que pensamos.
É possível adentrar na indústria 4.0 no Brasil sem ficar trocando de tecnologias e fazendo altos investimentos.
(*) – É Superintendente de Tecnologia da Termomecanica, líder no setor de transformação de Cobre e suas ligas (www.termomecanica.com.br).