Alan Kardec (*)
Em abril deste ano, escrevi sobre o protagonismo do Brasil na utilização da tecnologia blockchain para formatação da estratégia do até então Real Digital, e naquele momento, já existiam sinais claros de que o “dinheiro de papel”, para melhor entendimento, perderia de vez o seu protagonismo e importância nas transações econômicas e na sua presença na política monetária nacional.
Recentemente, o Banco Central do Brasil (BC) anunciou a “grife” do Real Digital, futuro “dinheiro puramente digital do Brasil”, o Drex.
Essa é uma das iniciativas do BC para promover a eficiência dos mercados financeiros e a inclusão financeira. O Drex é um ecossistema de registro distribuído (em inglês Distributed Ledger Technology – DLT), no qual intermediários financeiros regulados converterão saldos de depósitos à vista e em moeda eletrônica em Drex, para que os seus clientes tenham o acesso a vários serviços financeiros inteligentes.
Tudo baseado no conceito das CBDC’s (Central Bank Digital Currency), um tipo de moeda digital emitida e garantida por um banco central, que em sua essência, é uma representação digital da moeda fiduciária (“dinheiro de papel”) do país e serve como um meio legal de pagamento.
Neste sentido, o Drex (Real Digital), é totalmente diferente das criptomoedas como o Bitcoin, Ether e BNB, assim como das criptomoedas estáveis (stablecoins) que são emitidas por entidades privadas. As CBDC’s surgem como uma inovação para modernizar o sistema financeiro público e responder ao crescimento das moedas digitais atreladas às políticas monetárias de países que adotam esta característica.
O Drex será representado como uma unidade digital específica que pode ser transferida entre partes sendo mantida em contas diretamente no BC ou em bancos comerciais que têm acesso e façam parte do seu ecossistema.
Entre as características que ampliam a melhoria da política monetária estão a eficiência do sistema de pagamentos, a redução de custos transacionais, o combate as atividades ilegais (por meio de rastreio de transações), a promoção da inclusão financeira e a garantia da soberania monetária frente ao crescimento de CBDC’s pelo mundo.
Portanto, não estamos falando de criptomoedas, muito menos dos seus modelos de negócio baseado na especulação e flutuação cambial. As criptomoedas, totalmente diferente das CBDC’s, são um tipo de “moedas digitais” (BTC, ETH, BNB…) ou virtuais que também utilizam a tecnologia blockchain, mas não são emitidas por Bancos Centrais, pois sua essência é descentralizada, e pode ser “emitida” por qualquer pessoa detentora de conhecimento destas tecnologias.
O Drex contribuirá com a maneira de como o BC implementará sua política monetária. E esse é o ponto central desta iniciativa. E por isso, entendo que o momento é de “educar” o futuro consumidor de Drex a entender essas características para que sua adoção seja cada vez mais transparente e útil assim como a do seu “primo”, o Pix.
(*) É COO da Blockchain One, mestre em administração com foco na tecnologia blockchain, certificado em Sustainable Development Goals pela University of Copenhagen e especialista em tokenização de ativos descentralizados.