Essa é a época do ano em que especialistas do setor financeiro dão dicas para famílias liquidarem dívidas com o 13° salário e começarem o ano seguinte com melhor saúde financeira. Mas 2020 se mantém fora da curva nesse cenário também.
Grande parte precisa de mais do que essa parcela “extra” para voltar ao mercado de consumo: 30 milhões de brasileiros estão superendividados, o que significa que toda a renda deles está comprometida com dívidas, de acordo com estimativa realizada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Por isso, o Idec indica algumas medidas para auxiliar a organizar as economias dos brasileiros que estão endividados e querem começar o próximo ano com pé direito:
• Análise dos recursos: O valor do 13° salário é o suficiente para pagar todas as dívidas? Se não, faça um planejamento mínimo. Não decida o que fazer por impulso, escolhas erradas proporcionam resultados ruins.
• Negociação sempre: Não pague as dívidas sem acordo, é muito conveniente para os bancos destinar o pagamento de dívidas sem precisar revisar a correção dos juros. Na renegociação, avalie se vale a pena dar uma parte do 13° salário como entrada e parcele o saldo de acordo com a sua capacidade mensal de pagamentos e evite o parcelamento muito longo. Tanto para renegociar como para quitar, solicite um desconto.
• Moderação nas compras: Reserve uma parcela para a finalidade que irá proporcionar algum conforto emocional. O ano foi difícil, com o isolamento social e impossibilidade de viajar, seja criativo nos presentes, faça uma lista defina os recursos previamente, estimule o pequeno comércio se reinvente.
• Impostos do começo de ano: Ainda não é possível saber quando haverá uma vacina contra o coronavírus, mas com certeza as contas de IPTU, o IPVA, lista de materiais escolares e matrículas chegarão em janeiro. É provável que ainda por conta da pandemia, os materiais e a matrícula tenham alguma adequação em função do distanciamento social, mas eles terão um custo. Então reserve uma parcela ou defina o que for mais estratégico conforme sua necessidade.
• Se possível, reserve: Se o objetivo for guardar parte do 13° salário, busque as opções de investimentos mais adequadas a cada realidade. Se for um iniciante, busque ativos conservadores e informe-se previamente. É importante aumentar a reserva emergencial.
• Criatividade: Para quem já recebeu antecipadamente o 13° e gastou a solução é utilizar os recursos não financeiros (habilidades, disponibilidade de tempo, experiência vivida, capacidades e saúde) para se reinventar.
“O difícil ano de 2020 está chegando ao fim, não como esperávamos com o fim da pandemia, mas com muitos desafios financeiros, psicológicos e sociais com impactos profundos no cotidiano das famílias. Por isso, esse é o momento de olhar com cuidado para as finanças, para o destino do 13°, para tentar começar o ano com um pouco mais de planejamento”, explica a economista do Idec, Ione Amorim.
Cenário:
Segundo dados da última pesquisa do CNC (Confederação Nacional do Comércio), em novembro, 25,7% das famílias brasileiras declararam estar com dívidas em atraso, um ponto percentual acima do registrado no mesmo período em 2019. Para as famílias com renda até 10 salários mínimos, o cenário é ainda pior: são 67,4% delas afirmam estar endividadas. Em novembro de 2019, essa proporção foi de 65,9%.
Ainda segundo o CNC, 11,5% das famílias que têm dívidas em atraso declararam não ter condições de pagá-las. Ou seja, permanecerão inadimplentes. Em 2019, esse indicador estava na faixa dos 10,2% em novembro. E o tempo de atraso das famílias em sanar dívidas acima de 90 dias, que vinha caindo desde antes da pandemia, registrou crescimento a partir de agosto.
Há uma solução mais eficaz? – O Idec lançou em outubro um movimento para pressionar deputados a votar o Projeto de Lei 3515/15, com a atualização do CDC (Código de Defesa do Consumidor) ao incluir no material um capítulo sobre prevenção e tratamento do superendividamento. A petição online criada pelo Instituto registrou mais 1,5 mil assinaturas.
“A ideia, ao pressionar o governo para votar com urgência a proposta, é evitar que essa crise econômica decorrente da pandemia do coronavírus contribua ainda mais para o endividamento das famílias brasileiras, o que trava a capacidade de consumo, afetando, por consequência, as empresas e o comércio. É um perverso círculo vicioso que estrangula o desenvolvimento do país”, comenta Teresa Liporace, diretora executiva do Idec.
O Projeto 3515 propõe a regulação da concessão de crédito, aumento da transparência e prevenção do endividamento com regras para a publicidade, que precisa evidenciar os riscos sobre a contração de crédito, e garante melhores condições para negociação da dívida com as instituições financeiras. Fonte e mais informações: (www.idec.org.br).