Pedro Signorelli (*)
Os números oficiais do primeiro trimestre ainda não saíram, mas fazendo uma análise da situação pelas notícias que estão sendo veiculadas, é possível afirmar que apesar de alguns acreditarem que o cenário de demissões diminuiria em 2024, não é o que vem ocorrendo em muitas empresas, tanto do Brasil como de fora do país.
Google, Amazon Prime Video, Meta e Duolingo realizaram cortes ao longo dos primeiros meses do ano. Inclusive, o Duolingo, site e aplicativo móvel de aprendizado de idiomas, reduziu cerca de 10% de seus colaboradores e optou por utilizar inteligência artificial generativa para tarefas que antes eram realizadas por seres humanos.
Essa movimentação é cada vez mais preocupante, principalmente diante do aumento do uso da IA nos setores, é uma tendência crescente de automação. Claro que sempre existiu o medo de sermos substituídos por máquinas, mas ao vermos isso acontecer por algo que nem é físico parece ser pior ainda, já que não estamos vendo de onde está vindo a ameaça.
Toda nova tecnologia gera impactos e pode resultar em demissões, porém, é necessário que as companhias estejam preparadas para cenários como o que estamos vivendo agora, onde cada vez mais ferramentas e recursos tecnológicos ganham destaque. Afinal, não me parece razoável não aproveitar os benefícios de uma IA, por exemplo. No entanto, as organizações também demitem diante de outros fatores, que podem não estar relacionados à tecnologia.
Algumas enfrentam momentos de instabilidade financeira e optam por fazer cortes no quadro de funcionários para conseguir que o dinheiro sobre e assim possam investir em outra coisa. Duro, mas é a realidade. Por outro lado, um levantamento feito pelo Sebrae, com base nos dados do Caged, mostra que, no Brasil, os pequenos negócios geraram 52% mais empregos em janeiro de 2024 se comparado com o mesmo período de 2023. Foram 112 mil vagas contra 74 mil no ano passado nas micro e pequenas empresas.
Nestes casos, temos um paralelo interessante. Enquanto grandes empresas vivem um momento de demissões, mesmo que não seja em grande escala, companhias menores estão com espaços disponíveis e focadas na geração de oportunidades de trabalho, a partir da disponibilização de vagas. É claro que a realidade dessas empresas muda conforme o tamanho de cada uma, mas precisamos pensar: o que pode estar fazendo a diferença?
A gestão. Uma direção forte e sólida consegue tirar forças da navegação por ondas turbulentas. Um plano de gestão bem desenhado, consolidado, entendido por todo o time, minimiza impactos iniciais. Claro, nem sempre temos isso, especialmente em pequenas empresas, o que seguramente temos é o senso de dono.
A gestão do negócio é feita em rédea curta, coisas que vemos com menor frequência em grandes empresas. Nestas, vemos lindos PowerPoints com planos ambiciosos e que tem pouco lastro. Quando se usam os OKRs – Objectives and Key Results (Objetivos e Resultados Chaves) – devidamente, também há planos ambiciosos, e até por isso se usa melhor os recursos e, lógico, nem sempre o plano vai dar certo.
O fato é que há muita espuma em torno deste tema da IA, não sabemos muito bem como explorar o potencial dela, e as grandes empresas pecam muito em seu processo de inovação, e acabam desperdiçando muito tempo e dinheiro nesta fase de descoberta, o que pode não ser tão positivo quanto pensam.
Neste sentido, se os OKRs forem aplicados devidamente, parte dos riscos inerentes ao processo de inovação seriam mitigados, pois se pensaria no resultado adequado a cada etapa deste funil, pensando nos indicadores chave que nos mostram que estamos no caminho certo.
(*) – É especialista em gestão, com ênfase em OKRs (http://www.gestaopragmatica.com.br/).