Alessandro Buonopane (*)
Transformação digital é um processo em constante evolução. Não importa o ramo de atuação, a evolução da tecnologia impõe novos parâmetros e oportunidades todos os dias mundo afora. Embora ainda estejamos apenas arranhando a superfície da Inteligência Artificial (IA), a “queridinha” do momento perante empresas e negócios, especialistas já olham para o que pode ser a nova onda. No setor bancário, o termo “Bancos Quânticos” é uma das bolas da vez.
Como o nome sugere, trata-se do conceito que combina os princípios da computação quântica com operações bancárias. A ideia central envolve o aproveitamento das tecnologias quânticas para revolucionar vários aspectos dos serviços bancários e financeiros. Segundo um relatório da IBM, determinadas ações e operações das instituições seriam rapidamente impactadas:
- Otimização de negociações
- Elaboração de perfis de risco
- Direcionamento e previsões
- Recomendações de produtos
- Gerenciamento de portfólio
- Pontuação de crédito
- Detecção de fraudes
- Prevenção de lavagem de dinheiro
- Previsão de crises financeiras
Mais do que uma evolução da computação clássica, a quântica permite uma alta velocidade de processamento de dados e informações, criando oportunidades e resultados até então considerados impossíveis.
As interações entre moléculas, atos e partículas subatômicas, muito minúsculas e rápidas, fazem parte da física quântica, esta a força teórica do que a computação quântica pode oferecer para múltiplos setores. Porém, especialistas veem o mundo bancário e financeiro na dianteira. Um estudo da McKinsey corrobora essa análise.
Os bancos estão no topo quando os temas envolvem investimentos em tecnologia e bases de dados gigantescos e robustos. Com o apoio de uma tecnologia como a quântica, projeta-se o aumento da otimização de produtos, serviços e interações com os clientes, com maiores usos preditivos voltados ao mercado de ações e de empréstimos, além da redução de riscos de toda a ordem, tudo graças à alta velocidade de processamento de cálculos complexos.
Desta forma é que avaliações de risco para crédito (com informações mais precisas sob perfis), ou a precificação de ativos – para ficar em apenas dois exemplos – podem ser impactadas de maneira decisiva para os bancos e instituições financeiras que possam abraçar a computação quântica.
Já há trabalhos em andamento: Goldman Sachs, JPMorgan e HSBC iniciaram as suas primeiras iniciativas com essa nova tecnologia. No Brasil, Itaú e Bradesco trabalham para desenvolver as suas próprias soluções na área. Até mesmo a IA e suas propriedades ímpares será impactada diretamente pelos supercomputadores quânticos necessários para rodar todo esse ecossistema.
Como toda evolução, contudo, há algumas barreiras e desafios a serem vencidos. Enquanto os mais otimistas acreditam que até o final desta década será possível vermos “Bancos Quânticos” com aplicações comerciais viáveis, há aqueles que pedem cautela. Para começar, é preciso levar em conta que um computador quântico, apesar de poderoso, é muito sensível e instável.
De variações de temperatura à pequenos tremores e vibrações, eles podem perder as informações que carregam tão rápido quanto realizam cálculos impressionantes. Não por acaso, atualmente o hardware desse tipo de computador é armazenado em refrigeradores com temperatura próxima do zero absoluto, o que ajuda a garantir que os qubits (que supera a lógica binária do bit de vale um ou zero) permaneçam estáveis.
Entretanto, nem todos os equipamentos funcionam em condições tão frias, o que impõe um custo bastante alto para a construção de uma arquitetura quântica operativa e funcional. Muito da aplicação futura com elementos quânticos vai depender não só de investimentos pesados, mas também da evolução de máquinas e condutores que dão suporte a esses supercomputadores.
Além disso, como acontece a cada nova revolução tecnológica, o bom uso também pode vir acompanhado da utilização nociva. A computação quântica tem a capacidade de quebrar muitos dos algoritmos de criptografia que são usados hoje para proteger o ambiente digital. Por isso, todos os bancos e instituições financeiras que dependem de algoritmos de criptografia de chaves públicas tradicionais são vítimas potenciais de um ataque tão logo a computação quântica com criptografia relevante fique disponível.
Por outro lado, enquanto os riscos de segurança se postam como um possível entrave, a segurança digital pode receber um impulso positivo, com o desenvolvimento da tecnologia de criptografia quântica, que é inquebrável por computadores clássicos e permite proteger dados confidenciais de clientes e instituições financeiras contra ataques cibernéticos.
Essa evolução também pode ser considerada uma medida preditiva contra os chamados ataques de descriptografia retrospectiva (quando um criminoso coleta dados criptografados para descriptografá-los quando a tecnologia quântica estiver acessível. Aqui também se impõe a necessidade de mão de obra especializada, o que significa mais investimentos em profissionais que possuam noções tanto de computação quântica quanto de finanças.
Como se vê, muitos dos desafios que se impõem diante do imenso potencial da computação quântica no ambiente financeiro e bancário em muito lembram o que se teorizou durante décadas em torno da IA, que está entre nós com cada vez mais relevância. É possível prever a necessidade de considerações regulatórias a cada nova etapa que virá – no ambiente financeiro bancário, estamos falando de novas questões em torno da privacidade dos dados, à segurança e ao potencial acesso desigual às tecnologias quânticas.
Como um líder otimista que sou, aposto que as organizações que investirem nessa tecnologia no presente poderão se destacar no futuro, com a oferta de produtos e serviços inovadores, personalizados e mais eficientes para seus clientes. Os primeiros trabalhos experimentais estão em andamento e o potencial será sentido mais cedo do que eu ou você imaginamos. Até porque a transformação digital não para: ela apenas muda de marcha.
(*) – É CEO Brasil da GFT Technologies (https://www.gft.com/br/pt).