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Como sobreviver às incertezas dos próximos anos?

em Destaques
terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Sigrid Guimarães (*)

Você anda angustiado diante das incertezas da economia e do mercado? Tem vasculhado as previsões, ávido por indicações de operações e ativos capazes de protegê-lo das intempéries anunciadas? Se a sua resposta é sim, é para você que eu escrevo. Não gosto nem me convém criar falsas expectativas.

Portanto, esclareço desde logo: não tenho solução para a incerteza; nem a previsão e nem a dica de ouro. Meu assunto não é tanto ela – a incerteza –, mas a angústia derivada da nossa impotência diante do que desconhecemos.

Convenhamos: passamos por uma pandemia inédita, vivendo uma revolução de costumes sem precedentes, sob o domínio de tecnologias utilíssimas, mas que retiram de nós a presunção de controle e nos inundam de informações contraditórias, e, ainda, em meio a um ambiente político nacional e mundial conturbado, com direito à explosão de uma guerra de grande impacto quando todo mundo estava olhando para outro lado.

Bem, nessas circunstâncias qualquer um está propenso à angústia. O problema é deixar-se dominar e tomar decisões para aliviar-se dela fazendo “alguma coisa”, e não para responder a um problema objetivo. Parto sempre do princípio da incerteza, mesmo quando o céu parece de brigadeiro e todos os analistas anteveem um futuro promissor. A natureza aflitivamente instável da vida, e, por consequência, da economia e do mercado, é a base, surpreendentemente estável, da filosofia de investimento que sigo.

As oportunidades, quer de avanço, quer de retrocesso, são companheiras de quarto na incerteza. Pretender adivinhar o comportamento do mercado a cada momento é só uma forma bem perigosa de se enganar, mais ou menos como acreditar que é possível acertar continuamente no cara ou coroa. A boa notícia é que você não precisa e nem deve entregar-se a um jogo de azar apostando contra a incerteza, mas pode avançar sobre ela tendo seus recursos sempre preparados para o imprevisível. Então, foque naquilo que você conhece e pode fazer.

Minha sugestão para 2023 – e para todos os anos – é um checklist básico das condições para atravessar o desconhecido com a maior tranquilidade possível (é claro que muitas outras medidas podem ser necessárias segundo o seu caso específico). Esse pequeno roteiro abaixo pode ajudá-lo, inclusive, a identifica-las:

  1. Você tem noção exata do volume e da distribuição do seu patrimônio?
  2. Seus gastos anuais, considerando despesas recorrentes, não recorrentes e imprevistos pessoais estão dimensionados com precisão? (tenha em mente também responsabilidades contratuais que você possa vir a ter que assumir)
  3. Você dispõe de uma reserva líquida, investida em renda fixa com o menor risco de crédito possível, suficiente para as despesas de, no mínimo, três anos?
  4. Seus recursos excedentes a essa reserva estão diversificados em múltiplos ativos de renda variável com bons fundamentos para obter resultados a médio e longo prazo?
  5. Seus investimentos em renda variável estão sob a gestão de diferentes especialistas, todos experientes, bem reputados, comprometidos (realmente, comprovadamente comprometidos) com uma política de investimento de longo prazo e estratégias que você é capaz de compreender?

Se você titubeou no item 1, consulte suas declarações de renda nos últimos dois anos, ponha tudo em uma planilha, distinguindo investimentos financeiros, imóveis e renda líquida, e faça uma análise observando rendimentos passíveis de cessar, como alugueis, salários, lucros e proventos sujeitos a redução ou suspensão.

Se a pergunta do item 2 fez você coçar a cabeça ou o queixo, consulte os extratos bancários dos dois últimos anos e considere a possibilidade de novas despesas emergenciais. Seja realista, não arredonde para baixo. Pode ser um choque, mas o resultado é a realidade, a certeza que você pode ter e pode administrar. É bem melhor do que conviver com fantasmas.

Se o item 3 obrigou você a concluir que as despesas ultrapassam a renda, analise os gastos objetivamente. É possível que alguns cortes indolores resolvam o problema e, talvez, até façam bem a você e a sua família. (Não é raro que a liquidação de um bem imóvel sem muito uso ou com baixa rentabilidade seja a solução.)

Se, ao chegar ao item 4, você concluiu que não há recursos excedentes, volte ao item 3. Se os recursos existem e estão investidos como recomendado, passe ao item 5. Caso você não possa responder afirmativa e desassombradamente a ele, sua resposta ao item 4 é temerária e deve ser reformulada.

Se você não se julga capaz de lidar com tudo isso, aceite o fato sem culpa e procure ajuda especializada. Por fim, se você pôde responder sim com segurança a todos esses itens, esteja atento a manter sua reserva de liquidez e as proporções dos seus investimentos, transferindo recursos dos mercados em alta para os mercados em baixa ao menos uma vez por ano.

Faça o que precisa ser feito, durma e acorde tranquilo, cuidando do que está ao seu alcance, a começar por você mesmo. Excelente 2023!

(*) – É sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial (https://alocc.com.br/).